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Como joga o Boca Unidos, adversário do River pela B Nacional

O duelo deste sábado, 03 de dezembro entre Boca Unidos e River Plate apresenta algo conhecido e algo estranho para o conjunto de Nuñez. O conhecido é a festa que os torcedores locais já estão fazendo não de hoje, mas desde que o Millonario caiu para a B Nacional. Essa festa é tão significativa que tem contaminado os próprios clubes locais que recebem o River. Foi assim em Puerto Madryn, diante do Brown e foi assim em Alta Córdoba, diante do Instituto. Os rivais do River, que muito prometiam, acovardaram-se, desapareceram da cancha e praticamente permitiram ao Millionario que ditasse o rumo do espetáculo. Mas, como dissemos, há algo estranho nesse confronto. Trata-se de uma postura já assumida, do clube e dos torcedores, de não oferecerem ao El Más Grande as mesmas facilidades que encontrou nos jogos citados acima. Isso é novo para os comandados de Matías Almeyda; é um fenômeno que aparece pela primeira vez nesta B Nacional. Não que o River tenha medo da equipe de La Ribera correntina. Mas não dá para negar que tem de fato muitas razões para se preocupar. Vejamos a situação, mas antes uma pequena apresentação do clube.

Convém alertar aos desavisados que o nome da instituição não se deve à influência do Boca Juniors. Tem a ver com o fato de que a equipe foi fundada na desembocadura de um rio por alguns jovens correntinos. Hoje a equipe é uma das três mais importantes da província, as outras são Textil Mandiyu e o Huracán Corrientes. Rivais históricos do Aurirrojo e hoje insignificantes perto do adversário do Millio. O Huracán é de longe o mais conhecido e popular da província. Isso porque foi o único do lugar que esteve no futebol de elite. Hoje atua nas ligas regionais e não é sombra do que foi.

Vale dizer: o Globo desaparecia na proporção exata em que o Boca Unidos surgia para os principais palcos do futebol. Todavia, uma coisa não tem a ver com a outra. O fato é que enquanto o Huracán aprofundava sua administração amadora, seu rival crescia no sentido inverso: ampliando o profissionalismo de sua gestão e tendo no seu comando pessoas competentes e com ideias avançadas. Noção disso é dada pelo fato de que o clube tem dois treinadores no seu comando. Isto ocorre desde a saída do treinador Juán Amador Sánchez. O crescimento do clube foi tão vertiginoso que na temporada 2006/07 ainda estava no Torneio Argentino B, a quarta divisão do futebol do interior. Em 2009 já estava na B Nacional. Agora é um dos primeiros colocados dessa competição.

Outra marca assustadora desse progresso é que ainda não deu tempo para que a estrutura do clube acompanhe o “novo” Boca Unidos. Sem estádio próprio (que está em construção) o jeito é atuar na cancha do Huracán. Efeito disso são os vários problemas para administrar. Mesmo que ganhe com o aluguel, a direção do Globo não facilita a vida do rival; pelo contrário. As acomodações vão de mal a pior e mesmo os vestiários, em dias de jogo do Aurirrojo, curiosamente não tem água. Mas é no gramado que a “ofensa” aparece. Embora o aluguel não seja nada barato, os de La Ribera precisam fazer esforços gigantescos para poder melhorá-lo. A direção do Huracán empresta o estádio para shows, para jogos de casados contra solteiros e muitas outras coisas inacreditáveis. Tanto é assim que para se deparar com o Independiente Rivadávia, duas semanas depois do show de Ricardo Arjona, o gramado estava um pasto só, mesmo depois de várias melhoras dos dirigentes do Boca. A solução poderia estar em atuar na cancha do Sarimento de Resistência, o estádio mais moderno do Nordeste argentino. Porém, os cartolas do clube sustentam que não podem ir a outra província (Chaco) para não submeter seus torcedores a ficarem sem o clube, nos dias em que ele vive momentos de glória. Então, o jeito é apressar a construção do estádio próprio, atitude que tem sido implementada, apesar das dificuldades de qualquer clube do interior do país.

Como joga a equipe

O conjunto correntino costuma variar bastante sua forma de jogar. Em geral, quando atua como visitante, costuma se resguardar um pouco mais que quando atua em Corrientes. Em casa, dificilmente muda a forma de jogar. Nesse caso, utiliza um esquema com três homens na defesa, quatro no meio-de-campo e dois no ataque. Esse sistema varia por vezes para um 3-5-2. Esquema com o que o River Plate deverá se deparar no jogo em Corrientes. O fato é que tanto no 3-4-3 quanto no 3-5-2 fazem da equipe um time ofensivo. Quando utiliza o primeiro (3-4-3), Cristián “el Negro” Núñez atua como mais um homem de frente. Curioso falar isso para quem conhece um pouco “el Negro”. Em geral, imagina-se o atacante como aquele brutamontes que fica estático na frente jogando por uma bola. Longe disso. E esse é um dos segredos do time de Corrientes.

Cristian Nunez é aquele jogador que depende muito do físico para atuar bem. No memento sua condição física é boa e só não é melhor que sua fase, que é ótima. A função de pivô Núñez exerce com maestria, como poucos. Contudo, exerce outras funções. Ele volta, arma e faz gols. Quando volta, recompõe a articulação a partir do balão do meio-de-campo. Impressiona os passes que têm saído de seus pés para os atacantes. Impressiona pela qualidade e pelos resultados; o jogador é um dos líderes de assistências para gol na equipe.

Desloca para os lados do campo e abre passagem para Benítez (ou Gómez) e Elvio Fredrich chegarem ao ataque. Ao ocupar o lugar de Fredrich praticamente troca de posição com o meia-armador. Núñez também é veloz e tem facilidade no jogo aéreo. No time, é quem apresenta maior frieza diante dos porteiros rivais. Outro ponto importante é que as defesas adversárias não cansam de tomá-lo como a referência na área e permitem que Visconti faça os gols. Isso é muito comum nas cobranças de escanteio, quando a grande preocupação recai sobre “el Negro” e a marcação sobre Visconti fica enfraquecida.

A partir disso, fica fácil entender a outra forma de jogar dos aurirrojos, com três zagueiros, o 3-5-2. Nesse caso, Núñez formalmente vira um homem de meio-de-campo. A opção pelo 3-5-2 e não pelo 3-4-3 talvez se deva ao fato de que esse esquema parece a melhor diante de uma defesa confusa como a do River. Nesse caso, Gonzalo Ríos deve atuar no ataque junto com Visconi ou Luís Medero, que é menos eficiente que Ríos, porém mais habilidoso.

Outro segredo da equipe correntina está no meio-de-campo. Ele é formado com Danelón e Sánchez Paredes na contenção e proteção à zaga. Essa dupla dificilmente abandona a posição e faz bem seu papel. Porém, é sobrecarregada em razão da ineficiência defensiva dos defensores. O grande articulador da equipe é Benítez, canhoto inteligente e dono do setor. No seu lugar deverá atuar Gómez, que não tem a mesma qualidade do titular, mas que pensa o jogo com a mesma velocidade. Entrando Gómez, então Medero (ou Ríos) sai da equipe e na frente jogarão Núñez e Visconti.

Compondo o meio-de-campo, pela direita, está Devallis. Trata-se do homem da bola parada. Como tem um bom chute, arremata de fora da área e de longa distância. Perto ou longe da área lança com facilidade as bolas aéreas para “el Negro” fazer o pivô. Se o River quiser vencer, terá de bloquear essa jogada mais que quaisquer outras. Compondo o setor pela esquerda está Fredrich. Como dissemos acima, ele avança sempre que Núnez cai para o flanco esquerdo. Essa situação também merece atenção da retaguarda millionaria.

Em geral, a equipe pratica os dois-toques e sempre procura por “el Negro”. Nesse esquema de cinco meias, vai ser constante a projeção dos armadores. O elenco é bastante obediente taticamente, se desdobra em campo e joga com raça na busca da vitória. É um dificílimo adversário para o River. Contudo, tem alguns defeitos que os comandados de Almeyda poderão explorar.

Apesar de o ataque ser bastante organizado e criar várias situações de gol, a pontaria é um grande problema do Boca Unidos. Isso obriga a equipe a criar muito durante o cotejo. Como a entrega é forte também para a marcação, o elenco em geral perde condição física nos minutos finais. Esse fato não tem sido decisivo para as derrotas e, apesar dele, o conjunto correntino até que tem resolvido algumas partidas no final. Mas, há um outro problema e, esse sim, seríssimo.

Se há uma lacuna que o Boca Unidos ainda não preencheu é a sua defesa. Não há esquema que dê jeito no problema. A defesa é fraca, marca por zona, mas sem nenhuma noção de aproximação e deslocamento. Não tem antecipação e é desatenta. É lenta e tem uma tendência a oferecer pouco combate. Lembra muito aquela história do bom atacante que pega a bola e vai para cima da zaga. No lugar de dar combate ela simplesmente recua e oferece o campo para o avanço do atacante.

Em função de ter pouca mobilidade, a defesa correntina costuma se dá mal com um ataque de jogadores rápidos. A bola aérea é uma festa, o que obriga o porteiro Sassa a se expor em demasia nas saídas do arco. Uma cobrança de córner fora da pequena área já basta para levar perigo. Da mesma forma que aquelas cobranças no primeiro pau em que alguém dá uma casquinha para o companheiro atrás ou raspa diretamente para as redes. Em relação à sua defesa, o Boca Unidos nada deve às equipes das últimas categorias do ascenso. Em outras palavras, observar a atuação da defesa do Boca Unidos é relevante, pois ela dá uma verdadeira lição de como um time não deve exercer sua marcação.

Até por causa disso é que seus treinadores decidiram que não vale a pena apostarem em um esquema defensivo. Todas as vezes que fizeram isso o time perdeu. Foi assim até mesmo diante do fraco Guillermo Brown. Não teria por que não ser ainda pior diante do River Plate.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

5 thoughts on “Como joga o Boca Unidos, adversário do River pela B Nacional

  • carlos eduardo

    Que espírito palmeriense tem esse huracán heim. Não entendo muito desse negócio de esquema tatico mas entendi que o riBer vai apanhar feio amanhã, né? bem feio, acha que continua grande na segunda divisão, amanha começa a queda definitiva para a terceira.

  • Lucas Castro de Oliveira

    Acho que meu time ganha, nada mais a falar do assunto ai de cima. sobre o texto eu achei esclarecedor, quando eu leio essas coisas fico achando que eu nunca vou ser um critico esportivo, pois ão muitos os detalhes que eu não consigo ver.

  • Elsio Limoeiro Filho

    Caro Joza. Mais uma vez você se superou. Excelente análise para quem não conhece o “Bocunidos”. Só que do outro lado, se jogar direitinho, o River ganhará com mais uma goleada.

  • João Carlos

    Pô, fazer jogo de casado contra solteiro em um estádio de futebol? Até onde vai a rivalidade. Talvez seja por isso que esse Huracán ficou tão pequeno.

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