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Estudiantes: uma reedição de 2009?

Para quem não acompanha o futebol argentino de perto, a grande referência do Estudiantes é a incrível virada que a equipe aplicou no Cruzeiro em pleno Mineirão na decisão da Libertadores de 2009. E com outro confronto entre ambos pelo torneio continental, é inevitável a pergunta: o Estudiantes que virá em 2011 é o mesmo de 2009?

Em parte sim. Dos 11 jogadores que começaram aquela histórica decisão 7 jogaram pelo Estudiantes na última sexta-feira contra o Newell’s Old Boys: Desábato, Ré, Braña, Verón, Perez, Benitez e Fernandez. O goleiro Andujar foi para o Catania, Cellay para o Boca Juniors, Schiavi para o Newell’s e Boselli para o Wigan. No entanto, as aparências enganam: o Estudiantes de hoje tem importantes diferenças em relação à equipe de 2009.

E nem tanto pela saída do treinador Alejandro Sabella. Na estréia do clube no Clausura 2011 a equipe se portou exatamente como no Apertura 2010, quando, comandada por Sabella, venceu o torneio com grande campanha. Ficou claro que, embora o novo treinador (Eduardo Berizzo) possa pretender modificar o estilo de jogo da equipe, não o fará imediatamente. E nem seria prudente mexer em uma estrutura vencedora na primeira semana de trabalho.

A grande mudança é em termos de postura. Em 2009 o Pincha venceu o Cruzeiro com um 4-4-2 relativamente tradicional, com laterais que quase não passavam do meio campo, dois armadores pelos lados (Perez e Benitez), um volante mais fixo (Braña) e outro que saía para o jogo e ditava o ritmo da equipe (Verón). Na frente, uma dupla formada por um atacante de movimentação (Fernandez) e um típico camisa 9 (Boselli). Essa equipe se sentia confortável esperando o adversário para buscar o contra-ataque, como fez no Mineirão, embora pudesse utilizar outros sistemas de jogo.

Atualmente, o Estudiantes possui outra característica. No papel, a equipe é bastante defensiva. Tem três zagueiros (Fede Fernandez, Desábato e Ré), dois alas com características de forte marcação (Mercado e Nelson Benitez), os mesmos volantes e meias de 2009 (Barrientos pode ser titular no lugar de Leandro Benitez contra o Cruzeiro) e um único atacante, Gastón “La Gata” Fernandez. Logo, o Estudiantes se transformou em uma equipe que povoa o meio campo com 6 jogadores, sendo 4 volantes e 2 meias.

No entanto os 3 zagueiros, 4 volantes, 2 meias e apenas um atacante não formam uma simples equipe defensiva. O Pincha de hoje se caracteriza pela forte marcação no meio campo. A equipe raramente permite que os adversários se aproximem de sua área. Tomam a bola no meio campo, mais perto do gol adversário, e contra-atacam com muita rapidez e facilidade. O que significa que, embora seja equipe caracterizada pela forte marcação, está longe de ser retranqueira, e possui um ataque muito eficiente. Além do avanço de Verón, o ala direita Mercado têm se sobressaído pela projeção ofensiva, e Enzo Perez tem mostrado grande eficiência para tabelar com Fernandez e marcar gols.

O que não mudou nada em relação a 2009 é a presença de Braña e Verón à frente dos zagueiros. A dupla de volantes é o centro de gravidade da equipe. Dificilmente são batidos na marcação, e quando o Pincha toma a bola, Verón se projeta para organizar o jogo como nenhum outro jogador sul-americano é capaz na atualidade. Qualquer que seja a estratégia dos adversários, ela terá de lidar com a imensa força do meio campo do Estudiantes.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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