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Ex-jogador do Deportivo Español é fotografado com arma em parque de Buenos Aires

Julio Carlos Capella segurando a arma no Parque Indoamericano

Na última sexta-feira, moradores de Villa Soldati, bairro de classe média de Buenos Aires,  tentaram expulsar à força sem-teto que se alojaram no Parque Indoamericano, localizado no bairro. Os sem-teto, na sua grande maioria imigrantes bolivianos e paraguaios, foram alvo de uma violência gratuita. O saldo dos confrontos foi trágico: três sem-teto perderam a vida, além de centenas de feridos.

O leitor do Futebol Portenho certamente deve ter pensado o que essa notícia tem a ver com o futebol. De acordo com o jornal Olé, um dos moradores que atacaram o acampamento dos sem-teto no parque foi um ex-jogador do Deportivo Español e atualmente é um dos líderes da barra do Huracán.

Julio Carlos Capella iniciou sua carreira de jogador em 1998 pelo Deportivo Español, clube que atualmente joga a Primeira B, que equivale à nossa Série C. Após dois anos de fracas apresentações, saiu do time dos “gallegos” e foi atuar no Tristán Suárez, que também está na Primera B. No time dos “leiteiros” também não foi aproveitado e foi tentar a sorte na Série C do campeonato italiano. Foi quando decidiu parar de jogar profissionalmente.

Segundo o Olé, Capella fez 11 jogos pelo Deportivo Español nas temporadas 1998/99 e 1999/2000. Foi titular em apenas três partidas. No Tristán Suárez fez oito jogos na temporada 2000/2001 e foi titular em seis ocasiões.

Capella como jogador do Tristán Suárez, segundo o Guia do Acesso do Olé de 2001

Mesmo afastado dos gramados, Capella prosseguiu vinculado ao futebol. Passou a frequentar a barra do Huracán, que está intimamente vinculada ao bairro de Villa Soldati. Foi quando conheceu a irmã de Claudio e Pablo de Respinis, líderes históricos da organizada do “Globo”. Com o prestígio em alta por conta dos cunhados, Capella passou a ser um dos líderes da barra e fez parte da caravana da HUA (Hinchadas Unidas Argentinas, ONG que reúne os barra-bravas) rumo à Copa do Mundo na África do Sul.

Ao contrário de seu primo Marcelo, que está no direito de admissão* do Huracán, Julio Carlos até o momento não apresenta antecendentes criminais em estádios, embora esteja informalmente vinculado aos incidentes de junho do ano passado no Tomás Adolfo Ducó. No jogo contra o Arsenal, houve uma briga interna entre várias facções de torcedores do Huracán que resultou em duas mortes.

O advogado de Julio Carlos, Rodrigo González, disse que seu cliente estava defendendo sua família de ladrões que estavam infiltrados nos sem-teto: “Tenho centenas de testemunhas que presenciaram isso e as paredes do prédio estão cheias de buracos de balas, porque a família do meu cliente foi atacada”. Já a polícia apresenta a versão de que os sem-teto representaria uma ameaça aos negócios pouco escusos controlados pelas barras do Huracán e do Español no bairro. Assim, Capella atacou os sem-teto para afastá-los de sua “área”.

Por qualquer que seja o motivo, é uma cena que ninguém gostaria de ver. Melhor seria se Capella estivesse brigando por um lugar em algum grande do futebol argentino.

*Direito de admissão é um princípio utilizado por donos de estabelecimentos públicos que se reservam o direito de determinar as condições e as pessoas que podem ter acesso ao recinto dentro de limites pré-estabelecidos.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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