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Grondona é reeleito

Ontem á noite, a assembléia da AFA seguiu o velho script e reelegeu Julio Grondona mais uma vez, sem candidato de oposição ou votos em contrário. Mais uma derrota do futebol argentino na forma de uma vitória para o poderoso chefão. No entanto, as circunstâncias da nova vitória foram diferentes das demais. Pode ter sido o último triunfo.

Para começar, ficou muito claro o tamanho e o poder dos inimigos de Grondona. Daniel Vila, do Independiente Rivadavia, e Fernando Raffaini, do Vélez Sarsfield, se dispuseram a enfrentar explicitamente o aparentemente vitalício presidente da AFA. Vila fez campanha aberta, colocando seu império midiático (o segundo do país) a serviço de uma campanha anti-Grondona. Raffaini buscou o caminho institucional, onde foi rapidamente bloqueado pela mafia grondonista, mas o fato de, em um primeiro momento ter conseguido os “avais” necessários para viabilizar-se também mostra algo.

Esclarecendo: para se candidatar à presidência da AFA, é preciso o aval de sete clubes votantes da assembléia. Evidentemente é uma forma de pressão, já que uma candidatura de oposição para existir necessita que esses clubes exponham abertamente seu desejo antes das eleições, o que dá tempo aos donos do poder para utilizar estratégias de intimidação. Neste ano Raffaini conseguiu os sete avais: do Velez, All Boys e Rafaela formaram o núcleo de apoio, além de outros quatro clubes do ascenso. A tropa de choque grondonista entrou em campo e conseguiu fazer com que os últimos retirassem o aval, garantindo a candidatura única.

Ao fim, Grondona conseguiu novamente ser o candidato único e se reeleger. Mas os sinais de insatisfação estão por todos os lados.

Entre os impérios de mídia o apoio ao chefão é escasso. O grupo Clarín, o mais forte do país, não perdoa o Futbol para Todos, sua associação com o governo federal para transmissão das partidas, que retirou da parceria do grupo com a TyC Sports o monopólio das transmissões. O segundo grupo, de propriedade de Vila, é ferrenho opositor. Um dos veículos de propriedade do presidente do Independiente Rivadavia é o canal América, que transmite o popular Show del Futbol. A cada noite de domingo o popular programa conduzido por Alejandro Fantino ataca o presidente da AFA sem piedade.

Vale lembrar ainda que a grande bandeira de Vila é a interiorização do futebol argentino, que interessa a muitos, e evidentemente foi a causa primordial da tentativa de virada de mesa efetuada pela AFA ao unir primeira e segunda divisão em um mega campeonato. Neutralizar a principal bandeira de seu opositor foi a origem de tal projeto, e não o desejo de ajudar o River, como pensaram os mais ingênuos (ainda que seja evidente que se esperasse o apoio da torcida milionaria). Uma ação de tamanha dimensão e tão arriscada mostra as preocupações de Grondona com essa oposição. O resultado foi politicamente desastroso, com o repúdio generalizado à novidade e a consequente volta atrás.

Parece claro que a grande estratégia grondonista de sobrevivência é o Futbol para Todos. O projeto aumentou as receitas dos clubes e o poder da AFA, agora responsável pela transmissão das partidas. Além disso, desfruta de popularidade, já que as partidas, antes transmitidas apenas por pey-per-view, agora são vistas por todos. Talvez o mais importante seja a associação com o governo federal, que vive o auge de sua popularidade, refletida na reeleição absolutamente tranquila que Cristina Kirchner deverá obter no próximo fim de semana.

No entanto, mesmo essa associação parece frágil. O governo federal parece desconfiar das vantagens da conexão com Grondona, e começa a emitir sinais de insatisfação, em particular com as dívidas dos clubes (a despeito do aumento da receita) e especialmente com a violência dos barra-bravas. Ontem a TV Pública deu destaque às denúncias contra Grondona veiculadas pelo canal C5N, o que foi visto como mais um sinal de que o kirchnerismo veria com simpatia a ascensão de uma oposição ao chefão da AFA.

E não se deve esquecer que Grondona é um octogenário que recém passou por delicada cirurgia. Ontem falou pouco, com voz cansada e deixou a cargo de seu braço direito, José Luis Meiszner, a condução do processo eleitoral. Velho, doente, cansado, com inimigos cada vez mais poderosos, é possível que Grondona tenha conseguido ontem sua última grande vitória.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

3 thoughts on “Grondona é reeleito

  • Willian Alves de Almeida

    Grondona é o último resto nocivo do catastrófco Proceso de Reorganización Nacional. Deve ser extripado o quanto antes. O problema é que como Tiago explicou, Vila é tão mafioso quanto el viejo gordo.

    Raffaini conheço pouco, mas deve ser uma alternativa muito melhor que esses dois.

  • ronaldo

    esses dirigentes bandidos ficam no poder porque clubes tanto do brasil quanto os da argentina tem rabo preso a confederação
    ñ como na inglaterra q os clubes montaram uma liga independente
    Falta vergonha para esses dirigentes

  • Vergonha so da argentina n ter um campeonato comos os outros mundo a fora ou seja pontos corridos com dois turnos ja se nota a pessima qualidade desses djts.

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