Especiais

Há 40 anos uma pomba voava para nunca mais pousar

A nossa vida é feita de momentos que são únicos e inesquecíveis. Pare e pense numa alegria, numa tristeza, numa conquista, numa frustração. Creio que você certamente separou alguns momentos. E, na maioria das vezes, desejamos que esses momentos voltem como num passe de mágica e que dessa forma sejam vivenciados sempre que der vontade.

Uma torcida na Argentina tenta desafiar o tempo e a todo 19 de dezembro se reúne para comemorar um gol. Há exatos 40 anos, jogavam Rosario Central e Newell´s no Monumental de Núñez, pela semifinal do Campeonato Nacional. Aos 10 minutos do segundo tempo, o lateral uruguaio Jorge José González cruzou da direita e, como um raio entrando no meio da defesa do Newell´s, o atacante Aldo Pedro Poy mergulhou para cabecear a bola e estufar as redes do goleiro Fenoy. Foi o gol da vitória do Rosario no clássico mais importante da história dos clubes até aquele momento. Os “canallas” se encheram de brios e, três dias depois, levantaram o Nacional de 1971 ao vencer o San Lorenzo por 2 a 1. Foi o primeiro título do clube na era profissional do futebol argentino.

O gol ficou conhecido como a “palomita de Poy” (pombinha de Poy). Essa jogada, batizada no Brasil de “peixinho”, na Argentina é usada para denominar tanto o mergulho para o toque de cabeça quanto para o salto do goleiro para realizar uma defesa difícil. A palavra começou a ser utilizada a partir de meados da década de 20. O lendário jornalista esportivo Ricardo “Borocotó” Lorenzo perguntou ao meio-campo do Huracán, Pablo Bartolucci, o porquê de ele imitar uma pomba ao cortar bolas levantadas. Desde então, Bartolucci foi apelidado de “Pombo” e  a jogada na qual era especialista virou sinônimo de mergulho.

Rosario Central e Newell´s se encontraram nas semifinais do Nacional depois de excelentes campanhas na primeira fase. O Rosario, que havia perdido a final do Nacional do ano anterior para o Boca, era treinado por Ángel Labruna e havia ficado com um mediano 10º lugar no Metropolitano de 1971. O Newell´s, até então invicto no Nacional, ficou em 4º no Metropolitano e estava confiante em chegar à final do Nacional, igualando o feito do maior rival.

Desde então, um grupo de torcedores do Rosario Central se reúne para relembrar o gol histórico com um convidado muito especial: o próprio ex-atacante Poy. Os torcedores improvisam ao montar uma trave, atiram uma bola e fazem com que o ex-jogador pule para marcar o gol de “palomita” mais uma vez. Em 1995, o mesmo grupo de torcedores apresentou aos organizadores do Livro Guinness de Recordes uma solicitação para converter o gol no mais comemorado da história do futebol. Até o momento os responsáveis pelo livro ainda não responderam, mas todos os torcedores do “Canalla” ainda sonham com o feito.

Poy, que atualmente é vereador em Rosario, relembra o fato numa entrevista concedida ao portal Cancha Llena: “É algo inexplicável. Já se passaram 40 anos e as pessoas ainda lembram desse gol, e ainda me chamam para me reunir com eles e reviver esse momento”. No final, ainda diz entre risos: “Me sinto honrado com isso, mas confesso que a cada reunião que fazemos sinto um pouco de medo de errar o gol. Se erro seria desastroso”.

A partida foi o cenário de uma das melhores crônicas do saudoso Roberto Fontanarrosa, torcedor fanático do Rosario Central. No conto “19 de dezembro de 1971”, Fontanarrosa narra a história de um grupo de torcedores que sai de Rosario com destino a Buenos Aires e leva um senhor que nunca havia visto o Central perder do Newell´s. Para conferir o texto primoroso na íntegra, clique aqui.

Abaixo, a narração do gol pelo legendário locutor Fioravanti:

E abaixo o gol e relatos de Poy e Fontanarossa:

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

4 thoughts on “Há 40 anos uma pomba voava para nunca mais pousar

  • Caio Brandão

    Louco! Creio que nenhum dos dois havia sido campeão argentino ainda, não?

    Inevitável a pergunta: Aldo era parente de José? O ex-goleiro, afinal, jogava no Central antes de ir para o São Paulo…

  • Alexandre Anibal

    Fala Caio!

    Não, nenhuma das equipes havia sido campeã.

    E José Poy era primo de primeiro grau de Aldo. Aliás, outros Poy passaram pelo futebol argentino, como Mauro Poy (filho de Aldo), que é atacante e joga desde 2007 no Skoda Xanthi da Grécia e Pedro Poy, irmão de José, que atuou durante um tempo pelo Argentino de Rosario e pelo Tiro Federal.

    Um abraço

  • canalha_RS

    Grata matéria Alexandre!!! fique emocionado y muito gostoso!

  • Pingback: 25 anos sem José Poy, o argentino que no São Paulo só foi menos goleiro do que Ceni

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

16 + 20 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.