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Huracán aposta nas semelhanças com o passado

O Huracán vive sua semana mais tranquila e esperançosa em muitos anos. Claro que a surpreendente vitória no clássico tem muito a ver com isso. Mas há muito mais. Na verdade, a vitória levou a um indisfarçado clima de nostalgia em Parque Patrícios. E muitos começam a identificar elementos para sonhar com um retorno ao lendário ano de 1973, quando o clube conquistou seu último título nacional.

A presença de Miguel Brindisi como treinador e Carlos Babington como presidente é só o começo. Miguelito e El Inglés eram o cérebro daquele time, e formaram a dupla de armadores da seleção argentina no mundial do ano seguinte. Mas há algo ainda mais importante: a filosofia de trabalho do clube parece semelhante à de 1973 aos olhos de muitos antigos torcedores.

Aquele time começou a ser formado dois anos antes, com a contratação de Cesar Luis Menotti. El Flaco nunca havia sido treinador. Sua mediana carreira de jogador havia se encerrado em 1970, e naquele momento era auxiliar de Gitano Juarez no Rosario Central. A diretoria do Globo apostou no jovem iniciante para um trabalho de longo prazo. Que deveria ser baseado no aproveitamento de jovens talentos.

E assim foi. O Huracán encantou a Argentina entre 1973 e 1976 com um time de jogo refinado. E no título de 1973 vários dos principais jogadores ainda não haviam completado 25 anos (Babington, Brindisi, Houseman e Carrascosa, que disputaram o mundial seguinte, estavam entre eles).

E essa mesmíssima fórmula foi a responsável pela última grande campanha do clube, no Clausura 2009. Com o ultramenottista Angel Cappa à frente, a equipe novamente despontou com vários jovens promissores (Pastore, Bolatti, Defederico) e encantou o país com seu jogo clássico. O título só não veio pela interferência do árbitro na partida decisiva, contra o Velez.

E agora a esperança é que a história se repita. O clube, sem nenhuma condição financeira, apostou em alguns jogadores decadentes e teve um início ruim na temporada. Brindisi chegou repleto de desconfiança, e quando os primeiros resultados foram desapontadores, o treinador garantiu que a solução estava nos jovens.

E o Globo entrou em campo para o clássico com 7 jogadores formados nas categorias de base. Contra todas as apostas atropelou o inimigo e fez 3 a 0. Um placar que o clube não obtinha contra o rival desde… 1972, quando Miguelito anotou um dos gols. E não vencia em casa contra o San Lorenzo desde 2001, quando o treinador era… Miguel Brindisi.

A própria presença física de Brindisi no banco de reservas parece alimentar a mística da torcida quemera. Não apenas foi um dos grandes craques do time de 1973, como tampouco nunca perdeu um clássico contra o San Lorenzo. Como jogador foram duas vitórias e um empate. Como treinador são 3 vitórias em 3 partidas. Foi o único treinador do Globo a vencer um clássico na cancha do Nuevo Gasometro, inaugurada em 1993.

Assim, por mais que o caminho seja longo, e a luta atualmente seja contra o rebaixamento, o fato é que a torcida quemera finalmente encontrou algo que dê alguma esperança para os torcedores de Parque Patrícios. Ao ver Babington e Brindisi comandando um grupo de jovens para uma vitória espetacular contra o odiado rival, as lembranças de 1973 vieram à tona.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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