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Independiente e Peñarol: A tradição em campo pela Libertadores

É possível que a partida de hoje entre Independiente e Peñarol não tenha um nível técnico brilhante, já que nenhuma das equipes vivem um bom momento em seus respectivos países. Mas não se engane: junto com o Boca Juniors, os dois clubes formam o trio mais vencedor da história da Libertadores. Em campo hoje teremos 12 títulos do maior torneio continental. O Peñarol inscreveu seu nome muito cedo na história do torneio, já que venceu as duas primeiras edições, em 1960 e 1961, com jogadores como Luis Cubilla (autor do gol uruguaio sobre o Brasil na Copa de 1970) e o equatoriano Alberto Spencer. Era um tempo em que a Libertadores era muito diferente: Cada país enviava apenas um representante (no caso brasileiro, o campeão da Taça Brasil, criada exatamente com essa finalidade), e o campeão levantava a taça após disputar um número relativamente pequeno de partidas (o Peñarol jogou sete vezes na edição de 1960, e seis na de 1961).

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Em 1966 o “Manya” repetiu a dose (foto abaixo), com um elenco repleto de jogadores bem conhecidos do público brasileiro. Três deles, além de enfrentar o Brasil em 1970 ainda jogaram por aqui: o goleiro Mazurkiewicz, o defensor Forlán (pai de Diego Forlán) e Pedro Rocha. O treinador era o histórico Roque Máspoli, goleiro da Celeste em 1950. Esse time conquistou o terceiro título para o clube após uma virada sensacional na decisão contra o River Plate: perdia por 2 a 0, chegou ao empate e abriu 4 a 2 na prorrogação (o River ainda hoje tem a alcunha de “gallinas” por esse episódio).

Muitos anos se passaram até que o Peñarol levantasse outra taça, em 1982, quando a equipe atropelou grandes clubes brasileiros, como o São Paulo, o Grêmio e o Flamengo (então campeão do torneio, perdeu para o “Manya” no Centenário e no Maracanã, com Zico e cia), para bater o Cobreloa em Santiago, com um gol marcado pelo lendário centroavante Fernando Morena no último minuto. Nesse time estavam ainda jogadores como Diogo (que depois jogou no Palmeiras) e o brasileiro Jair, ex-Internacional. O penta veio cinco anos depois, com uma equipe jovem, comandada por um jovem treinador: Oscar Tabarez, que levou a Celeste às semifinais do Mundial de 2010. Nessa equipe estavam Trasante (que depois jogaria no Grêmio), Diego Aguirre (atuou pelo Internacional) e Perdomo, jogador por muitos anos da seleção uruguaia. O gol do título veio no último minuto de uma prorrogação na qual o empate daria o título ao América de Cali. Uma conquista bem ao gosto uruguaio. Enquanto isso, o Independiente construía a trajetória que o levaria a ser conhecido como “El Rey de Copas”. Em 1964 venceu Alianza Lima (PER) e Millonarios (COL) na fase de grupos, para enfrentar o grande Santos de Pelé & Cia. Os argentinos não tomaram conhecimento do esquadrão praiano, vencendo os dois jogos da semifinal, disputados no Maracanã e na Doble Visera, antigo estádio do Independiente. Na final, dois jogos disputadíssimos contra o Nacional do Uruguai. Um empate sem gols em Montevidéu e uma vitória por 1 a 0 em Avellaneda deram o primeiro título para o “Rojo”.

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Em 1965, como campeão da Libertadores, o Independiente entrou já na semifinal e eliminou o Boca Juniors. Na final, o time comandado pelo legendário Raúl Bernao levou o título nas finais contra o ótimo time do Peñarol. Foram necessários três jogos para decidir o título: o Independiente venceu por 1 a 0 na Argentina, o Peñarol venceu o segundo jogo por 3 a 1 em Montevidéu e na finalíssima em Santiago o “Rojo” conquistou o bi goleando os uruguaios por 4 a 1. Se os anos 60 viram o Independiente vencer duas Libertadores, a década de 70 consolidou o título de “Rey de Copas” para o clube. O “Rojo” ganhou a Libertadores por quatro vezes seguidas, entre 1972 e 1975. Liderados pela lenda Ricardo Bochini, jogadores como Pastoriza, Pavoni e o goleiro Santoro fizeram história. Em 72 a equipe derrotou o surpreendente Universitario do Peru, que havia eliminado Nacional e Peñarol. No ano seguinte (foto abaixo), o Colo Colo foi a vítima. Em 74, o São Paulo foi batido depois de três jogos. E em 75 o sexto título continental foi conquistado sobre outro chileno: a Unión Española. Definitivamente, as palavras “Independiente” e “Libertadores” formaram um casamento de sucesso no futebol sul-americano.

Após nove anos de ausência no pódio da Libertadores, o “Rey” voltou em grande estilo em 1984. Ainda comandado por Bochini, o time tinha novas caras como Burruchaga, Marangoni, Trossero, Clausen, Giusti, Calderón e Percudani. Na primeira fase eliminou Estudiantes de La Plata, Olímpia e Sportivo Luqueño do Paraguai. Depois deixou pelo caminho Nacional de Montevidéu e Universidad Católica do Chile. Na final, enfrentou o campeão da Libertadores do ano anterior, o Grêmio. Com uma vitória em Porto Alegre por 1 a 0 e um empate em casa por 0 a 0, o Independiente conquistou a América pela sétima vez. Foi o último título da Libertadores do “Rey de Copas”. E mesmo após 27 anos, nenhum time ainda conseguiu sequer igualar o feito do “Rojo” Para muitos, o confronto entre Independiente e Peñarol será apenas o encontro entre duas equipes de nível médio da América do Sul. Mas para quem conhece a história do futebol do continente, é mais uma página da riquíssima história dessas duas verdadeiras bandeiras do futebol sul-americano. Presente ingratoIndependiente e Peñarol têm muito em comum. Além da imensa tradição em Libertadores, as duas equipes que buscam reconquistar seus melhores momentos e satisfazer seus exigentes torcedores. O Independiente foi o lanterna do Apertura 2010, e ainda não venceu no Clausura 2011. Além disso, amarga oito anos sem conquistar um campeonato nacional. Só faz parte da atual edição da Libertadores por ter vencido a duras penas o Goiás, que caiu para a segunda divisão do Brasilerão, na decisão da Sul-Americana. E o treinador Antonio “Turco” Mohammed recebeu poucas contratações desde então: além de Defederico, vindo do Corinthians, o único reforço do “Rojo” até agora foi o lateral colombiano Iván Velez. Não muito diferente é o Peñarol, que conseguiu romper uma barreira de sete anos sem títulos uruguaios no último ano. Mas com a saída do treinador Diego Aguirre o “Manya” não teve um bom segundo semestre de 2011, e viu o Defensor vencer o Apertura, além de ficar atrás do odiado Nacional, que se sagrou vice-campeão. Mas em 2011 os torcedores “carboneros” viram as esperanças se renovarem: Aguirre voltou ao comando técnico do clube, no lugar de Manoel Keosseian, e chegaram reforços como o zagueiro Carlos Valdez (ex-Reggina e Siena) e o talentoso Urretavizcaya, que após fazer parte do grupo campeão uruguaio de 2010 teve uma passagem discreta pelo La Coruña.

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Infelizmente para os torcedores das duas equipes, o ano não começou bem para Independiente e Peñarol. O clube argentino se qualificou na primeira fase da Libertadores com muito sofrimento, eliminando o Deportivo Quito no saldo de gols, graças às defesas do goleiro Navarro, e empatou as duas primeiras partidas do Clausura, contra Velez Sarsfield e Argentinos Jrs (que também estão no torneio continental). Já os uruguaios estrearam perdendo por 3 a 0 para o Miramar Misiones, conseguiram se recuperar batendo o Wanderers por 2 a 1 na segunda rodada do Clausura uruguaio, mas não passaram de um modesto empate contra o Fênix na última partida. No entanto, graças ao calendário mais folgado em seu país, poderão folgar no próximo fim de semana, enquanto o Independiente deve poupar vários titulares para a partida de hoje, já que pode se ver ameaçado pelo rebaixamento caso não faça boa campanha no Clausura argentino.

Com colaboração de Alexandre Anibal

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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