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Newell’s perde mais um clássico. E também o técnico

Rosario
Larrondo estrondando o Gigante ao abrir o placar

“Compartilhe se você tinha facebook na última vez em que o Newell’s venceu um clássico” foi a cruel piadinha renovada mais uma vez ontem no Gigante de Arroyito. O Newell’s, que desde 2008 não vence o arquirrival, lembra cada vez menos o belo time que encantou além da Argentina em 2013, enquanto o Rosario Central mantém o ótimo ritmo do ano passado. Embalado pela dupla mortal Marco Rubén e Marcelo Larrondo, fez por meio deles o gol de nova vitória. Que poderia ter sido maior.

Mas a vitória não se mostrou clara desde o início. O primeiro tempo foi algo truncado. A maior parte das conclusões a gol veio em tentativas fracas de fora da área, com ligeiro predomínio dos donos da casa. Ainda assim, o Newell’s atuou melhor no primeiro tempo do que no segundo. O veterano Maxi Rodríguez permanece como a referência ofensiva e foi regularmente acionado, mas bem anulado pela defesa canalla. Já Lucas Boyé, indeciso, anulava a si mesmo.

O destaque leproso acabou sendo o goleiro Ezequiel Unsain; mesmo com rebatidas bobas e perigosas, evitou as chances mais claras do primeiro tempo, especialmente em cabeceio de Larrondo no qual a bola pingou no chão e subiu, sendo espalmada em lance que lembrou o do inglês Gordon Banks contra o Brasil em 1970. Do lado auriazul, a raça de Javier Pinola, as armações de Giovani Lo Celso e um contra-ataque iniciado com toque de calcanhar por Rubén mereceram os aplausos da casa. No segundo tempo, o Newell’s nada fez de concreto e, especialmente nos minutos finais, apanhava sem esboçar qualquer reação.

Em uma pane geral, o lado ofensivo rubronegro não conseguia produzir e a defesa falhava na linha de impedimento, deixando Rubén e Larrondo livres para marcar os dois gols. Um despreparo simbolizado por Franco Escobar, reserva que recebeu dois cartões em espaço de cerca de seis minutos, sendo expulso com a Lepra já perdendo por 1-0: primeiramente, em lance pastelão, deu uma rasteira que atingiu tanto um adversário como um colega. No outro, era o último homem de linha para deter avançada de Rubén e por poucos metros não cometeu pênalti.

O 2-0 terminou barato. No início da segunda etapa, uma cobrança de falta aparentemente ensaiada do Central foi cruzada passando por quase todo o amontoado de jogadores, sendo emendada de primeira por chute aéreo de José Luis Fernández. A bola carimbou a trave direita de Unsain. O gol veio pouco depois, aos 10. O peruano leproso Luis Advíncula perdeu a bola no ataque e o mesmo Fernández conduziu o contragolpe, cruzando rasteiro pela esquerda. O ex-corintiano Sebá Domínguez, que voltava a jogar o clássico após doze anos, não interceptou e Larrondo, em posição legal, só empurrou para as redes.

Em resposta, o técnico rubronegro Lucas Bernardi colocou Ignacio Scocco, um remanescente tanto dos títulos de 2004 (como Sebá) e de 2013 (como o próprio Bernardi, que ainda jogava). A outrora sensação do clube fez o Newell’s buscar o ataque mais incisivamente por alguns minutos. Mas a Lepra mal apareceu nos vinte minutos finais. Aos 30, a dupla Larrondo e Rubén cabeceou em lances seguidos impedidos ambos pelas traves de Unsain. Em seguida, veio a expulsão de Escobar.

Com um a mais, o Central enxurrou ataques. Unsain voou para espalmar bola bem disparada por Lo Celso em uma falta. Rubén, livre pela direita, perdeu o ângulo após nova falha da linha de impedimento rival. Cristian Villagra quase acertou a trave em arremate diagonal pela esquerda. Em uma primeira tentativa de encobrir Unsain, Rubén elevou demais a bola, ao ser novamente acionado livre pela direita contra a lentidão da defesa leprosa. Fernández repetiu o lance de Villagra e quase triscou a trave também.

Vieram os descontos. Rubén, dessa vez pela esquerda, recebeu passe preciso de Gustavo Colman e, mais uma vez livre, encobriu sutilmente Unsain para matar formalmente uma partida há muito liquidada. E ainda houve tempo para Lo Celso, do meio-campo, lembrar outro lance de Pelé da Copa de 1970: o gol não feito nos tchecos. A bola esteve ainda mais perto de entrar, sendo impedida pelo travessão. Entrando, o clássico ficaria para a eternidade, mas os canallas se satisfizeram com o magro 2-0 e comemoraram em roda no centro do Gigante.

Desde 2008, quando venceu tanto em Arroyito como no Coloso del Parque, o Newell’s não conhece um triunfo sequer no dérbi rosarino. Ainda que o jejum abranja três anos sem enfrentamentos em razão da estadia auriazul na segundona entre 2010 e 2013, a estatística cobrou o preço do cargo do ídolo leproso Bernardi, que demitiu-se ainda ontem a noite após dez meses sem conseguir reproduzir a performance de tempos recentes que já estão distantes.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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