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Pau quebra no ascenso argentino. Novidade onde está?

confusão

O povo não tem noção do quanto há de rivalidade e loucura no ascenso argentino. Sobretudo no chamado ascenso metropolitano, que reúne as equipes da Grande Buenos Aires e um ou outro de Rosário. Quase sempre tem uma briga. Tocaia é normal. Polícia descendo o porrete também. Gente correndo atrás da polícia nem se fala. Desta vez foi no jogo entre Defensores de Belgrano e Los Andes. Café pequeno, mas que vale nota.

Estamos acostumados com a realidade de clubes grandes nas cidades brasileiras, já que os pequenos pouco a pouco vão desaparecendo. Também ocorre que entre os clubes grandes um ou outro possui profunda penetração no coração de alguns, são os chamados clubes de massas. Só que o requisito para isso é ser grande. Nada disso acontece na Argentina. Time pequeno existe por lá há mais de 100 anos e, com raríssimas exceções, jamais são abandonados por seus torcedores. Tem clube com 1500 sócios. Ao menos 1000 deles sempre vão a campo, mantendo o seu “nanico” sempre vivo.

Outro fenômeno é que entre os pequenos também há os chamados clubes de massa. Há o caso do Gallito Morón, quase a vida inteira nas últimas divisões do ascenso, mas com uma torcida impressionante. Outro é o Laferrere, clube de uma vasta periferia no Oeste Sul de Buenos Aires. Ambos os clubes são desaconselháveis para os não malucos de plantão que forem à Capital argentina. Respira-se uma tal loucura nesses lugares que os maiores “barras bravas” brasileiros mijariam nas calças só de se depararem com as esquinas escuras e despovoadas, projetadas para tocais mortais aos rivais, mas, principalmente, aos policiais, seres odiados por qualquer bonarense.

O Morón é tão poderoso que seria capaz de dividir o Pacaembu com um grande de São Paulo, caso o mesmo número de entradas fosse oferecido à torcida doente do Gallito. Esses caras odeiam Almirante Brown e sua torcida, com quem já protagonizou brigas que até a polícia resolveu ignorar em defesa de sua segurança própria. Não estamos falando de nada romântico, mas de pancadaria levada às últimas consequências. Bom ficar de longe.

Há também os mais nanicos. No entorno de Bajo Belgrano tem o River, um gigante. Mas a rivalidade mesmo ocorre entre dois pequenitos dali. Um deles é o Excursionistas de Bajo Belgrano. O outro é o Defensores de Belgrano. Sendo torcedor do Excursio dificilmente você será amigo de alguém que pinta o corpo com as cores do Denfe, o “Dragão de Núñez”. E foi a torcida deste último que co-protagonizou mais uma confusão.

Em disputa pela 23ª rodada da B Metro (3ª divisão argentina), Os Los Andes, conhecidos sob a alcunha de “Milrayitas”, recebeu o Defensores na cancha do Quilmes. Em disputa havia muita coisa. Luta pelo caneco, já que ambas estão em bons momentos, embora o Nueva Chicago não vê ninguém no retrovisor. Além disso, lutam por uma vaga no Torneio Reducido, ao fim da temporada; oito equipes se classificam para a competição que leva mais um para a B Nacional. O Dragão está em 5º lugar, enquanto os Milrayitas estão em 8º lugar e com a sombra do Chacarita, logo atrás.

De besta o jogo não teve nada. Foi bem animado. Aos oito minutos, Blanco abriu o placar para o anfitrião. Aos cinco minutos do segundo tempo, Pedro Bueno empatou. Aos 28, Luciano Goux virou o jogo para o vizinho do River Plate. E assim foi até o fim. Por falta de briga entre as torcidas, os jogadores resolveram aparecer. Justamente o autor do primeiro gol do jogo, Luciano Blanco foi lá e deu uma sapatada no atacante do Denfe. Insatisfeito, deu também alguns socos e pontapés. Num picar-de-olhos já tinha levado o dobro de pancadas. Foi soco no olho, soco nas pernas e soco até no piu-piu. Pau quebrou e mais preocupada que estava com os torcedores, a polícia fez corpo mole e deu de costas.

Enquanto a torcida engolia a própria baba, os integrantes das duas comissões, com a baba nos olhos, também foram a campo. Punho pra lá, punho pra cá e só porrete num espetáculo triste que somente os boçais insistem em associar ao futebol. Fato é que o Defensores pode até ter apanhado dentro de campo, mas somou mais três pontos importantíssimos à sua luta para ascender. Ascender, claro, no máximo à segunda divisão argentina, pois a elite ainda é grande demais para a estatura do Dragão.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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