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Pesadelo, irracionalidade e polícia

prática do rojo

Como o Independiente pode fazer para se livrar do rebaixamento? Ninguém sabe. Principalmente agora que o clube não depende mais de suas próprias forças para escapar de sua primeira visita história à B Nacional. O retorno de Rafaela foi humilhante e triste. A humilhação veio da forma como o “Gigante Vermelho” de Avellaneda perdeu para La Crema: perdeu de dois, mas poderia ter perdido de quatro, cinco ou seis. A tristeza veio da dificuldade dos atletas em sequer conversar uns com os outros. Já em casa e prontos para treinar, os atletas tomaram um choque: mais de 60 policiais cercavam o local para, teoricamente, lhes dar proteção.

Mal estreou no Rojo e Miguel Ángel Brindisi já entrou no clima de devastação anímica que afeta o elenco e qualifica ainda mais a sua baixa autoestima. Nem bem chegou e já quis mudar muita coisa: colocou os treinamentos de segunda-feira para a primeira parte da manhã, bem cedinho. Também chamou Tuzzio, Santana e Montenegro para uma conversa. Solicitou fidelidade e pediu sugestões de como tirar o barco do rumo do precipício a que ele caminha inexorável.

Só que talvez seja tarde. O Independiente já não depende de si próprio para se manter na elite. Se vencer todos os jogos, e somar 27 pontos, o conjunto de Brindisi precisaria torcer para que Quilmes não obtivesse mais de quatro vitórias. Bastaria um empate a mais e pronto. Porém, a salvação ocorreria, se o Rafaela não conseguisse mais de três; Argentinos, mas de quatro e o San Lorenzo um total de cinco triunfos. E que não se perca de vista: o Rojo precisaria dos 27 pontos que ainda vai disputar.

Neste cenário, pouco importa se Fabián Vargas tem tudo para voltar já na próxima rodada. Tampouco importa se Morel Rodríguez também pode voltar, assim como se Tulla ainda não terá condições de jogo para o próximo cotejo, contra o Bicho, no Libertadores de América. Nada disso importa, pois o Independiente já não depende de suas forças. O efeito disso é que mesmo que o conjunto dirigido por um “animado” Bindisi faça tudo certo, e baixe o milagre de vencer todos os nove jogos, ainda assim de nada o milagre vai valer, se os seus rivais não derem uma mãozinha.

E para piorar ainda mais o cenário, todos os rivais do Independiente mostram reação, menos o Rojo. Todos encontram um esquema, enquanto o ex-bicho papão da Libertadores ainda experimenta formas de jogar, de maneira a encontrar a fórmula mágica que leve às vitórias. E para piorar ainda mais, baixou polícia hoje, no treinamento da equipe.

Foram mais de 60 policiais fazendo a “proteção”. O inimigo era um só: a própria torcida. Sim, pode-se dizer que a “proteção” era apenas em relação a alguns torcedores, os barras. O problema é que mesmo no meio deles há uma infinita maioria que só pensa em apoiar a equipe, alentá-la e trazer os torcedores comuns, através de seus cantos, para o apoio irrestrito ao time combalido, mas amado.

Certo é que a polícia estava lá para espantar os bandidos de Comparada, fielmente pagos e instruídos para desestabilizar ainda mais o ambiente. Só que a polícia sabe onde estão esses torcedores e só não os prende porque não quer.

Até agora a torcida vermelha só apoiou, embora seja uma das que mais sofre na Argentina já há muito tempo. A atitude de colocar justamente a polícia entre o elenco e seus torcedores pode ser compreensível, mas beira à crueldade. E quem pensou que os atletas, ao treinarem, vão olhar para os lados e se depararem com homens fardados, no lugar de pessoas com a camisa cor de sangue e paixão, e ficarem tranquilos, talvez esteja colocando a pá de cal no caixão.

Paradoxal e até risível na história é que justamente quem tentava até agora manter a cabeça fria e praticar uma gestão profissional possivelmente tenha sido vitimado pela mesma paixão irracional que levaria alguns barras imbecis a incomodar o elenco e ajudar o próprio time a cair.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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