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Rodada violenta também no futebol argentino

La Doce nas arquibancadas, a barra que está em uma guerra civil

Desde Buenos Aires – Ela está sempre  presente nos estádios, infelizmente. A violência no futebol não é uma triste exclusividade deste ou daquele país. Ocorre em qualquer lugar do mundo onde exista uma partida e torcedores vestindo camisas diferentes. Ela é tão presente quanto a bola, o árbitro ou os jogadores. Apenas precisamos descobrir que não é pelo fato de ser costumeira, que seja essencial.

São Paulo, Brasil. O Pacaembú receberia um dos clássicos mais importantes do estado, Corinthians e Palmeiras. Mas longe dali, torcedores rivais já se enfrentavam à tiros, pedras, barras de ferro e tudo que pudesse ser utilizado como arma. Resultado um torcedor morto após receber um disparo na cabeça.

Rafaela, Santa Fé, Argentina. No final da tarde de sábado o San Lorenzo perdeu uma de suas mais importantes partidas na luta contra o descenso para um adversário direto. Os jogadores do clube da capital se dirigiam ao ônibus quando começaram a ser insultados por torcedores do Atlético Rafaela. Decidiram revidar às provocações e se armou a confusão. Os poucos policiais presentes não foram suficientes para evitar socos e pontapés entre atletas e sócios da Crema.

Núñez, Buenos Aires, Argentina. No mesmo sábado, minutos mais tarde, a torcida do River retornava de La Plata onde o time havia empatado com o Gimnasia pela B Nacional. Descontentes com uma decisão tomada pela escolta policial que seguia a caravana de volta até o Monumental, torcedores e oficiais entraram em conflito, inclusive com ambas as partes valendo-se de armas de fogo. O que mais impressiona é o fato de que os torcedores também estavam armados. É de se imaginar que este grupo, assim como os ônibus em que viajavam, devem ou deveriam ter passado por pelo menos duas revistas policiais.

Torcida do River em La Plata, incidentes no regresso

La Boca, Buenos Aires, Argentina. Bombonera, três da tarde. Ainda faltavam cinco horas para a partida que colocaria frente a frente Boca e Lanús. Membros da barra brava do Boca, a famosa “La Doce”, investem contra alguns guardadores de carro em uma rua próxima ao mítico estádio. Os estacionamentos e ruas ao redor da Bombonera são, em sua maioria controlados pela barra sendo esta, uma das formas de captação de dinheiro. Os guardadores que foram expulsos, também membros da barra, mas de uma facção dissidente, descontentes com a decisão tomada pelo grupo do atual líder Mauro Martín, resolvem dar o troco e passam com uma moto disparando contra os rivais. Até pode parecer curioso usar o termo rival se levarmos em conta que todos ali eram torcedores do mesmo time. Uma dessas balas acerta a perna de Fernando Migliore, irmão do goleiro Pablo Migliore do San Lorenzo. Fernando é um membro importante da “Doce”.

No final do ano passado, Rafa Di Zeo, chefe da Doce até ser preso, ganhou a liberdade e decidido em recuperar o poder, lançou-se numa campanha contra Mauro Martín no que quase acabou como uma “guerra civil”. O Boca estava por sair campeão do Apertura e o clube fervia pelo período eleitoral. Houve um breve período de calmaria, uma espécie de paz armada entre os dois grupos que reivindicam o controle da barra brava.  Atualmente especula-se que essa trégua está por terminar e que os incidentes do último domingo na Bombonera, já dão um indício de que dias complicados estão por vir.

E como se esquecer do ocorrido entre Chacaritas e Atlanta há algumas semanas atrás? Ou então a invasão dos torcedores do Nueva Chicago a um hospital de Mataderos? Ou ainda o domingo passado no Nuevo Gasómetro, quando os torcedores do Ciclón esperaram por mais de uma hora para agredir o árbitro Abal por uma má decisão.

Ônibus do San Lorenzo cercado por torcedores rivais

Na Argentina esse fenômeno é tão ou mais forte que no Brasil. Sempre que se produzem fatos de violência associada ao futebol, outra vez volta à tona o infindável debate de como freiar essa prática nos estádios. Fazem campanhas, divulgam mensagens nas redes sociais, reúnem dirigentes de barras, proibem a entrada de alguns torcedores, enfim, tudo o que fazem desde que o primeiro torcedor agrediu o rival apenas pelo simples fato de vestir cores diferentes da dele. A pergunta que fica é se isso um dia, realmente terá solução.

 

 

 

 

 

 

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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