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Seca em Avellaneda com risco de incêndio futebolístico

Oito Libertadores em oito finais. Três mundiais e 32 títulos de campeão argentino. Somando os troféus do rol de Racing e Independiente, vizinhos (literalmente) na cidade de Avellaneda, Grande Buenos Aires, são esses os números que encontramos. No entanto, um dado assombra a cidade. Há oito anos, nenhuma equipe da cidade ganha um troféu: para ser mais exato, o Racing ganhou o Apertura 2001 (após uma seca de 13 anos sem títulos e 35 anos sem argentinos) e o Independiente venceu o Apertura 2002.

E, na atual temporada, a seca de títulos parece ter consequências maiores. Após seis rodadas do Apertura 2010, o Racing ocupa apenas a 15ª posição e o Independiente a 17ª. As equipes começam também a ficar na metade inferior da tabela do rebaixamento. Com 1,268, o Racing está perigosamente na zona do descenso que tem o All Boys, com 1,166, em seu topo.

Dessa forma, na Academia, a demissão do técnico Miguel Russo parece uma realidade cada vez mais próxima na visão dos torcedores. O jornalista Gustavo Garcia, do Olé, destacou nesta terça, dia 14, as diversas críticas possível ao treinador que, apesar de manter a base da temporada anterior, insiste em fazer experiências tal como colocar Lugüercio, um centro-avante clássico, quase como um ponta direita.

No Rojo, a briga é com o presidente Julio Comparada e o diretor de futebol Cesar Luis Menotti. A torcida até mesmo espalhou cartazes – que ficaram conhecidos como Danger – em Avellaneda com os seguintes dizeres: “Perigo [Danger]. Mais de 200 milhões de pesos de dívida. O campeonato econômico em queda livre. Esvaziamento das categorias de base. Catorze campeonatos sem feitos. Um estádio de primeira decadência (desgeneracion, trocadilho com “primeira geração”). Senhor sócio, a mudança depende de você”.

Historicamente, nas últimas temporadas, as equipes alternam a decadência. Em 2009/10, foi um 16º e um 8º da Academia contra dois 4º lugares dos rojos. Em 2008/09, a situação era outra: Racing com um 14º e um 5º contra um 18º e um 16º do Independiente. Já, em 2007/08, outra reviravolta: a lanterna do Racing no Clausura 2008 enquanto o Independiente era sexto.

Isso faz de 2010/11, um ano único: a seca atingiu os dois lados da Avenida Adolfo Alsina em Avellaneda. E essa “falta” de um bom futebol pode incendiar os cargos de técnicos, dirigentes e jogadores. Un incendio celeste y rojo.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

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