Tévez: Jogador do povo, mas não de grupo

De La Plata/ARG – Normalmente, quando um treinador de pulso demonstra a sua posição, raramente ele muda de idéia. Sergio Batista não foi assim. Por conta do clamor por parte do Mundo, o treinador decidiu por levar um jogador que até três dias antes da convocação não era tido em conta. Mal sabia ele que havia feito uma besteira.

A convocação de Carlos Tévez foi justa pelo futebolístico. Foi um dos responsáveis por ajudar o Manchester City conquistar uma vaga na Champions League, foi eleito o terceiro melhor jogador da temporada, sem contar o título de artilheiro ao lado de Berbatov. Mas, era certo que havia um grande problema com os seus companheiros de elenco. E isso, não é de hoje.

Tévez armou uma grande polêmica após o Mundial quando criticou abertamente a AFA por não manter Diego Maradona a frente da Seleção. Depois, teria fingido uma contusão as vésperas do amistoso contra o Brasil, em novembro, já que dois dias depois atou nos 90 minutos pelo seu clube. Mas, mesmo assim, voltou a vestir a Albiceleste, graças a falta de pulso de Batista. Queria a Argentina ter um Oscar Tabarez, que barra Santiago Siva apesar dos clamores, ou Felipão, por negar-se em convocar Romário em 2002.

Tévez voltou para não fazer absolutamente nada. O jogador foi aguerrido em alguns momentos, mas de longe não foi o Tévez que todos conhecem. Durante o torneio, quando foi substituído, atirou a metralhadora contra Batista, afirmando que não estava jogando na posição certa. Ora, Messi, Higuaín, Dí Maria, Aguero, Zanetti entre tantos outros, não fizeram a sua função. Mas mesmo assim conseguiram demonstrar um futebol mais sólido do que Carlitos. O pênalti perdido contra o Uruguai foi só a cereja no bolo.

Psicologia esportiva
Fazer a cobertura esportiva não é apenas ir aos treinos ou jogos. É reparar a atitude de cada um dos jogadores. É estudar o ambiente. Ver o que está acontecendo. Ler, definitivamente, cada problema. E o que ficou notório é que Tévez não é de grupo. Sempre enojado e isolado. E diziam que Messi era assim.

Infelizmente, levou-se muito tempo para que a imprensa argentina pudesse perceber. Vale lembrar que em todos os clubes em que passou, o jogador arrumou confusões. Foi assim no Boca, no Corinthians, no West Ham, Manchester United e no City. Motivo? Não há uma certeza, mas tudo indica que é pelo fato dele não ser o centro das atenções. É notório: em toda saída, o jogador procurou alguma confusão, justamente quando estava sendo ofuscado por outra grande estrela.

Incrivelmente, as duas melhores partidas da Argentina foram quando o jogador começou entre os reservas. Contra a Costa Rica Sub23, Messi apareceu para o jogo e comeu a bola. Contra o Uruguai, igual. Tévez entrou no segundo tempo, e em inúmeros momentos bateu cabeça com o Melhor do Mundo. Uma coincidência? Pode até ser, mas o fato é que com Tévez fora, não só o jogador do Barcelona, mas como toda a Seleção rendeu muito mais. O discurso seria outro se aquela falta entrasse? Não. Ele seria o salvador, mas longe de ser um jogador de grupo.

Futuro incerto
Tevez pode ser muito bem um jogador do povo, mas sofre do mal de grande parte dos argentinos: É egocêntrico ao extremo. É bem verdade que há tempos, o futebol argentino vive a base de um individualismo, mas Tévez é o rei nesse quesito. Após o Mundial, havia destacado que não teria cabeça para jogar o Mundial 2014. E se Batista – caso permaneça no cargo – se mantenha até o fim, é muito provável que o desejo de Carlitos se torne uma ordem.

O próximo destino de Tévez deve ser mesmo o retorno ao Corinthians. Sua apresentação pode se dar nas próximas horas. Mas, diferente daquela passagem, não será a estrela solitária do grupo. Não querendo acabar com a felicidade do corintiano. Pelo contrário. Mas, é sempre bom deixar o sinal de alerta ligado, pois uma bomba atômica pode a qualquer momento explodir.