Primeira Divisão

Huracán x San Lorenzo, mais nova rivalidade argentina junta na Libertadores

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O mural pacifista é de julho de 2014, antes do San Lorenzo vencer a Libertadores e o Huracán, a Copa Argentina. Bom presságio?

O jogo do Huracán nesta terça foi um 0-0 praticamente protocolar. Os 4-0 dentro do Peru sobre o Alianza Lima, na partida de ida pela pré-Libertadores, haviam virtualmente assegurado ao campeão da última Copa Argentina a vaga na principal competição continental, a contar também com o rival San Lorenzo, este credenciado como campeão da edição passada da Libertadores. O clássico de bairro entre eles é a quinta rivalidade argentina a comparecer junta em La Copa. Vamos listar os episódios das anteriores, acrescentando que Boca e River participarão juntos também, após seis anos.

Na maior parte, os rivais travaram clássicos no torneio: até os anos 90, em razão da logística mais precária, a Conmebol colocava os dois representantes de cada país no mesmo grupo. Vale ressaltar que jogos entre os cinco grandes (Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo) que não os clássicos tradicionais Boca x River e Racing x Independiente também são carregados de rivalidade, assim como os de alguns deles contra o Vélez, mas consideramos apenas os clássicos oficialmente falando.

Das rivalidades ausentes, as mais próximas foram a do Clásico del Oeste e o do de La Plata. O primeiro, entre Vélez e Ferro Carril Oeste, ocorreria na Libertadores 1994 se o Ferro tivesse vencido o Apertura 1992 (ficou em 4º), já que o Vélez venceu o Clausura 1993: até 2008, as vagas eram definidas pela temporada anterior e não exatamente pelo ano. Assim, os campeões do segundo semestre (antigo Torneio Apertura, hoje Torneio Inicial) não iam à Libertadores seguinte, mas sim à posterior dela.

Pelo antigo esquema, a Libertadores 2006 teve o Estudiantes, entre os melhores da tabela somada da temporada 2004-05, mas não o Gimnasia LP, vice do Apertura 2005. O Gimnasia iria à Libertadores 2007, que por sua vez não teve o Estudiantes, campeão do Apertura 2006 e que por isso teve vaga só na Libertadores 2008. A dupla viria junta à Libertadores 2015 se o Gimnasia tivesse vencido o Torneio Final 2014, concorrido por ambos com o campeão River. Se o Gimnasia tivesse sido campeão nacional em 1970 (foi semifinalista), iria com o rival, como detentor da edição anterior, à de 1971.

BOCA x RIVER

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Ex-River, Mastrángelo vence Fillol no Monumental e coloca o Boca na final de 1978, vencida pelos auriazuis

1966: Boca como campeão argentino de 1965, River como vice – foi a primeira Libertadores a admitir vices de cada federação. A dupla venceu um ao outro em casa na primeira fase (2-1 no Monumental, 2-0 na Bombonera) e liderou com folga o grupo com a dupla peruana (Alianza e Universitario) e venezuelana (Deportivo Italia e Deportivo Lara). Se juntaram em um quadrangular-semifinal duríssimo com o compatriota Independiente e o Guaraní paraguaio. O Boca soube ganhar em casa, por 1-0, e empatar no Monumental, em 2-2, mas o River é quem se classificaria à final, só que não riu por último: perdeu o título para o Peñarol após levar virada em jogo que vencia por 2-0, derrapada que renderia-lhe o apelido pejorativo de gallinas. Nos Superclásicos, destaque a Alfredo Rojas, que marcou em cada um dos quatro e neles somou cinco gols pelo Boca – e El Tanque era ex-jogador do River.

1970: Boca como campeão nacional de 1969, River como vice – o calendário argentino desde 1967 era dividido entre o Torneio Metropolitano e o Nacional, mas só a partir de 1973 é que o campeão metropolitano passou a ter vaga na Libertadores. Na primeira fase, o Boca venceu os dois clássicos, 3-1 no Monumental e 2-1 na Bombonera. Mas o River, novamente, iria mais longe: em uma segunda fase de grupos, a fornecer uma vaga na semifinal, o Millo venceu por 1-0 em casa e segurou um 1-1 na Bombonera. Na semi, perderia para o detentor do título anterior, o Estudiantes, logo campeão de novo.

1977: Boca como campeão metropolitano e nacional de 1976, River como vencedor dos vices – em razão da dobradinha caseira do Boca em 1976, seus vices do Metropolitano (o Huracán) e Nacional (o River) fizeram um playoff pela outra vaga, melhor ao Millo. A Libertadores havia passado a ser mais dura: só o líder do grupo na primeira fase seguia na competição. O Boca venceu por 1-0 em casa, empatou sem gols no Monumental e seguiu adiante em grupo que tinha ainda o Peñarol. Mais à frente, os auriazuis conseguiram seu primeiro título no torneio.

1978: Boca como campeão da edição anterior, River como campeão nacional de 1977 – como campeão anterior, o Boca teve o direito de estrear na segunda fase e nela encontrou o rival. Era por um triangular-semifinal que envolvia ainda o Atlético Mineiro, em sua melhor participação até 2013. Os auriazuis não saíram de um 0-0 em casa mas confirmaram a superioridade no clássico ao vencerem por 2-0 no Monumental, gols de dois ex-River: Ernesto Mastrángelo e Carlos Salinas. O resultado os garantiu em nova final, onde lograriam o bicampeonato seguido. Saiba mais.

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Palermo, torto, finaliza o River em 2000

1982: Boca como campeão metropolitano de 1981, River como campeão nacional de 1981 – poderia ter ocorrido um duelo entre Maradona e Kempes na Libertadores, mas na época ela era disputada no segundo semestre, quando ambos já estavam no futebol espanhol (Maradona jamais jogaria a Libertadores). O River segurou o 0-0 na Bombonera e venceu por 1-0 em casa, gol de Enzo Bulleri, mas não passaria do triangular-semifinal contra o futuro campeão Peñarol e o Flamengo de Zico, detentor do título e que conseguiu um 3-0 em pleno Monumental.

1986: River como campeão da temporada 1985-86, Boca como campeão da liguilla o campeonato argentino adotou os moldes europeus entre 1985 e 1991 e o vice não tinha vaga garantida: quem acompanhava o campeão era o vencedor de uma repescagem (a liguilla) a envolver os melhores abaixo do campeão e, ainda mais esdruxulamente, também o campeão da segundona. O River enfim sorriu 100%: na primeira fase, empatou em 1-1 na Bombonera, venceu em casa por 1-0 e adiante conseguiria seu primeiro título no torneio. No Boca, jogava Raúl Maradona, único da família a participar de La Copa.

1991: River como campeão da temporada 1989-90, Boca como campeão da liguilla dois grandes clássicos, com o Boca vencendo ambos: um movimentado 4-3 em casa após estar perdendo por 2-0 e 3-1, com um gol de bicicleta de Diego Latorre virando o jogo; e um 2-0 no Monumental, neste dia com dois gols do jovem Gabriel Batistuta, que se vingava do River: era ex-jogador do rival e até participara do título argentino de 1989-90, mas na reserva e deixara Núñez pelos fundos. Começou a se firmar na carreira após virar a casaca, eliminaria ainda Corinthians e Flamengo e seu Boca só parou na semifinal, após partida tumultuada em Santiago com o futuro campeão Colo-Colo.

2000: Boca como campeão do Apertura 98 e Clausura 99, River como vencedor dos vices – vice do Clausura 99, o River venceu o playoff com o Gimnasia LP, vice do Apertura 1998. O Superclásico ocorreu nas quartas-de-final e foi histórico: a ida, no Monumental, foi River 2-1. Na volta, o Boca alcançou os 2-0 da classificação a pouco do fim. Deu tempo para o ídolo Martín Palermo, havia seis meses sem jogar por lesão no joelho, assinalar quase de muletas os 3-0, em retorno cinematográfico. Saiba mais. Adiante, o Boca conseguiria seu terceiro título no torneio, sobre o Palmeiras.

2001: Boca como campeão da edição anterior, River como campeão do Apertura 99 e do Clausura 2000 – eles não se encontraram. O River foi eliminado nas quartas pelo Cruz Azul, justamente quem adiante decidiu (e perdeu) o torneio com o Boca. Uma pena.

Carlos Tevez (R) of Boca Juniors celebra
A “galinhada” de Tévez na enfartante semifinal de 2004

2002: Boca como campeão da edição anterior e do Apertura 2000, River entre os melhores da tabela somada 2000-01 – a Libertadores inchou de participantes a partir de 2001 e os argentinos passaram a considerar os melhores na tabela somada de Apertura e Clausura a não terem sido campeões. Poderiam ter feito uma semi: o Boca caiu nas quartas para o futuro campeão Olimpia, e o River nas oitavas para o Grêmio, batido exatamente pelo Olimpia na semifinal.

2003: River como campeão do Clausura 2002, Boca entre os melhores da tabela somada 2001-02 – eles poderiam ter se encontrado na semifinal, onde o Boca passou pelo América de Cali, clube que eliminara o River nas quartas. Adiante, o Boca seria novamente campeão.

2004: Boca como campeão da edição anterior, River como campeão do Clausura 2003 – o mais enfartante dos Superclásicos ocorreu na semifinal e as autoridades administrativas, prevendo algo grandioso ainda que não além do que foi, ordenaram que cada um só teria torcida do time da casa. O Boca venceu na Bombonera por 1-0. O River devolvia o placar no Monumental até Tévez empatar nos acréscimos, sendo expulso ao provocar com uma imitação de gallina. Mas o River conseguiu um segundo gol, resultado que forçou os pênaltis. Mas o último êxtase da noite foi do Boca, pelo erro de Maxi López. Saiba mais. Adiante, os auriazuis perderiam a final para o Once Caldas.

2005: Boca como campeão do Apertura 2003, River como campeão do Clausura 2004 – poderiam ter feito a final, mas pararam bem antes. O River foi eliminado nas semis pelo futuro campeão São Paulo. E o Boca caiu nas quartas para o Chivas Guadalajara, eliminado pelo futuro vice Atlético Paranaense.

2007: Boca como campeão do Apertura 05 e do Clausura 06, River entre os melhores da tabela somada 2005-06 – o maior contraste: River na lanterna do seu grupo e Boca mais uma vez campeão.

2008: Boca e River entre os melhores da tabela somada 2006-07 – o campeão do Apertura 06 foi o Estudiantes e o do Clausura 07 foi o San Lorenzo, que eliminaria o River em oitavas-de-final épica, alcançando a meia hora do fim o 2-2 da classificação no Monumental após estar perdendo por 2-0 e com dois homens a menos. Mas o time do Papa seria eliminado em seguida pela futura campeã LDU, que bateria na final o Fluminense, que por sua vez eliminara o Boca na semifinal. Mas Boca e River não teriam feito a decisão: desde 2006, a Conmebol obriga que, se há dois semifinalistas de um mesmo país, eles necessariamente devem se enfrentar.

2009: River como campeão do Clausura 08, Boca como campeão do Apertura 08 – o River voltou a cair na primeira fase. E o Boca também deu vexame, eliminado ainda nas oitavas com derrota em casa para o nanico Defensor uruguaio.

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Além de Boca x River, só Newell’s x Rosario Central ocorreu na Libertadores dentre os clássicos “oficiais” argentinos

RACING X INDEPENDIENTE

1968: Racing como campeão da edição anterior, Independiente como campeão nacional de 1967 – a única vez junta das duas forças de Avellaneda, mas só teria clássico se o Rojo tivesse liderado seu grupo. Mas o líder (e dono da vaga única) foi o Estudiantes, que no triangular-semifinal eliminou La Academia e na final conseguiria seu primeiro título após bater outra Academia, a do Palmeiras.

ROSARIO CENTRAL X NEWELL’S OLD BOYS

1975: Newell’s e Central como vencedores do triangular-playoff de 1974 – o Newell’s venceu o Metropolitano 74 (seu primeiro título argentino) e o Nacional foi vencido pelo San Lorenzo. Mas por alguma razão a AFA determinou que eles realizassem um triangular com o vice dos dois torneios, o Rosario Central. A dupla rosarina ficou acima do time do Papa e embarcou junta para enfrentar Olimpia e Cerro Porteño na primeira fase, onde o clássico mais ferrenho da Argentina terminou no 1-1 tanto no Gigante de Arroyito como no Coloso del Parque. Os dois terminaram igualados na liderança.

Como só um avançava, precisaram de um jogo-desempate. Mario Kempes, de falta, fez o único gol dessa partida. Adiante, o Central, por um único gol a menos, perdeu a vaga na final em triangular-semifinal com o então tricampeão seguido Independiente (que chegaria ao tetra seguido, recorde exclusivo) e o forte Cruzeiro, que no ano seguinte seria campeão.

BANFIELD X LANÚS

2010: Banfield como campeão do Apertura 2009, Lanús entre os melhores da tabela somada de 2009 – o Clásico del Sur teve seu auge há alguns anos, com Granate e Taladro juntos disputando taças: saiba mais. Mas não se encontraram. Os grenás caíram na primeira fase. Já os alviverdes, onde despontava o artilheiro da Copa 2014, James Rodríguez, deram muito trabalho ao futuro campeão Internacional nas oitavas: ganharam na Argentina por 3-1, mas perderam no Beira-Rio por 2-0.

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2015 é reencontro de Huracán x San Lorenzo também “no geral”, pois o Huracán voltará à elite neste ano. Este foi o último clássico, 0-0 amistoso em 2012 com o Huracán na segundona desde 2011

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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