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Racing tem histórico desfavorável em “finais” com o rival Independiente. Agora vai?

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Clássico em 1968, quando a rivalidade ainda favorecia o Racing

É amanhã! A liguilla pre-Libertadores, repescagem que marcou meados dos anos 80 e início dos anos 90 no futebol argentino (veja aqui), voltou com tudo em 2015: reservou uma final com o Clásico de Avellaneda, a menor das sete cidades com ao menos dois campeões mundiais. Não é a primeira vez em que Racing e Independiente disputarão diretamente uma final, muito menos a primeira vez que a partida renderá glória a algum dos dois lados. Isso já ocorreu quase uma dezena de vezes. Ganhar algumas, o Racing já ganhou. Mas mesmo assim, ficou sem nada. Já o rival já sentiu o gosto de ser campeão.

1917: a única final propriamente dita valendo taça entre os dois – as demais ocasiões abaixo foram coincidências em rodadas derradeiras de campeonatos por pontos corridos no qual apenas um tinha chance de título. Foi em um torneio de equipes reservas da extinta Copa Competencia, que reunia clubes das associações argentina (que, apesar do nome, era restrita à Grande Buenos Aires e La Plata), rosarina e uruguaia. O Independiente ganhou por 1-0, já em janeiro de 1918.

1932: Poderia ter sido o maior dérbi de Avellaneda na história se o Racing ainda possuísse chances de título, mas as perdera na penúltima rodada da temporada regular ao ser derrotado em casa pelo Boca. Na última, visitou o arquirrival, líder do torneio. E o ganhou por 1-0, gol de Alberto Fassora (que em 1934 seria um dos numerosos argentinos contratados pelo America-RJ) logo aos quatro minutos. O resultado deixou o Racing com 49 pontos, enquanto o Independiente estacionou nos 50, sendo igualado pelo River. Assim, o Rojo teve de disputar um jogo-extra com os millonarios, que, ainda pouco vencedores, ganharam de 3-0 e assim conseguiram seu primeiro título em doze anos – e o primeiro título profissional.

1952: No Cilindro, Llamil Simes deu a vitória a cinco minutos do fim na última rodada ao Racing, que lutava pelo título com o River. A Academia ganhou, mas não levou: dependia de um tropeço do concorrente, que na mesma rodada venceu fora de casa o Newell’s e assim foi campeão com um ponto de diferença. O Racing havia sido tri seguido entre 1949-51, algo então inédito no profissionalismo, e por muito pouco não conseguiu o tetra – façanha ainda não alcançada por ninguém na era profissional.

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Independiente em 1967 homenageando o rival campeão do mundo e surrando-o em seguida com Luis Artime, torcedor racinguista, para ser campeão nacional

1953: a necessidade racinguista era a mesma. Precisava ganhar do rival e torcer por derrota do River para o Newell’s. Os mandos, dessa vez, foram invertidos, mas não o desfecho. O River, em casa, ganhou por 2-1. Os alvicelestes nem chegaram perto de fazer sua parte, passando vergonha: 5-1 para o rival, com três gols de Ernesto Grillo, um de Ricardo Bonelli e outro de Osvaldo Cruz (campeão brasileiro pelo Palmeiras em 1960), integrantes de um quinteto ofensivo usado integralmente na seleção, orgulho inédito para um clube argentino – falamos aqui. Para o Racing, descontou Juan José Pizzuti, futuro técnico do elenco campeão da Libertadores e da Intercontinental racinguistas, em 1967, mas ironicamente torcedor rojo.

1967: o clássico pela última rodada do Torneio Nacional foi o primeiro encontro da dupla após o Racing ter se tornado o primeiro time argentino campeão mundial. Em época onde as rivalidades eram cordiais, o Independiente recebeu com pompa a Academia, homenageando-lhe pelo feito que escapara duas vezes do Rojo, em 1964 e em 1965. Os racinguistas foram aplaudidos pelos torcedores rivais e ambos os times se perfilaram lado a lado diante do içamento das bandeiras dos dois e do país. Em campo, os donos da casa carimbaram a faixa rival e receberam a própria ao golearem por 4-0. O técnico era o brasileiro Osvaldo Brandão, que conseguiu um recorde de aproveitamento no profissionalismo: saiba mais. Os gols foram de Aníbal Tarabini, Raúl Savoy e duas vezes Luis Artime, que ironicamente era torcedor racinguista e dali iria jogar no Palmeiras. Relembre-o aqui.

1970: talvez o mais emocionante. Dessa vez quem concorria com o River era o Independiente. Os millonarios sofriam o maior jejum de sua história, treze anos que seriam dezoito. Mas que por minutos quase acabaram. O River jogou sua última partida três dias antes e fez em cheio sua parte, com um 6-0 no Unión. Precisava que o Rojo no máximo empatasse fora de casa com o grande rival. O Racing, com Jorge Benítez e Roberto Perfumo, esteve duas vezes à frente do placar, mas os vermelhos empataram nas duas ainda no primeiro tempo, com Aníbal Tarabini e Eduardo Maglioni. A dez minutos do fim, viraram com Héctor Yazalde, ex-jogador das divisões de base racinguistas e primeiro argentino chuteira de ouro na Europa, em 1974. De argentinos, só Messi o igualou nisso. Clique aqui para saber mais de Yazalde.

1983: a mais famosa de todas, certamente. E a mais humilhante. O Racing, mesmo trazendo de volta o vitorioso técnico Pizzuti, havia sido rebaixado na penúltima rodada (por ironia, contra o Racing de Córdoba), enquanto o rival lutava para encerrar meia década de jejum, então uma enormidade para quem havia vencido quatro Libertadores seguidas nos anos 70. Presa fácil, o Racing caiu por 2-0, gols de Enzo Trossero (que não escondia ser torcedor racinguista) e Ricardo Giusti. Como tudo pode piorar, em 1984 a Academia não conseguiu subir da segundona e via o rival, credenciado por aquele título, disputar – e ganhar – outra vez a Libertadores e, a seguir, o mundial. Já contamos a história aqui.

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Yazalde, decisivo em 1970. Ele e Messi são os únicos argentinos chuteiras de Ouro na Europa

Vale lembrar também quando se enfrentaram em retas finais, ainda que o clássico não valesse diretamente o título: em 1915, na primeira vez que se enfrentaram na elite, o Independiente ganhou por 2-1 no antepenúltimo compromisso do Racing. Mas perdeu os pontos por uma escalação irregular, o que fez a diferença adiante: o Racing conseguiu se igualar na liderança com o San Isidro e venceu-o no jogo-desempate. Foi o mais perto que o San Isidro chegou de ser campeão no futebol, do qual se retirou com o advento do profissionalismo nos anos 30, focando-se no rúgbi – é potência nacional na bola oval, ficando mais conhecido pela sigla CASI (que coincidentemente significa “quase” em espanhol).

Em 1948, o Racing lutava para encerrar 24 anos de jejum, então sua maior seca. Era o líder antes de eclodir a famosa greve que levou diversas estrelas do país ao Eldorado Colombiano, como Alfredo Di Stéfano. Os juvenis não mantiveram o ritmo dos profissionais grevistas e quem se deu bem foi o arquirrival, campeão após nove anos. Duas rodadas antes de garantir o título, o Rojo venceu por 1-0 o clássico, que o Racing mandou no estádio do San Lorenzo enquanto o Cilindro era construído.

Em 1960, eles se enfrentaram na penúltima rodada dentro do Cilindro. O Rojo segurou o 0-0, mantendo-se na liderança e garantindo a taça mesmo perdendo no jogo seguinte. Era o fim da maior seca do Independiente, que durava desde aquele título de 1948. Ironia: foi campeão porque o rival ajudou, vencendo na última rodada por 4-1 o concorrente à taça, o surpreendente Argentinos Jrs. Detalhamos aquele campeonato na sexta-feira retrasada, neste outro Especial.

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Bochini contra o Racing de Córdoba, em 1980

Já houve ocasiões em que a pedra no sapato rojo foi, curiosamente, o mesmo Racing de Córdoba que rebaixara o Racing “original”. Em 1980, La Academia Cordobesa surpreendeu ao ser vice-campeã nacional, tendo eliminado o Independiente nas semfinais. Em 1982, a “cópia” segurou o 2-2 em casa na última rodada. Para ser campeão, o Independiente precisava vencê-la e torcer por tropeço do líder Estudiantes, que também estava em Córdoba, onde venceu o Talleres. O troco veio nas quartas-de-final do nacional de 1983, vencidas nos pênaltis pelos de Avellaneda.

Por fim, mata-matas anteriores a finais são favoráveis ao Racing. Eles já se digladiaram nas oitavas-de-final da Copa Honor em 1917 (o Racing, adiante, seria campeão desse outro torneio extinto que também reunia “argentinos”, rosarinos e uruguaios); nas oitavas da Copa Honor em 1918, dessa vez com o Rojo terminando campeão; nas semifinais da Copa Competencia de 1924, outro título rojo; nas semifinais da Copa Beccar Varela de 1933, torneio na mesma proposta das outras copas (o Racing seria vice); na semifinal do Metropolitano de 1967, com o Racing ganhando mas adiante sendo vice.

Em 1992, o clássico se realizou pelas únicas vezes em torneio internacional da Conmebol, a Supercopa. O Racing venceu o rival nas oitavas-de-final, mas ficaria no vice para o Cruzeiro. Em 1993, no último mata-mata entre eles, também avançou, na rodada inicial da Copa Centenário da AFA, mas sucumbiu adiante.

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Gol de Giusti, que celebra com Trossero (torcedor do Racing, apesar do sorriso), autor de outro gol em um dos clássicos mais recordados: o de 1983, com os racinguistas rebaixados e os rojos, campeões

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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