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B Nacional. Peleja em Isidro Casanova pode resultar em mortes

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Domingo, dia 08/06/2014. Local: Isidro Casanova. Palco: Fragata Sarmiento. Anfitrião: Almirante Brown. Visitante: Huracán de Parque Patrícios. Em jogo: possibilidade de seguir na B Nacional, para um; ou de subir à elite argentina, para outro. Perspectiva do encontro: algo normal; sempre ocorre disputas assim. Problema: barra brava local ameaça tirar vida de jogadores.

Nada de novo quando se trata de ascenso argentino. Longe de nós concordarmos, mas convém dizermos que aqueles que ameaçam estão na deles. Na perspectiva deles, de gente da pior espécie dentre os que compõem a sociedade moderna de quaisquer países. Problema na Argentina é que barra brava realmente detém um poder consolidado. Efeito disso são ameaças como a que recebeu um jogador do Huracán.

E o pior, foi ao vivo. Carlos Arano, dava entrevista ao programa “Un Buen Momento” emitido pela Radio “La Red”, da Argentina. Conversa de sempre: conversa fiada. Foi então que alguém telefonou. E jogou a ameaça no ar. “Conhecemos sua casa e sua família. De Casanova vocês não sairão com a vitória; mas se isto acontecer, vamos matar todos os seus familiares. E mataremos você também”. A ameaça ficou lá, gravada e à disposição da incompetente polícia argentina.

Três pontos do jogo valem muito para o Globo. Basta que o Independiente perca para o “Patrón” para que o Globito de Parque Patrícios volte à elite argentina. Só que os três pontos também valem demais para o Aurinegro do Oeste Bonarense. Basta que o Brown Adrogué não triunfe sobre o Ferro Carril, em Caballito, para seguir na B Nacional. Jogo já será tenso por isso. Porém tem mais elementos. Torcida do Fragata grita, sonha e reza para que o Aurinegro rompa com sua falta de “huevos” e passe de vez à elite do futebol local. Conta já 27 anos que torcem em vão para que isto aconteça. Seria inédito, já que desde sua fundação, o Almirante Brown jamais esteve na primeira divisão.

Então, vejam só. A briga recente sequer ocorre para que a equipe do Oeste dê seu grande passo histórico. É o contrário; a luta é para permanecer onde está. Ocorre que a torcida se acostumou com a ideia de não jogar na B Metro. Entende que um rebaixamento pode gerar no Aurinegro a mesma chaga que acomete equipes como Atlanta, Chicago, Morón, Platense, Laferrere e Chacarita. Além disso, a terceira divisão está toda grávida de equipes do Oeste. É clássico atrás de clássico e com um detalhe relevante: mentalmente o Aurinegro é menos time que qualquer um de seus rivais históricos. De forma que se a barra aurinegra já é das piores, ela tem suas razões para enlouquecer de vez.

E sobrou par ao Huracán. Além de Arano, também o técnico Frank Kudelka foi ameaçado. O mesmo ocorreu com outros atletas do Globo e até com alguns jogadores do Almirante Brown. Em todos os casos, os barras deixam claro: “conhecemos o local onde você mora, além de conhecermos todos os seus familiares”. E conhecem mesmo. E a polícia, o que faz? Nada. O que também é algo normal.

De forma que o clima é muito tenso em Isidro Casanova. E as autoridades, o que pretendem fazer? Apenas sinalizam com a possibilidade de tirar a partida do Fragata Sarmiento e levá-la para alguma cancha do lado. Por que não tomam uma medida mais séria? Porque têm o “rabo preso” com os barras. E têm medo. E na boa: também são ameaçados de quando em quando.

Porém, vale a pergunta: se há uma gravação pública da ameaça, por que a polícia não vai lá e prende o responsável? Porque não sabe como lidar com os barras do Oeste. Porque ameaças do tipo já afetaram até mesmo as altas autoridades policiais. Em 2013, os mesmos barras deixaram uma gravação semelhante na secretária eletrônica de Román Di Santo, chefe da Polícia Federal da Argentina. Na ocasião, dezenas de guarda-costas se renderam na proteção do chefão.

E o pobre do Arano, do Kudelka e de outros atletas do Huracán, que foram ameaçados? Que se explodam. Que contratem guarda-costas ou que se recusem a ir para o jogo. Esta é a vontade dos barras. E a recusa das autoridades em fazer alguma coisa se traduz no respeito ao desejo dos barras e no apelo aos ameaçados para que façam o mesmo. Por quê? Ora, porque o uso político do futebol só pode dar nisso: na inversão de valores a partir da qual o bandido vale mais que o mocinho, gente de bem vale menos que certos mafiosos disfarçados de torcedores.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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