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50 anos de Pedro Troglio: o emblema do Gimnasia LP

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Celebrando a volta do Gimnasia à elite, em 2013: um ano depois lutou pelo título da elite até a última rodada

Símbolo como jogador e técnico das últimas boas campanhas do sofrido Gimnasia LP, Pedro Troglio, que segue treinando o Lobo, chega hoje ao meio século.

Troglio viveu de quase tudo, não só por jogar final de Mundial Interclubes e de Copa do Mundo como também pisar em gramados de terceira divisão após expectativa de atuar na Libertadores. Estava treinado desde os dois anos: nesta idade a família perdeu tudo em uma enchente em Luján (sua cidade natal), situação determinante para que acompanhasse desde cedo os pais no trabalho, seja em fábrica de móveis de cozinha ou como “co-piloto” do velho em viagens de ônibus. “Ter acomodado meus pais é o prazer mais grande que me deu o futebol”.

A morte também passou perto antes deste meia-direita viver a glória. Tentou a carreira primeiramente no Boca, onde foi recusado. Embora fosse torcedor do River desde os 10 anos, o “não” doeu e ele relatou que, abalado, não notou que atravessava um trilho quando um trem vinha próximo. Já admitido na base do arquirrival, teve uma peritonite fecal que o deixou “16 segundos clinicamente morto” em 1985, que após três operações lhe rendeu um diafragma muito elevado e temores de que se afogasse em terra.

Superado isso, batalhar por um lugar naquele River que ganhou tudo em 1986 (nacional e as primeiras Libertadores e Mundial do clube) não era tão complicado. Em um ambiente excelente também no humanitário (“Gallego e Alonso juntaram grana para ajudar meus velhos quando não podiam ir trabalhar porque tinham que estar comigo no hospital”), até os reservas iam à seleção em 1987, casos dele e de Goycochea: Pumpido ainda seria o goleiro titular do River em vez de Goyco até 1988 e o meia-direita titular ao invés de Troglio era Héctor Enrique – ambos os titulares haviam vencido a Copa de 1986.

Troglio (primeiro agachado) no River de 1987, na foto com Goycochea e Caniggia
Troglio (primeiro agachado) no River de 1987, na foto com Goycochea e Caniggia (último agachado). À direita, como jogador dos bons tempos do Gimnasia LP

Outro que não era titular absoluto mas também foi chamado pela Argentina naqueles tempos foi Caniggia, a quem Troglio conhece desde os 14 anos. Até estrearam juntos pela Albiceleste e foram vendidos também juntos ao Verona, onde a estreia de Troglio foi excelente, marcando o gol da vitória sobre o Milan de Van Basten. E o Verona ainda respirava seu auge (fora campeão em 1985).

Apesar da estreia auspiciosa, a equipe passou longe do título. Mas após uma temporada o meia terminou contratado pela Lazio. Pedrito também se afirmava na seleção, na vaga que era do próprio ex-colega Héctor Enrique, mesmo convivendo com uma marca negativa de oito jogos seguidos sem vitória entre 1989 e 1990. A seca acabou com gol de Troglio em hora bastante oportuna: contra a União Soviética, no segundo jogo da Copa de 1990, emendando de cabeça cruzamento de Olarticoechea.

Ambas as seleções haviam caído na estreia e quem perdesse naquele dia em Nápoles estaria prematuramente fora do mundial – curiosamente, o outro único gol de Troglio pela Argentina fora exatamente na URSS, em 1988. Ele também teve momento de vilão no torneio, ao perder um pênalti contra a Iugoslávia. A derrota na final foi seu último jogo pela Argentina: a seleção só voltou a jogar em 1991, quando o meia estava fora dos radares jogando a Serie B italiana pelo Ascoli.

A Lazio o dispensara depois que ele se lesionou ainda em 1990. Teve um pouco de azar: foi convidado a integrar o Sevilla de Carlos Bilardo horas depois de assinar com o Ascoli. Após três anos no Ascoli, juntou-se aos renomados jogadores que invadiram os primórdios da J-League, onde viveu sua melhor fase individual: foram 20 gols em 56 jogos pelo Avispa Fukuoka. Recusado em 1997 pelo River, satisfeito com Roberto Monserrat, Troglio iniciou sua relação com o Gimnasia LP.

Marcando o gol que manteve a Argentina viva na Copa de 1990 e jogando pelos bons tempos do Gimnasia, clube com o qual mais se identificou
Seu momento de herói pela seleção: marcando o gol que manteve a Argentina viva na Copa de 1990, sobre a União Soviética

Foram cinco anos defendendo o Lobo, na época o melhor time de La Plata e não o Estudiantes. Foi duas vezes vice argentino por uma equipe que não é campeã desde 1929: em 1998, atrás só do Boca de Carlos Bianchi, e em 2002, para o River. Este último vice rendeu a inédita vaga tripera na Libertadores em 2003, mas Troglio já não esteve lá: passara a jogar a terceira divisão pelo Villa Dálmine junto com outros veteranos como o próprio Monserrat e também José Basualdo. Foi uma só temporada, para encerrar a carreira, mas com destaque: os violetas foram campeões com gol dele, que ainda foi capa dos jornais ao marcar outro, de bicicleta.

Como técnico, Troglio começou no Godoy Cruz, já foi campeão no Cerro Porteño (foi quem lançou Juan Iturbe) e passou maus momentos por Independiente e Argentinos Jrs. A casa voltou a ser o Gimnasia em 2005, treinando-o a novo vice nacional (escapou para o Vélez apesar de em dado momento a equipe do veterano goleiro Navarro Montoya ter vencido oito seguidas, ter três pontos de vantagem e goleado por 4-1 o Estudiantes) que rendeu ao time sua última participação na Libertadores, em 2007.

Após sair em 2007 para o Independiente, retornou a La Plata em 2011. O cenário mudara muito: o arquirrival reerguera-se após a vinda de Juan Sebastián Verón em 2006, ao passo que o Gimnasia acabara de ser rebaixado mesmo com o regresso do ídolo Guillermo Barros Schelotto. O acesso veio na segunda tentativa, em 2013. Uma temporada depois, no Torneo Final de 2014, o Lobo já relembrava aqueles bons tempos, lutando pelo título até a rodada final.

Atualmente, os alviazuis são o sétimo colocado, a oito pontos do líder Boca. Já estiveram oito jogos seguidamente invictos no longo campeonato de 2015. Troglio segue lá: dos técnicos das equipes da elite argentina, é quem há mais tempo conserva seu cargo. Um sinal a mais de prestígio para quem costumava almoçar antes das partidas com Ofelia de Fernández, mãe de ninguém menos que a presidente Cristina Kirchner, de família fanaticamente gimnasista.

“Se o Gimnasia vai sair campeão? É o sonho dos torcedores, e eu quero ficar na história por isso. É difícil, mas não impossível”, contou de forma ainda atual o ex-meia ainda em 2006.

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A bicicleta pelo Dálmine e no Bosque, estádio do Gimnasia, cumprimentando um fã que tatuou o rosto do técnico

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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