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65 anos de Claudio Marangoni, o Redondo dos anos 80

Observado por Dalglish no Mundial de 1984: enorme exibição contra o Liverpool e orientação do escocês para que permanecesse na Argentina

“Creio que nasce consigo, e depois vais olhando e incorporando coisas. Aí influenciaram por um lado o gosto futebolístico do meu pai, o do Independiente, e também o fato de ter seguido Marangoni. Sempre fui camisa 5”.

A declaração acima foi dada nesse ano de 2019 por Fernando Redondo ao La Nación. A elegância do craque do Real Madrid era tamanha que rendeu-lhe o apelido de El Príncipe, que tinha bola para jogar muito mais Copas do Mundo do que a solitária participação em 1994, se abstendo de ir a 1990, sendo boicotado para a de 1998 e perdendo as chances de 2002 com as lesões que abreviaram-lhe a vitoriosa carreira. Outro talentosíssimo volante que merecia Copas foi o tal Claudio Oscar Marangoni. El Maranga, que hoje faz 65 anos, unia visão, andar elegante (como seu modo de falar), ótimo passe, bom chute de longa distância e jogo duro quando necessário. Pôde ser um dos primeiros argentinos no futebol inglês, uma rara figurada respeitada no San Lorenzo e no rival Huracán e, já veterano, um dos maiores ídolos do Independiente do coração de Redondo e também do Boca.

Nascido em Rosario, Marangoni, além da falta de Copas, teve como lacuna nunca ter defendido o seu Rosario Central: “eu nasci ao lado do campo, era sócio, veraneei no clube até os 17 anos, viajava desde Buenos Aires de trem para ver os clássicos, conheço o velho estádio, conheço o Gigante de Arroyito, e até cantava a marcha do clube. Já maior, ia a Rosario e me xingava todo o campo, então disse basta”. A mudança a Buenos Aires deu-se inicialmente pelo estudo na capital. Inicialmente, o esporte que o sondou foram as regatas, por intermédio de um professor que vislumbrou nele um porte de remador. Casualmente, no dia em que foi ao clube San Fernando experimentar a sugestão, as atividades estavam suspensas e Marangoni então foi acompanhar um amigo que foi testar-se no Chacarita: “fui e fiquei de fora, mas Manuel Guerra me viu e me gritou: ‘perdão, você não joga?’. ‘Eu? Sim’. Entrei dez minutos, toquei umas duas bolas e escutei: ‘venha hoje às 18 com seu pai, que o inscrevemos’. Meu amigo também entrou”.

Marangoni, curiosamente, começou como centroavante nos juvenis, que aproveitavam sua rapidez na execução, embora a mesma velocidade não fosse aparente na movimentação (“ainda assim, no Independiente, em exercícios de velocidade, chegava em segundo ou terceiro. O que ocorre é que pela minha altura e forma de me mover, à vista parecia mais lento do que outros que eram mais lentos do que eu”, ressaltou). Com gradual perda dessa qualidade, foi deslocado para meia-esquerda e por fim para volante: “me ajudou essa ordem em que tudo se deu, porque como havia me acostumado a resolver em pouco espaço, como volante me parecia que tinha todo o tempo do mundo”. Um de seus colegas no Chacarita foi Carlos Ischia, mais tarde assistente técnico no Boca de Bianchi. Ischia, ao ser indagado certa vez sobre a famosa “lentidão” de Riquelme, contestaria: “eu rio. Quando arranca com a bola dominada, é difícil de agarrar. E tem uma assombrosa velocidade mental a serviço do funcionamento da equipe. Me lembra Marangoni, um organizador mais recuado que também tachavam de lento”.

Por Chacarita, pela dupla San Lorenzo e Huracán (contra Maradona) e pela seleção, teve trajetórias honrosas

O volante foi profissionalizado em 1974 no Chacarita, ainda um time de prestígio recente na elite, campeão em 1969, semifinalista em 1970, bronze em 1971 (ano em que bateu até o Bayern Munique na Europa) e revelador dos primeiros jogadores aproveitados pela seleção argentina a partir do futebol europeu – Ángel Bargas (Nantes) e Daniel Carnevali (Las Palmas), ambos aproveitados pela Albiceleste na Copa do Mundo realizada naquele 1974. Sem eles, o time já iniciava uma fase mais modesta, embora Marangoni convivesse no elenco com nomes de futuro destaque nacional, a exemplo do próprio Ischia e de Carlos Salinas, como também do passado, a exemplo de Roque Avallay ou do iniciante treinador Alfio Basile. Em 1975, o novato assinalou seus quatro primeiros gols, incluindo contra Boca e no Clásico de Villa Crespo, contra o Atlanta. Permaneceu funebrero até meados de 1976, já com os tricolores iniciando sina de lutar contra o rebaixamento. Marcou três gols no Torneio Metropolitano, incluindo em 3-0 no dérbi. Para a disputa do Torneio Nacional, já era jogador de um primeiro gigante na carreira, o San Lorenzo. Fez outros três gols, sendo até o artilheiro do elenco, mas não evitou uma campanha medíocre encerrada na vice-lanterna do grupo D.

Quatro vezes campeão entre 1968 e 1974, o clube do Papa iniciava uma decadência também rápida, com o montante de dívidas acarretando na perda do estádio Gasómetro em 1979. Até lá, Marangoni converteu-se justamente em um oásis de talento conforme o vitorioso elenco de outrora se desmanchava; foram 25 gols em 135 jogos, ótimos números a um volante. Exceto um 4º lugar no Metropolitano de 1978, porém, os cuervos mal chegavam entre os primeiros. Foram sete gols ao longo de 1977, incluindo sobre o campeão River, outros cinco em 1978. Em 1979, já como cobrador de pênaltis, assinalou nove. E terminou vendido ao futebol inglês, que, notando o sucesso de Osvaldo Ardiles no Tottenham Hotspur e de Alejandro Sabella no Sheffield United, trouxe o volante fluente no idioma (ele inclusive dava aulas) para o Sunderland. Chegou à Grã-Bretanha na pausa de inverno da temporada 1979-80 para jogar a segunda divisão. A promoção à elite viria, um ponto apenas abaixo do campeão Leicester City – pior para o Chelsea, que terminou um ponto abaixo e a uma colocação do acesso.

Mas se a barreira linguística não existia e o êxito coletivo veio, Marangoni terminou atrapalhando-se por erguer-se contra o que julgava falta de respeito do treinador para com todos. “Fui o único que se levantou. ‘Me diga o que quiser, tudo o que lhe ocorra, mas de boa maneira’, lhe disse. O cara ficou louco, porque era como se eu me rebelasse diante do plantel. E isso marcou um pouco a relação”. O argentino então forçou um regresso à terra natal. “Tinha ofertas do Chelsea e do Ipswich Town [campeão da Copa da UEFA na temporada seguinte, vale ressaltar], mas eu queria voltar ao país e tinha medo de que me convencessem do contrário. Então, para que não me encontrassem, mudei de hotel sem avisar ninguém. Foi assim que voltei. E o pior, aqui não tinha clube. Eu quase voltei a ser fisiologista”, declararia, em referência à sua formação acadêmica. Marangoni voltara sob expectativa de que o San Lorenzo, pelo qual se afeiçoara, o receberia de volta, após ter acertado verbalmente essa prioridade aos azulgranas: “eu havia me tornado muito torcedor do San Lorenzo. Mas quando voltei, a presidência havia mudado. Resisti em assinar com o Huracán, mas o San Lorenzo não me quis nem um pouco”.

Marangoni
A classe de Marangoni no Mundial de 1984, canetando dois do Liverpool antes de lançar de trivela a Barberón

Após passar todo o segundo semestre de 1980 na inatividade enquanto definia sua regularidade, fechou mesmo com o velho rival. Depois de um período de adaptação física (chegou a ser substituído com só 15 minutos de sua estreia, contra o Racing, em 22 de fevereiro), viu as linhas tortas escreverem certo. O ex-clube, naquele Metropolitano de 1981, se tornou o primeiro grande time argentino a terminar rebaixado, com o Globo terminando cinco pontos acima. Maranga inclusive deixou gol no clássico, bem como sobre a dupla Boca e River. No primeiro semestre de 1982, Marangoni destacou-se em especial com dois gols em um 3-3 com o Boca, em partida recordada também pelos times perfilados em conjunto com a eclosão da Guerra das Malvinas na mesma data. A equipe de Parque de los Patricios não chegou a brigar pela classificação, mas Marangoni e o ponta Oscar Ortiz (campeão da Copa de 1978) terminaram saltando para o Independiente. A estadia quemera manteve média interessante para um volante: onze onze gols em 58 jogos.

O Rojo vinha de uma entressafra desde o título nacional de 1978, sem taças desde então para uma torcida mal acostumada com os festivos anos 70. O clube amargou um bivice seguido para o Estudiantes, no Metropolitano de 1982 (Maranga contribuiu com quatro gols, incluindo um em 3-1 no rival Racing) com o Nacional de 1983. Essas campanhas , de todo modo, renderam a estreia do volante na seleção argentina, para oferecer um estilo oposto ao combativo modo do antecessor Américo Gallego. Foi em 12 de maio de 1983, na primeira partida da Era Bilardo, em 2-2 contra o Chile em Santiago. Marangoni jogaria outras seis partidas pela Argentina até setembro, anulando Sócrates em 0-0 segurado no Maracanã pela Copa América – onde esteve também na vitória da Albiceleste em Buenos Aires a encerrar jejum de treze anos sem triunfos dos hermanos no clássico. Só que a seleção pecou contra o Equador e viu a única vaga dada pelo triangular às semifinais cair no colo canarinho.

A decepção foi compensada ao fim dano, com o Independiente enfim campeão argentino, e pleno Clásico de Avellaneda contra o rebaixado rival, uma rodada após Maranga, com gols sobre a dupla Boca e River, anotar o que somou um ponto precioso em Córdoba contra o forte Talleres da época. Na entrevista de 2019, Redondo suspirou: “[Eu era] torcedor-torcedor. A época de 1983 eu vivi plenamente. Ia com meus amigos ou com meus velhos a campo”. Opinião semelhante a de outro famoso hincha do clube, Javier Zanetti, que em 2010 se gabaria similarmente que “a época de 1983 vivi a pleno. Ia com meus amigos ou com meus velhos ao campo. Desde aí, sou torcedor. O ídolo era El Bocha. Foi um grande orgulho tê-lo conhecido e pedir sua camisa. Fora a de Bochini, também tenho a de Marangoni, um luxo”. O título de 1983 seria normalmente especial por si só e terminou como um prólogo de capítulos ainda mais deliciosos à torcida, que veria o time reconquistar em 1984 primeiramente a sua última Libertadores – onde Marangoni deixou um gol no 3-2 sobre o adversário mais complicado, o Olimpia, e outro em tiro de fora da área no 2-0 sobre o Sportivo Luqueño do jovem Chilavert.

Sua bomba no movimentado 3-3 com o Boca da temporada 1987-88, a última antes de virar a casaca e enfrentar o ex-colega Bochini

Marangoni formava no Rojo um quadrado mágico no meio-campo, em dupla de volantes com Ricardo Giusti não se limitando a carregar o piano para os avançados Ricardo Bochini e Jorge Burruchaga. Desses, o único ausente na Copa de 1986 seria exatamente Marangoni, que estreara pela Argentina juntamente com Giusti e Burru, por sinal. Não foi descartado por deficiência técnica; brigara com Bilardo muito antes das eliminatórias, só desenroladas em 1985; após os sete jogos de 1983, esteve em clássicos amistosos contra Brasil e Uruguai em junho e julho de 1984, suas últimas partidas pela Argentina, quando então houve a crise interna às vésperas de uma excursão à Europa. Para seu azar, Sergio Batista começou a se sobressair na mesma posição, em um Argentinos Jrs bicampeão argentino em 1984 e 1985, ano também de título de Libertadores, mostrando-se a solução para uma possível lacuna do volantão rojo – que, em dezembro de 1984, mostrou um arsenal de jogadas plásticas contra o Liverpool no Mundial, como canetas seguidas, lançamentos e a açucarada assistência para o único gol do jogo.

A partida dos Rojos contra os Reds, a render o segundo e último Mundial do Independiente, curiosamente, fez com que o volante permanecesse no futebol argentino: ao cumprimentar o adversário Kenny Dalglish ao fim do jogo (que correu sem maiores incidentes a despeito do temor, por ser o primeiro confronto oficial anglo-argentino após as Malvinas; Dalglish inclusive fora a vestiário argentino parabeniza-los), contou-lhe de uma oferta do Southampton e ouviu “Claudio, melhor ficares na Argentina que lá tem sol”. Na Libertadores de 1985, porém, aquele Argentinos Jrs levaria a melhor nas semifinais – o que incluiu um pênalti desperdiçado por Marangoni no finzinho que alteraria o dono da vaga. E o foco nas Libertadores de 1984 e 1985 (finalizada só em outubro) cobrou seu preço nas competições domésticas: o Independiente terminara o Metropolitano de 1984 em 14º lugar de 19 times e o começo morno na temporada 1985-86 rendeu-lhe uma 9ª colocação. O clube voltou então ao páreo na temporada 1986-87, mantendo chances matemáticas de título até a rodada final.

A penúltima rodada, aliás, serviu como duelo direto contra outro concorrente, o Boca, que saiu da corrida em derrota de 3-2 com uma exibição de gala do Maranga (o primeiro gol veio de rebote em tentativa dele, e no terceiro deu assistência após fintar três adversários) em jogo elétrico ainda recordado apesar do Rojo encerrar com o bronze para a dupla rosarina. A temporada não terminou ali: a segunda vaga na Libertadores não seria do vice, e sim do vencedor da liguilla, mata-mata que reuniria os melhores times abaixo do campeão Rosario Central. Boca e Rojo fizeram a decisão e Marangoni marcou um dos gols do 4-3 agregado favorável aos de Avellaneda – que em seguida cumpririam bom papel na Libertadores de 1987, caindo nas semifinais para o futuro campeão Peñarol, a despeito de Percudani marcar um gol em rebote da trave em finalização do volante.

Erguendo a Taça Toyota e a Supercopa pela dupla onde se imortalizou

Marangoni durou mais uma temporada no Independiente. O foco na Libertadores de 1987, tal como na de 1985, acarretou em um início morno no torneio de 1987-88, onde o clube só terminou em 11º, além de eliminado já no primeiro mata-mata da edição inaugural da Supercopa. Com 34 anos, porém, o volante voltou a ter desempenho decisivo contra o Boca, marcando duas vezes em um movimentado 3-3, incluindo um golaço de longe onde a bomba ainda bateu no travessão antes de entrar. Foi um dos últimos trinta gols em 264 jogos oficiais do Maranga pelo Independiente; a não-classificação a uma nova liguilla deu ares de fim de ciclo. E o volante cometeu a ousadia de rumar ao Boca quando a rivalidade mútua vivia um auge. Ainda assim, a negociação foi das que mais doeram na alma roja. O volante virou persona non grata para a torcida por um tempo. Em 2007, ele se manifestou sobre os xingamentos:

“Claro que eu me importava e me doeu que me xingassem, embora pior houvesse sido a indiferença. Creio que me xingaram tanto que se notava que gostavam muito de mim. Hoje o pessoal do Independiente segue me pedindo autógrafos porque não é tonto, sabe o que representei para o clube. O Independiente era a minha casa. A realidade é que a equipe começou a envelhecer, e tanto a mim como aos dirigentes convinha começar a fazer algumas mudanças. O que ocorre é que os dirigentes ocultaram isso, e disseram em off: ‘te vendemos, mas o custo político você paga’. Antes o Independiente não era somente uma grande equipe, e sim também uma grande instituição como é hoje o Boca. Hoje o Independiente é uma equipe de futebol e nada mais”. No Boca, ele juntou-se a outras lendas rojas, o técnico José Omar Pastoriza e o ponta Alejandro Barberón. Os xeneizes vinham simplesmente de oito anos sem ganhar nada desde o maradoniano Metropolitano de 1981. A seca, em âmbito nacional, chegaria a onze anos, até hoje a maior já suportada pelos auriazuis. Mas que pôde ser desafogada em 1989.

Não foi possível na liga argentina de 1988-89, onde o time terminou como vice exatamente para o Independiente, e nem na Libertadores, onde caiu no triangular-semifinal favorável ao Olimpia, e tampouco na liguilla (derrota na semifinal logo no Superclásico, com o volante marcando o gol boquense), a volta olímpica pôde ser realizada na Supercopa. Marangoni apareceu em especial com uma bomba de fora da área para abrir o placar contra o Grêmio na semifinal (na véspera do seu 35º aniversário, festejada com feliz cumpleaños entoado na Bombonera) e ao fim ergueu a taça dentro da Doble Visera, o campo do seu ex-clube, justamente o vencido na grande final – em troco azul y oro pelo vice argentino meses antes. Após focar-se na Supercopa, o Boca engatou alguma regularidade que o fez terminar em 3º na temporada 1989-90, ainda que longe da taça, mas com outro título no percurso: o da Recopa Sul-Americana, erguida em Miami em março de 1990 em jogo-único com o Atlético Nacional.

Classe à parte, Maranga sabia ser combativo: persegue em 1990 o “traidor” Sergio Berti, ex-colega de Boca, e inverte papéis com os jovens Simeone e Mancuso contra o Vélez

O fim da temporada rendeu ainda um novo troco sobre o Independiente, derrotado na decisão da liguilla. O duelo classificou os xeneizes à Libertadores de 1991, onde triscaram uma classificação à final. Marangoni, porém, não ficaria para a campanha; pendurou as chuteiras ao fim do Apertura 1990, em má campanha do clube e em meio a uma tragédia, em duelo com o San Lorenzo na Bombonera onde um projétil da torcida visitante matou o torcedor Saturnino Cabrera. Pesavam desentendimentos com o técnico Carlos Aimar, que explicaria em 2009: “Claudio foi uma das nossas chaves no primeiro ano, mas no segundo teve uma lesão, não sabia se deixava de jogar e até lhe ofereci soma-lo no corpo técnico. Depois decidiu seguir um ano mais, mas eu tinha Villita [José Villarreal], que vinha pedindo lugar, então se originou um pequeno conflito e como os resultados não nos acompanharam, tudo se potencializou e tivemos que sair”. Em 2010, a revista El Gráfico elegeu os cem maiores ídolos do Boca e incluiu meia página dedicada ao Maranga, que declarara que um ano no Boca equivaleria a dez em qualquer outro clube – “porque quando chegas ao Boca não há mais vida privada, e tudo se magnifica por dez. Uma experiência ali merece ser vivida por qualquer jogador”.

A revista brincou: “alto, loiro, voz fininha mas com fluência no inglês…. diferente de Rattín e nada a ver com Giunta, não ficou tão atrás da idolatria que lograram”, com o título de 1989 fazendo com que “o hincha xeneize, que tanto havia sofrido com suas pisadas no círculo central quando era sócio de Bochini, o adotou definitivamente. Foi o antecessor de volantes centrais de categoria que viriam logo, como Gago ou Banega”, com sete gols em 93 jogos. Em 2011, foi a vez da revista eleger os cem maiores do Independiente e, polêmicas à parte, não foi cometida a heresia de deixa-lo de fora: afinal, fora “um verdadeiro fora de série”. O texto encerrava-se com um “sua ida ao Boca causou dor no hincha. É que sabiam que pela Doble Visera não veriam mais Maranga“. Segundo ele, as feridas já vinham cicatrizando desde dezembro de 1991, quando participou do jogo-despedida de Bochini: “as pessoas me vaiaram até que fiz a primeira tabela com o Bocha, mais ou menos aos 10 minutos de jogo. A partir daí, começaram a me aplaudir. Me lembro que quase fiz um gol por cima da cabeça em Islas; então, todos disseram: ‘tchê, esse jogador é nosso também’”.

Em 2016, o colocamos para o time dos sonhos do Chacarita. Já havia sido eleito previamente entre os cem maiores ídolos também do Huracán pelo Clarín (descrito como um chegado ao clube “quase de rebote”, mas que “em apenas dois anos” transformou “as dúvidas dos hinchas do Globo em aplausos”; “com seus movimentos elegantes, rapidamente ganhou o posto e o carinho dos hinchas“) no centenário huracanense em 2008. O ano também marcou o centenário do San Lorenzo, rendendo o lançamento do Diccionario Azulgrana (pelos cem anos que o San Lorenzo também celebrou ali), onde Marangoni foi um dos jogadores com verbetes especiais. O dele destacou-o como “um dos grandes meias que passaram pelo clube. Estava dotado de um arsenal técnico descomunal que lhe permitiu distribuir o jogo com limpeza e explodir sua claridade conceitual em uma zona caliente do campo”.

Ele ainda teria passagens por Banfield e Acasusso no ascenso argentino, respectivamente como técnico e gerente. No Taladro, onde jogava o jovem Mauro Camoranesi, não aguentou a interferência do presidente e pediu para sair antes dos mata-matas. O volante ainda é ligado à bola, mas por meio da rede de escolinhas que criara ainda em 1984, uma das maiores do país – e que já formaram dois atletas de seleção, Lucas Orbán na de futebol e Pablo Matera, participante das copas de rúgbi de 2015 e 2019 pelos Pumas.

Coordenando a escolinha: criou uma das maiores redes da Argentina
https://twitter.com/PeaIndependien1/status/1195975096743145473

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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