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Vitória, clima de festa e alegria em Boedo… Mas, até quando?

Clima de festa, sorrisos por todos os lados e até brincadeiras inesperadas colorem atmosfera festiva em Boedo, após vitória no tradicionalíssimo clássico de bairro contra o Globo. De um lado se viam jogadores predispostos às entrevistas por todos os cantos; de outro, um treinador interino risonho e senhor das palavras. E quanto ao Huracán? Da mesma forma que parece ter sido ignorado antes do cotejo, em Nuevo Gasómetro, era ignorado por todos depois do jogo. Enquanto o Ciclón sonha com a ponta, o time de Parque Patrícios se recusa a pegar no sono, pois o pesadelo da Promoción e até do Descenso insiste em persegui-lo.

Já na entrevista após a partida, era possível sentir o clima de festa em Boedo. O treinador interino, Miguel Angel Tojo, parecia ter tirado um peso enorme das costas, o que deixa claro a sua preocupação  anterior com o clássico frente ao Globo. Voltou a ser o senhor das palavras; sabia canalizá-las de maneira positiva para o elenco e demonstrava uma tranqüilidade que só rivalizava com a sua contida satisfação. Ao mencionar os jogadores, destacou a atuação de Romagnoli, sua aposta vitoriosa para o confronto de ontem:” Romagnoli é um jogador que pode dar muito ao futebol. Hoje manejou o jogo da equipe”. E disse mais sobre um dos bons jogadores em campo: “Com Velázquez temos conversado bastante. Ele vai ter de pagar um churrasco para os juvenis, pois eu tinha lhe falado que ele faria um gol”.

Com personalidade em alta, Tojo disse mais duas coisas; a primeira sobre o elenco: “ Hoje mostraram que possuem caráter e futebol. Fizeram um grande jogo; na defesa, uma partida perfeita, não cometeram um único erro”. A segunda foi um recado à diretoria : “Tomara que para segunda ou terça-feira já tenhamos um novo treinador, o presidente sabe que precisamos de um”, disparou Tojo, deixando claro que pretende retornar em pouco tempo a seu trabalho com as categorias de base.

De fato havia razões para a festa, já que o time de Boedo não vencia há cinco jogos. Mas as comemorações pareciam um tanto exageradas. Claro que o time foi o senhor da partida, mas é preciso considerar que o seu adversário contribuiu muito para isso. Embora tenha dominado a partida no seu início, o Huracán não soube chegar ao gol pela falta de objetividade de seus atacantes. A impressão que se tinha era de que se o domínio do visitante durasse pelos 90 minutos ainda assim não sairia o gol, pois tanto Javier Cámpora quanto Rolando Zárate se entregavam fácil à marcação do Ciclón e não conseguiam a penetração necessária para chegar às redes de Pablo Migliore. Outro aspecto a favor do local é que o Globo demonstrou profunda incapacidade de reação; algo preocupante e que se repete jogo após jogo.

Foi incrível a maneira como o San Lorenzo deu pouca importância para o Globo antes da partida e depois. Antes, em Boedo, todos se referiam apenas aos seus próprios problemas e sequer mencionavam o nome de tradicional adversário de bairro. Depois do confronto, a empáfia aumentou. Claro que não se aproveitar do fato, e do próprio momento conturbado do Ciclón, dá indícios claros do quanto o Huracán anda mal das pernas. Mas o fato emite outros sinais também muito claros. O principal deles é que o time de Boedo anda perdendo a dimensão da realidade externa ao seu próprio umbigo. Fato que, por sua vez, pode sinalizar que essa alegria momentânea não terá vida longa.

 

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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