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Blog FP – Libertadores 2011: um fiasco histórico para brasileiros e argentinos

As quartas de final da Libertadores 2011 que começam hoje marcam um fiasco histórico da participação conjunta de brasileiros e argentinos na história do torneio. Essa constatação independe de análise. É uma simples questão de conferir os números que os dois países em conjunto ostentam na história do maior torneio continental.

No início da atual Libertadores 11 equipes representavam os dois países, seis brasileiras e cinco argentinas. Dessas, apenas duas sobreviveram entre as oito primeiras colocadas. Vamos embarcar na história do torneio em busca de algo semelhante, e emergirá a dimensão do fiasco dos dois gigantes do continente na atual edição.

De 1960 a 1965 o torneio era curto e simples, com uma equipe de cada país (na maior parte das edições houve países que nem mandaram representantes). Assim, Brasil e Argentina somados eram representados por 2 equipes (às vezes 3, quando o campeão do ano anterior pertencia a um dos dois países). Sem dificuldades era obtida a marca de 2 clubes de ambos os países entre os 8 primeiros.

De 1966 a 1970 a Libertadores entra em sua segunda fase, com duas equipes de cada país (mais o campeão do ano anterior, que entrava nas semifinais). Foi também uma fase turbulenta, com regulamentos complicados e muitas desistências de clubes. Em 1966 e 1970 o Brasil não enviou participantes, em 1967 cada um dos gigantes enviou um a menos do que tinha direito, mas nem isso impediu que sempre houvesse ao menos 2 representantes da dupla entre os 8 primeiros.

A única exceção foi em 1969, quando brasileiros e argentinos desistiram do campeonato. O único representante da dupla de países foi o Estudiantes, que compareceu como campeão do ano anterior. O Pincha foi campeão, mas foi o único ano da história da Libertadores em que não houve ao menos 2 equipes ou brasileiras ou argentinas entre os 8 primeiros. Foi o único desempenho pior que o de 2011, mas por razões óbvias não é consolo, já que era o único representante, contra 11 este ano.

Entre 1971 e 1999 a  Libertadores ganhou novo desenho, com 10 equipes, duas de cada país, às quais se somava, na fase seguinte, o campeão do ano anterior. As fórmulas variaram, mas a composição dos participantes não se alterou. Nessas 29 edições em que Brasil e Argentina foram representados por 4 (ou 5) equipes, apenas 7 vezes (1980, 1982, 1988, 1989, 1991, 1993 e 1994) a soma Brasil-Argentina teve apenas dois clubes entre os oito primeiros colocados.

Em 2000 houve a adoção do sistema atual, em que a somatória Brasil-Argentina atinge 10 ou 11 equipes. Desde então a marca de dois representantes da dupla nas quartas de final jamais havia acontecido. Os piores desempenhos haviam sido em 2002 e 2007, quando a dupla colocou 3 representantes entre os oito. O recorde positivo foi em 2005, quando 6 dos oito melhores eram brasileiros ou argentinos. O resultado que mais se repetiu foi o de 5 brasileiros ou argentinos disputando as quartas (2001, 2004, 2006, 2008, 2009, 2010), enquanto em 2000 e 2003 foram quatro classificados.

Agora fica fácil perceber que a marca da Libertadores 2011 é histórica. Jamais foi atingida na fórmula atual, e só encontrará equivalente em edições com menos da metade do número de representantes da atual edição. Menos que em 2011, só em 1969, quando apenas um clube representava os dois países.

Desde 1991, quando o Colo-Colo se sagrou campeão em cima do Olímpia, todas as decisões da Libertadores tiveram ao menos um representante de Brasil ou Argentina. Nas 19 edições seguintes, o Brasil conquistou nove títulos e nove vice-campeonatos, enquanto os Argentinos levaram 7 títulos e 2 vices. Os únicos a furar a poderosa hegemonia brasileiro-argentina nessas quase duas décadas foram Olímpia (2002), Once Caldas (2004) e LDU (2008).

Santos e Vélez Sarsfield carregam sozinhos o gigantesco peso de representar toda a força do futebol brasileiro e argentino na atual edição da Libertadores. Pois nenhuma das 51 edições do torneio viu uma lista dos 4 primeiros colocados sem brasileiros ou argentinos. Cabe a Santos e Vélez garantir a permanência dessa marca que provavelmente não tem paralelo no futebol mundial.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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