Primeira Divisão

Como jogam Boca e River

Quem olha a tabela de classificação tenderá a atribuir ao River o favoritismo no clássico de domingo. A equipe milionária está em 4o lugar, com 22 pontos, enquanto seu rival máximo está num discreto 10o lugar. No entanto, a coisa não é tão simples. Entenda o momento atual das equipes e seus sistemas de jogo.

Para começar, o Boca está em um momento melhor. Após um começo terrível, a equipe ostenta um bom desempenho recente: foram 4 vitórias, 2 empates e 1 derrota nas últimas 7 partidas. Julio Cesar Falcioni conseguiu achar um sistema no qual Palermo e Riquelme jogam um bom futebol sem que as jovens promessas sejam colocadas para escanteio.

Após falhar com vários sistemas de jogo, Falcioni acabou por se render ao 4-3-1-2, forma de jogar que tem sido a marca do clube nos últimos 12 anos. Lucchetti ganhou a posição do jovem e inseguro Garcia no gol. Clemente Rodriguez e Monzón não despertam muita confiança pelos lados, mas têm se mantido como titulares. Caruzzo e Insaurralde parecem melhores no sistema com 4 zagueiros, e têm dado pouca margem à críticas, enquanto que Cellay parece definitivamente ter fracassado no clube xeneize, e é um reserva incontestado.

O meio campo tem o seguro Somoza protegendo a zaga, e Chavez e Colazo pelos lados, para que Riquelme possa ter a liberdade de armar o jogo da equipe. Os dois jovens têm tido bons desempenhos, mas há um problema tático facilmente perceptível: obrigados a simultaneamente ajudar o xerife Somoza na marcação e coadjuvar Riquelme na armação, é frequente que esse setor da equipe padeça da síndrome do “cobertor curto”. Há situações em que Somoza e Riquelme acabam se vendo sozinhos, sendo envolvidos pelos adversários.

Na frente o bom desempenho de Mouche associado às atuações de alto nível de Riquelme ajudaram a recuperar Palermo. Após amargar uma seca de gols pouco frequente para ele, o “otimista do gol” marcou nas últimas 3 partidas, e chega com moral elevada ao clássico.

Já o River vive um momento distinto. Depois de um bom começo, quando liderou por várias rodadas o torneio, a equipe venceu apenas uma vez nas últimas quatro partidas. O setor ofensivo é evidentemente o maior problema, já que os milionários marcaram apenas 2 vezes nesses jogos. A equipe entra em campo assombrada pelo fantasma do descenso, e tem boas chances de entrar na zona de promoción caso não vença o clássico.

A defesa não é problema para o River. Carrizo é de longe o melhor goleiro do campeonato. O trio de zagueiros, com Maidana e Román pelos lados e Ferrero na sobra é seguro, ainda que longe de ser brilhante. No meio de campo, uma linha de quatro volantes garante a segurança. Pelos lados jogam o bom Ferrari e o excelente Diaz. Pela faixa central, Almeyda mostra toda a sua qualidade como uma espécie de “líbero” do meio campo, e é um dos destaques do Clausura, enquanto Acevedo tem mais liberdade para apoiar o ataque.

Os problemas estão concentrados no setor ofensivo. O jovem Erik Lamela é muito promissor, mas ainda não conseguiu assumir inteiramente seu papel de protagonista da equipe. A seu lado não terá Buonanotte no clássico, que se queixou por ser substituído contra o All Boys e sequer está na lista dos concentrados para o jogo. Sem que a escalação oficial tenha sido divulgada, não se sabe quem atuará.

Alguns apostam que entrará o jovem Lanzini, que começou o torneio como titular. O jogador é um armador, que manteria bem definido o sistema 3-4-2-1. Outra opção é Funes Mori, que tem mais características de atacante. Sua entrada mudaria o sistema de jogo da equipe, já que o jovem jogador provavelmente atuaria ao lado de Pavone, que normalmente joga absolutamente isolado entre os zagueiros. Seria uma forma de tentar resolver os problemas ofensivos da equipe com uma mudança de sistema.

O Boca tem a vantagem de jogar em casa, tem Palermo e Riquelme em bom momento e apresenta um desempenho melhor nas últimas partidas. O River é mais forte na defesa, está melhor no torneio e deverá predominar no crucial setor do meio campo. Se as equipes não possuem a qualidade de outros tempos, o superclássico é imprevisível como sempre.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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