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Copa Argentina: Central Córdoba desbanca Boca Unidos; Sarmiento de Resistência ignora Gimnasia Jujuy

A noite foi de surpresas na Copa Argentina. Nos dois confrontos entre times da quarta divisão contra dois da B Nacional, o Central Córdoba desbancou o Boca Unidos, enquanto o Sarmiento de Resistência fez de conta que não conhecia a maior categoria do Gimnasia y Esgrima de Jujuy. Que as surpresas existem sabemos. Mas é bom lembrar que o Central Córdoba pertence à Primeira C, quarta divisão metropolitana; enquanto o Sarmiento chaqueño pertence ao Torneio Argentino B, quarta divisão para os clubes do interior. Para piorar as coisas, também vale a lembrança de que o Boca Unidos foi com foça máxima para a disputa, enquanto o Lobo jujeño levou ao Chaco uma equipe mista, mas com a maioria de seus titulares. O Charrúa de Rosário empatou em 1×1 e venceu nos pênaltis por 6×5. Por sua vez, o Decano do Chaco fez 1×0 no Lobo de Jujuy.

Boca Unidos 1×1 Central Córdoba de Rosário (pênaltis: 5×6)

Em Resistência, pela Copa Argentina, o Central Córdoba de Rosário venceu o Boca Unidos de Corrientes por 6 a 5 nos pênaltis, após empatar por 1×1 no tempo normal. Em nenhum momento pareceu que se tratava de um cotejo entre uma equipe da B Nacional e outra da Primeira C, a quarta divisão do futebol argentino. Porém, isso foi menos importante que dois fatos marcantes. O primeiro tem a ver com o fato de que o Boca atuou com a equipe titular; o segundo, com o fato de que o Charrúa mereceu vencer no tempo normal e por uma diferença considerável. No fim da contas, passou o Charrúa, que agora sonha com o quase certo enfrentamento com o Boca Juniors.

O triunfo do Central Córdoba foi, antes, uma vitória tática do treinador charrúa, Omar “el Negro” Palma. Ninguém imaginava que a pequena equipe de Rosário teria uma postura tão ofensiva em Resistência. Principalmente pelo fato de que enfrentava um adversário de duas categorias acima e com o moral alto, após triunfar sobre o River pela B Nacional. Com menos de 10 minutos o Charrúa já havia chegado por três vezes e deixava claro quem estava mais interessado na vitória. O abafa era forte e parecia que os rosarinos se multiplicavam na cancha do Sarmiento de Resistência.

Nas arquibancadas havia muitos torcedores aurirrojos, já que a cidade de Corrientes não fica muito distante de Resistência. Já os hinchas do Central Córdoba precisaram viajar 800 km para prestigiar o seu bravo time. Mas, quem parecia estar em casa era o Charrúa, que infernizava o adversário com sua insistente presença ofensiva. Apesar da pressão, somente aos 30 minutos foi que a equipe abriu o marcador com Juan Carlos Lezcano: 1×0.

No segundo tempo, o Boca Unidos decidiu partir para o jogo, já que não tinha nada a perder. A marcação foi adiantada e a proposta ofensiva decretada diante do Charrúa. Porém, a equipe de Corrientes se deu conta de que seu adversário não estava para brincadeiras. Além de não recuar para manter o resultado, o Central Córdoba continuou a bancar a mesma proposta da primeira etapa. Pouco a pouco, o Boca Unidos foi obrigado a ocupar seu campo de defesa na maior parte do tempo. Recebia ataques pelos flancos, pelo centro e pelas várias jogadas ensaiadas de bola parada dos charrúas. Porém, quando tudo indicava que o segundo gol era uma questão de tempo, O Boca Unidos chegou ao empate com um gol “achado” aos 20 minutos com Alejandro Donatti.

Apesar dos esforços dos comandados de “el Negro” Palma, o resultado ficou mesmo empatado em um gol. Nos pênaltis, as cobranças estavam certeiras até a sexta paticipação do Boca Unidos. Cuiosamente através de Devallis, o homem da boa parada da equipe correntina. Na cobrança, o arqueiro Leguizamón voou baixo e pegou. E para que a vitória charrúa ocorresse o próprio arqueiro Leguizamón precisava marcar. Cobrou e converteu. Com a vitória por 6×5 nos pênaltis, o Central Córdoba passou à etapa seguinte da Copa Argentina e espera por Boca Juniors ou Ramón Santamarina de Tandil.

Gimnasia Jujuy 0x1 Sarmiento de Resistência

Para completar as surpresas da noite, o Sarmiento de Resistência eliminou o Gimnasia y Esgrima de Jujuy com um gol de Cañete aos 36 minutos do segundo tempo. Ainda bem que o gol aconteceu, pois ele fez justiça ao que foi a partida. Injustiça teria sido a vitória do conjunto visitante. Sim, é possível falar de conjunto visitante, pois o local onde foi realizado o cotejo foi nada menos que o estádio Centenário de Resistência, cancha do Sarmiento local. Agora o Decano vai se deparar com o vencedor de Arsenal e General Lamadrid pela sequência do torneio.

Atuando diante de sua torcida, o Decano não se importou nem um pouco com o fato de duelar contra uma equipe da B Nacional. Desde os primeiros minutos de partida já ganhava o meio-de-campo e bloqueava as saídas do Lobo jujeño principalmente pelo flanco esquerdo, o setor por onde os visitantes tentavam jogar. De repente, o que se viu foi uma cena inusitada. O Decano pressionando e o Lobo valendo-se dos contra-ataques para fazer o gol de abertura do placar. Não foi feliz, mas, ao menos no primeiro tempo, tampouco seu rival o conseguiu ser.

Na segunda etapa, a equipe local veio ainda mais forte. A proposta foi a de marcar sobre pressão já na saída de bola do Lobo, o que obrigava ao conjunto visitante a tentar sair sair via ligação direta para o ataque. Essa proposta não funcionou, pois a maior disposição dos locais, e sua consistência tática no posicionamento do meio-de-campo para atrás, os compensava plenamente com a reconquista da pelota. Além disso, o Sarmiento procurou variar mais suas tentativas de ataque. Com isso, no lugar de procurar os espaços pelos flancos (jogada que já recebia a marcação do Lobo) o conjunto de Resistência procurou a incursão pelo centro, irrompendo pelo meio dos zagueiros visitantes. Dessa forma, o Sarmiento chegou ao gol do histórico triunfo aos 36 minutos da etapa complementar com Gonzalo Cañete.

Depois do gol, inexplicavelmente o Sarmiento ficou bastante instável. O fato é que tinha um plano e tentava executá-lo bem, mas a perspectiva de conseguir um feito marcante na sua história parecia pesar de forma desfavorável. O efeito disso foi o recuo exagerado, o que quase puniu a equipe com um gol do Lobo já nos acréscimos. Porém, o resultado final foi mesmo a vitória da organizada e lutadora equipe de Resistência. O futebol agradeceu.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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