Especiais

Elementos em comum entre Flamengo e Boca

Mancuso: antes de ídolo no Flamengo, um jogador de seleção pelo Boca – para a sombra de Redondo!

Não só as torcidas de River e Flamengo estarão envolvidas nessa semana de final de Libertadores. Sabendo disso, planejamos publicações diárias envolvendo cada finalista e os grandes rivais um do outro. Após já termos mostrado os pontos em comum do River com o Botafogo, com o Vasco e com o Fluminense e de já termos previamente dedicado Especiais do tipo relacionando o Flamengo com o Racing e, ainda em 2017, um com o San Lorenzo (Robert Piris da Motta é a única cara nova) e outro com o Independiente, agora é hora de falar sobre os clubes mais populares de Brasil e Argentina. “O Mais Querido” e La Mitad Más Uno (a metade mais um): é claro, nos referimos a Flamengo e Boca!

Além de Urubu e bosteros serem originalmente xingamentos depreciando a massificação de ambos, Flamengo e Boca puderam ser campeões em torneios alusivos a 1920, 1943, 1944, 1954, 1965 (Estadual e Argentino), 1978 (Estadual; Libertadores), 1981 (Estadual, Libertadores e Mundial; Metropolitano), 1990 (Copa do Brasil; Recopa), 1992 (Brasileiro; Apertura), 1999 (Estadual e Copa Mercosul; Clausura), 2000 (Estadual; Apertura, Libertadores e Mundial), 2001 (Estadual e Copa dos Campeões; Libertadores), 2004 (Estadual; Sul-Americana), 2006 (Copa do Brasil; Clausura e Recopa), 2007 (Estadual; Libertadores), 2008 (Estadual; Recopa e Apertura), 2011 (Estadual; Apertura), 2017 (Estadual; Argentino) e 2019 (Estadual; Supercopa Argentina).

Se Fluminense e River, vistos como os grã-finos, tiveram larga simbiose na virada dos anos 30 para os 40, algo similar se viu entre os respectivos rivais, como se verá na lista abaixo. Mas os encontros ainda tardariam até os anos 50. Foram cinco amistosos entre 1951 e 1961: 2-2 no Maracanã em 1951, 4-2 para os cariocas no mesmo estádio e 1-1 na cancha do San Lorenzo em 1953, a única vitória flamenguista na Bombonera (4-2 em 1958) e um 2-2 no Maracanã em meio ao Octogonal de Verão ganho pelos rubro-negros – em torneio que envolveu ainda Vasco, São Paulo, Corinthians, River e os uruguaios Nacional e Cerro. Em torneio similar em Mar del Plata em 1968, o Boca ganhou de 2-0. Veio então o amistoso mais famoso, opondo em 15 de setembro de 1981 o time de Zico, a meses de vencer os troféus que marcaram-lhe o ano, e a esquadra de Maradona campeã argentina no mês anterior. O Galinho marcou os dois gols do tira-teima.

Desde então, as duas massas só se enfrentaram em torneios da Conmebol, pelas quartas-de-final da Libertadores de 1991 e pela fase de grupos da Copa Mercosul de 1998. Na Libertadores, Marquinhos e Gaúcho abriram um 2-0 descontado pelo jovem Gabriel Batistuta perto dos vinte minutos finais. O desconto custaria caro: na Bombonera, os argentinos já venciam por 2-0 antes da meia hora, em novo pênalti convertido por Bati (os flamenguistas quarentões ainda questionam o lance, assinalado em toque de mão em bola que aparentemente bateu na coxa) aos 21 e depois ampliado pelo seu sócio Diego Latorre a galope em contra-ataque – pouco após Marquinhos ter um gol anulado por impedimento inexistente, é verdade. Blas Giunta e Wilson Gottardo foram expulsos juntos no início do segundo tempo e Gaúcho os acompanhou faltando dez minutos, pouco após Latorre anotar o terceiro.

Na Copa Mercosul, por sua vez, os confrontos diretos foram determinantes, pois ambos terminaram com a mesma pontuação. Os argentinos avançaram graças a dois triunfos: um 2-0 na única vitória azul y oro no Maracanã e um 3-0 no estádio do Ferro Carril Oeste. Vamos, enfim, a quem defendeu ambos. Se já é difícil agradar à maior torcida de um país, agradar às duas foi coisa para pouquíssimos. Eis os nomes:

A dupla de zaga Moisés e Bibi e o encontro no Maracanã pela Libertadores de 1991: pode-se ver ao meio o atacante Gaúcho, outro a atuar nos dois clubes

Bibi: apelido de Felipe Jorge, esse zagueiro estreou no Flamengo em 1931, em meio ao mais largo jejum rubro-negro (1927-39). Com o futebol carioca ainda no debate na oficialização do profissionalismo ao passo que os grandes times argentinos já haviam se aberto a esse regime, rumou em 1934 ao Boca. Foi campeão argentino, mas não vingou; fez apenas mais quatro jogos depois do título até 1936, quando ingressou no Independiente, atuando somente pelo time B antes de passar ao Platense. Logo se distanciou do futebol, casando-se com María Esther Gamas, musa do cinema argentino na época.

Moisés: acompanhou Bibi do Flamengo ao Boca naquele contexto, fazendo com ele a dupla de zaga. Diferentemente do colega, ainda foi usado oficialmente em alguns jogos do bicampeonato em 1935. Depois voltou ao Rio para participar de uma sequência de títulos que o Fluminense teve até 1941.

Domingos da Guia: a dupla Bibi e Moisés era vista como o ponto fraco do Boca campeão de 1934 (62 gols sofridos, tantos quando o sexto colocado). Assim, a diretoria xeneize importou do Vasco mais um beque, Domingos da Guia, já consagrado no Rio da Prata após passagem pelo Nacional. Bingo: bicampeonato reduzindo-se literalmente pela metade a quantidade de gols sofridos, 31. Sua domingada também deslumbrou os hermanos; porém, em 1936 ele foi culpado por uma confusão generalizada e foi suspenso por nove meses, o que propiciou sua primeira passagem pelo Flamengo. Domingos ainda defendeu o Boca uma vez encerrada a suspensão, mas não ficou até o fim de 1937. O encanto não foi o mesmo e ele regressou à Gávea, onde permaneceu até 1943. Esteve no fim do jejum de doze anos em 1939 e nos dois primeiros títulos do primeiro tri seguido do Mengo no Estadual e sempre figura na lista de maiores ídolos dos dois clubes.

Agustín Valido: ponta-direita surgido das inferiores do Boca, jogou somente quatro partidas pelo time adulto, na virada de 1933 para 1934 – dois amistosos e dois jogos da campanha campeã de 1934. Seguiu carreira no Lanús. Em 1937, então, apareceu no Rio para defender um combinado de argentinos sem maior expressão, chamado de última hora – como não vinha sendo pago adequadamente no Lanús, topou. O catadão, denominado Beccar Varela, enfrentou a dupla Fla-Flu, o America e a Portuguesa. Valido agradou e permaneceu até 1942, participando dos títulos naquele ano e no desjejum de 1939. O resto é a história conhecida: já aposentado, foi convocado às pressas para os dois jogos finais da campanha de 1944, marcando, mesmo sob febre, o gol do título no clássico com o Vasco. Já dedicamos este Especial a Valido.

Simbiose na virada dos 30 para os 40: Orsi, agachado na foto esquerda do Boca, é o último em pé na esquerda do Flamengo, junto a Volante e Valido, com o negro Domingos da Guia se agachando ali e estando em pé na foto direita do Boca. O primeiro agachado nela é González, em pé na foto direita do Flamengo

Arcadio López: embora desde 1931 os principais clubes argentinos já houvessem escancarado o profissionalismo, à altura de 1934 sua liga ainda era “pirata”, com a associação oficial perante a FIFA ainda sendo oficialmente amadora – e enviando assim só jogadores dos times menores à Copa do Mundo. O lateral-direito López, então no Sportivo Buenos Aires, foi justamente um dos únicos daquele elenco (muito) aquém da real capacidade da Albiceleste a ter uma carreira razoável. Passou por Lanús e Ferro, que o transferiu a Boca em uma negociação incomum: em troca, recebeu lances de arquibancada do velho estádio boquense pré-Bombonera. O detalhe é que López vinha defendendo o Flamengo mesmo: chegou junto com Valido a partir daquele combinado Beccar Varela, com o passe oficialmente retido com os verdolagas. Jogou com a azul y oro principalmente em 1939, sendo uma opção de banco no título de 1940. Em 1942, voltou ao Lanús.

Francisco Provvidente: era uma formidável opção de banco no ataque do Boca entre 1935 e 1937, pois teve média superior a um gol por jogo – fez 43 em 34 jogos, especialmente de cabeça, mas calhava de concorrer exatamente com os maiores goleadores que o clube teve no século XX, os carismáticos Roberto Cherro e Francisco Varallo. Era então desejado pelo Nacional, mas o potencial de Provvidente fez os cartolas xeneizes reterem-lhe e dispensarem um certo Atilio García – justamente quem, então obscuro, viraria o maior artilheiro dos tricolores e do futebol uruguaio. Ironicamente, Provvidente acabou saindo pouco depois, acertado com o futebol europeu. Só que o capitão do navio, cauteloso com a guerra que se avizinhava, preferiu estender a escala no Rio de Janeiro e ele foi autorizado a defender o Flamengo após um imbróglio inicial ser resolvido por telefone. Foram dez gols em 25 jogos em 1938 antes de passar à Roma.

Alfredo González: ainda adolescente, o meia-direita apareceu em 1932 na seleção de sua Bolívar natal, campeã do ainda prestigiado campeonato de seleções regionais. O título rendeu negócio com o Talleres de Escalada, embora tardasse até 1935 para se firmar. Assim que conseguiu, não tardou a saltar ao Boca, vendido com o torneio de 1936 (sendo colega de Domingos) em andamento. Vendido ao futebol francês, calhou de estar naquela mesma viagem de Provvidente e recebeu similar licença para defender o Flamengo em 1938. Prolongou sua estadia na Gávea, participando do desjejum estadual em 1939 em um elenco que tinha Domingos e diversos argentinos. Após um retorno ao Boca em 1940, figurando em um jogo da campanha campeã, peregrinou pelo Rio: desempenhou bom papel por Vasco e Botafogo no início dos anos 40, foi o técnico do Bangu campeão de 1966 (sobre o Fla) e no Fluminense foi o antecessor do primeiro trabalho técnico de Telê Santana. Já dedicamos a González este Especial.

Carlos Volante: pelo Boca, ele jogou uma única vez. Foi em amistoso beneficente de pré-temporada de 1928, inclusive marcando gol em um 5-1. Atuava no Platense na época e seguiu carreira que logo o levaria à seleção e ao futebol europeu. Atuava na França quando improvisou-se como massagista da seleção brasileira na Copa do Mundo realizada ali, em 1938 – o que fez de Volante, de algum modo, o único argentino em uma delegação mundialista do Brasil. O intercâmbio com os tupiniquins propiciou uma vinda ao Flamengo, fugindo da guerra que se avizinhava na Europa, após já ter fugido em 1935 da Itália após ser convocado ao exército de Mussolini. Volante faria seu nome, ou melhor, seu sobrenome no Brasil: é por causa dele que o meia recuado, onde atuava com brilhantismo, passou a ser chamado de volante. Campeão em 1939, 1942 e 1943, ainda teria toque de Midas como técnico na Bahia e no Rio Grande do Sul. Já dedicamos este Especial a Volante.

Raimundo Orsi: foi um dos mais globalizados jogadores do seu tempo. Ponta-esquerda brilhante no Independiente dos anos 20, foi vendido à Juventus após as Olimpíadas de 1928. Integrou o elenco penta italiano nos anos 30, popularizando nacionalmente o clube de Turim e integrando a seleção italiana campeã de 1934, onde marcou gol na final. Porém, fugiu da Itália pelo mesmo receio de Volante com a convocação ao exército fascista. Após uma reaparição inicial no Independiente em 1936, passou no segundo semestre ao Boca, sem exibir a qualidade de outrora. Assim, rumou por Platense e Almagro antes de chegar badalado ao Flamengo de 1939. Mesmo sem conseguir titularidade, ainda passaria pelo Peñarol – é provavelmente o primeiro a defender potências de quatro países campeões do mundo. Teve posterior proeminência em Mendoza como treinador de clubes locais. Já dedicamos este Especial ao Orsi.

Alarcón está agachado nas duas fotos da esquerda. Arcadio López é o homem atrás dele na do Boca. As da direita são de Fleitas Solich

Ricardo Alarcón: foi um dos primeiros goleadores do profissionalismo argentino, o meia-direita ficou no San Lorenzo de 1933-39. Campeão em 1933 e 1936, foi neste ano artilheiro e chegou à seleção. Em 1940, foi ao Boca e imortalizou-se como autor do primeiro gol da recém-inaugurada Bombonera. Fez 20 gols na campanha do título daquele ano e seguiu na seleção, integrando o elenco vencedor da Copa América de 1941. Estava no Platense quando incorporou-se veterano ao Flamengo, participando do tricampeonato de 1942 a 1944 como uma opção de banco.

Jorge Benítez: no Boca, falar de Jorge Benítez é falar do Chino Benítez, ídolo do copeiro time dos anos 70. Mas antes o clube teve na meia-esquerda esse xará paraguaio entre 1949 e 1952. Importado do Nacional de Assunção após destacar-se na Copa América de 1949 pela terra natal, precisou até assinar cláusula onde se responsabilizava por seus conhecidos riscos cardíacos. Seu melhor ano foi o de 1950, marcando gols em sequência no vice-campeonato logrado por um elenco que brigara para não cair até a rodada final do ano anterior. Ele chegou a marcar naquele 2-2 de 1951 que marcou o primeiro duelo Boca-Flamengo, reforçando o adversário no ano seguinte. Brilhou ao longo de todo o segundo tri estadual seguido na Gávea, de 1952 a 1955 (que encerrou jejum pendente desde o fim do primeiro tri, inclusive), antes de reforçar o Náutico.

Eusebio Chamorro: o goleiro reforçou pontualmente no Boca em dez jogos de uma excursão pela América Central na virada de 1950 para 1951 (incluindo vitórias sobre as seleções da Guatemala e de Honduras), pois na Argentina seu único clube oficial foi o Newell’s. Trocou os rojinegros pelos rubro-negros em 1953 e se deu bem, participando ativamente do segundo tri estadual.

Manuel Fleitas Solich: volante que se notabilizou pelo seu Paraguai nos anos 20, reforçou o Boca em 1927 – quando o amadorismo no futebol argentino já era algo de fachada. Brilhava como líder em campo até sofrer uma inoportuna fratura em setembro de 1930, em meio à campanha do que foi seu primeiro título argentino. Em 1931, os xeneizes se juntaram aos clubes mais populares e escancaram o profissionalismo em uma liga rebelde, depois convalidada como oficial. Fleitas Solich pôde participar de dois jogos de um novo título para o Boca, mas já não era o mesmo e no decorrer do torneio passou ao Racing. Viria à Gávea como treinador, na esteira de seu sucesso à frente de seu Paraguai natal, ao qual conduzira ao primeiro título guarani na Copa América – sobre o Brasil, em 1953. Logo comandou o segundo tri estadual, auge de um trabalho que lhe credenciou a ser sondado para dirigir a própria seleção brasileira de 1958. Não chegou lá, mas fechou com o Real Madrid de Di Stéfano.

Almir Pernambuquinho: o primeiro Pelé Branco ficou mais conhecido pelo temperamento problemático, ofuscando o grande craque que era. Após consagrar-se no Vasco e figurar na seleção, estava no Corinthians quando o Boca, treinado pelo brasileiro Vicente Feola, contratou-o em meados de 1961. Almir livrou-se de diversos colegas enciumados no Parque São Jorge (os 6,5 milhões de cruzeiros para tira-lo do Vasco, dinheiro suficiente para erguer um prédio, foram um escândalo na época), mas terminou usado mais em amistosos do que em jogos oficiais na Argentina. Em sua única aparição na campanha campeã de 1962, causou briga generalizada com o Chacarita e foi expulso, já estando no Genoa quando o título se confirmou. Após poder brilhar no Santos de Pelé, ele apareceu veterano no Flamengo e a última impressão foi bastante similar: na derrota de 3-0 para o Bangu de Alfredo González que deu o título de 1966 aos alvirrubros, originou nova pancadaria generalizada.

Os brasileiros Almir Pernambuquinho e Rodrigues Neto: em comum, a chegada pomposa e saída sem êxito no Boca

Rogelio Domínguez: consagrado no Racing e no Real Madrid de Di Stéfano nos anos 50, esteve perto de ser o primeiro a vencer tanto a Liga dos Campeões como a Libertadores, na qual esteve na final de 1967 pelo derrotado Nacional uruguaio. Insatisfeito ao perder a posição para Manga em 1968, acertou com o Flamengo, que viria a ser seu último clube. Começou com grandes atuações, mas saiu crucificado por uma expulsão no Fla-Flu decisivo de 1969. Ainda assim, houve quem votasse nele como melhor goleiro do clube em eleições promovidas pela Placar em 1994 e 2006. Em 1973, tornou-se técnico do Boca, em um ciclo de altos e baixos que durou até 1975: fazendo o estilo boleirão, pôde proporcionar um futebol elogiado, mas incapaz de render títulos – ele é o técnico não-campeão que por mais tempo e jogos durou na Casa Amarilla. Dedicamos em julho este Especial sobre Domínguez, nos 15 anos de seu falecimento.

Dino Sani: reserva do Brasil campeão de 1958, veio do São Paulo ao Boca em 1961 sob os braços de Vicente Feola, seu comandante naqueles dois elencos. Foi reconhecido pelos xeneizes pela inteligência, e também pelos italianos do Milan, que o contrataram após reles seis meses que o brasileiro viveu em Buenos Aires. No Flamengo, Dino Sani esteve no ano de 1981, mas na parte ruim: era o técnico no primeiro semestre, onde os rubro-negros caíram para o Botafogo no Brasileirão, sendo então sucedido por Paulo César Carpegiani. Reergueu-se no Internacional seguidamente campeão estadual até 1984 e assim recebeu nova aposta do Boca, que vivia o pior ano de sua história – o time beirou a extinção e o brasileiro não pôde dar certo, com estadia ainda menor: cinco meses que incluíram a pior goleada já sofrida pela azul y oro, os 9-1 para o Barcelona no Troféu Joan Gamper.

Rodrigues Neto: chegou ao Flamengo ainda juvenil, descoberto no Espírito Santo. Estreou em 1968 no time principal, tendo altos e baixos até integrar o troca-troca com o Fluminense em 1976. Sem se firmar, era escalado nas mais diversas posições da defesa e do ataque até se sedimentar na lateral a partir de 1972, vencendo o estadual e chegando à seleção. Após jogar a Copa de 1978, apareceu na Argentina inicialmente no Ferro Carril Oeste que germinava o elenco que daria as únicas taças logradas pelos verdolagas, em 1982 e 1984. Não ficou para a glória, mas o bom desempenho o fez ser chamado para a própria seleção portenha em 1980. Seu técnico no Ferro era Carmelo Faraone, que o trouxe ao Boca para o segundo semestre de 1982. O clube já beirava a crise que viria em cheio em 1984 e o brasileiro não conseguiu exibir a mesma qualidade de outrora. Saiu de La Boca rumo ao São Cristóvão antes de pendurar as chuteiras em Hong Kong. Dedicamos em abril este Especial póstumo a Rodrigues Neto.

Gaúcho: formado na base rubro-negra, chegou a ser carrasco do próprio clube (pelo Palmeiras, em 1988, ao defender pênaltis como um goleiro improvisado) antes de embalar com a Copa do Brasil de 1990 e a artilharia na Libertadores de 1991 – desempenho que rendeu um empréstimo-relâmpago ao Boca apenas para os dois jogos contra o Newell’s que decidiram a temporada argentina de 1990-91, suprindo o desfalque de um certo Gabriel Batistuta para a Copa América. Criticado severamente pela falta de eficiência e empenho naqueles jogos encerrados com perda dramática do título em plena Bombonera (em contexto que significava a permanência de um jejum nacional de dez anos a afligir a apaixonada massa xeneize; seriam onze, ainda o maior do clube), voltou à Gávea para ser a referência ofensiva na conquista do Brasileirão de 1992, o primeiro pós-Zico. Dedicamos em 2016 este Especial póstumo a Gaúcho.

Gaúcho e Charles, outros brasileiros recordados como fiascos especiais com a azul y oro

Charles: já consagrado no Bahia e no Cruzeiro, pelo qual ganhara a Supercopa de 1991 com um baile de 3-0 no River revertendo derrota de 2-0 na ida, teve seu passe comprado junto aos mineiros por ninguém menos que Maradona. O “Anjo 45” reforçou os auriazuis no segundo semestre de 1992 com essa enorme pressão adicional em um time já muito cobrado por encerrar o jejum nacional. Charles até conseguiu o que Gaúcho não pudera: justamente naquele Apertura 1992 a pior seca xeneize no campeonato argentino acabou, mas sem que o brasileiro brilhasse. Só jogou cinco jogos, sem marcar, no início da campanha, além de dois amistosos subsequentes contra o Sevilla do comprador Maradona. Já estava no Grêmio em 1993 e apareceu como Charles Baiano no Flamengo em 1994, para não ser confundido com o xará Charles Guerreiro. Teve bom desempenho artilheiro na Gávea, mas insuficiente para levar às taças e para permanecer para 1995.

Alejandro Mancuso: promessa formada no Vélez, Mancu só veio a ser reconhecido pela seleção argentina já como jogador do Boca. Não virou ídolo eterno, mas seu bom momento ao longo de 1993 cavou-lhe um lugar no Mundial de 1994 como reserva do ícone Fernando Redondo. O futebol brasileiro o importou em 1995, inicialmente através do Palmeiras. Reconhecido peça raça, por vezes exagerada, foi no Flamengo que o volante realmente virou ídolo. Ganhou em 1996 o Estadual (invicto) e a obscura Copa Ouro, além de chegar às semifinais da Copa do Brasil, embora tenha caído de produção como o resto do time no segundo semestre – voltando em 1997 à Argentina para defender o Independiente. Já dedicamos este Especial a Mancuso quando o volante fez 50 anos.

Luiz Alberto: zagueiro profissionalizado no final do século pelo Flamengo, participou tanto no tri estadual como nas participações aquém do razoável no Brasileirão, sem virar destaque duradouro. Após passar por diversos clubes brasileiros, tornou-se no primeiro semestre de 2010 o último brasileiro contratado pelo Boca. Não se ambientou e saiu ainda antes do fim de um péssimo Clausura – individual e coletivamente falando.

Claudio Borghi: talvez o mais renomado a naufragar nos dois times. Contamos em setembro que El Bichi foi o primeiro “novo Maradona” e justamente o único capaz de rivalizar no Argentinos Jrs com Dieguito, a quem acompanhou na Copa de 1986. Mesmo após passo em falso no Milan e no River, ainda tinha 25 anos quando chegou no segundo semestre de 1989 ao Flamengo, recebido com festa para suprir a saída de Bebeto. Só jogou seis vezes em seis meses, forçando um retorno à Argentina (mesmo que para defender o Independiente, embora torça pelo rival Racing). Após faturar no seu Argentinos Jrs o Clausura de 2010, credenciou-se para assumir o Boca no segundo semestre. Perdendo metade dos jogos, foi despedido com o torneio curto ainda em andamento. Já dedicamos este Especial a Borghi em setembro, quando o craque fez 55 anos.

Os mais recentes: Luiz Alberto e Borghi

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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