Primeira Divisão

Gigliotti: “vou marcar contra o River e vou correr pra galera”

Artilheiro perdeu intimidade com as redes. Mas a língua segue afiada
Artilheiro perdeu intimidade com as redes. Mas a língua segue afiada

Vivendo dias de artilheiro sem gols, Emmanuel Gigliotti se apresentou para uma conferência de imprensa e advogou em torno de sua pobre condição no ataque xeneize. Disse que a vida de qualquer camisa 9 não é fácil no Boca, pois a equipe na ajuda. Disse que não se importa se seu companheiro será Acosta ou Burrito Martínez; disse que se fizer um gol vai beijar o escudo e correr para os braços do povo. Só não disse por que motivo não é sombra do atacante que vestiu a camisa albiceleste e que brilhou em outras equipes menores.

Peso da camisa é algo que persegue muita gente boa no futebol. Parece ser o caso de Gigliotti, embora ele não concorde com nada disso. Porém, o que explica que um jogador com sua categoria não consiga chegar às redes vestindo a gloriosa camisa do conjunto da Ribera? “O problema não é meu”, disse o artilheiro, “um centroavante, na maioria das vezes, precisa do bom funcionamento de toda a equipe; se a equipe funciona bem, um artilheiro como eu sempre terá mais oportunidades para marcar”, completou Gigliotti. Apenas se esqueceu que uma equipe nem sempre vai trabalhar pelo 9 e que é justamente nesses casos, que um atacante diferenciado precisa mostrar sua categoria. Não fosse assim e o Boca ficaria apenas com Claudio Riaño.

Claro que a culpa não é só dele; de vez em quando também os repórteres pecam ao não fazerem a perguntinha incômoda, mas necessária. Mas, e por que não fez contra o Quilmes, artilheiro? “Bem, contra eles não tivemos a quantidade de situações que pretendíamos”, disse o camisa 9, de novo aludindo à incompetência da equipe. E continuou na martelada: “Isto também pode significar que o funcionamento da equipe não está andando. Pode-se dizer que talvez por isso é que tenho tido poucas oportunidades, mas estamos trabalhando para melhorar”, completou o atacante cara-de-pau.

E o River, artilheiro? “Não estou preocupado com eles. River é uma boa equipe, tudo bem; e precisaremos fazer um bom jogo para vencê-los”, afirmou o camisa 9, escondendo nos dentes a seguinte frase: “vamos ganhar deles fácil, fácil, no domingo; para tanto precisaremos somente fazer um bom jogo. Só isso”.

Mas… diga aí, meu filho, o jogo assusta ou não? “Bem, estou tranquilo e desfrutando o momento; vamos jogar em casa e a cancha estará lotada”, prognosticou o que todo mundo já sabe, mas se esquecendo que também a hinchada xeneize pode complicar sua vida, se ele insistir com essa história de refugos na hora H. E não parou na ousadia: ‘quer saber?’ “já me imagino festejando com a torcida do Boca; se eu fizer um gol vou beijar o escudo e tudo”. Deixou escapar o artilheiro, que estava tão empolgado que quase estendeu sua fala: “e mais: vou até comemorar com o Riquelme, para que todos vejam o quanto somos unidos”.

Diante de tanta festa, faltou a perguntinha sobre por que motivo ele não fez nada disso contra o Quilmes. Contudo, o assunto voltou e ele disse: “não encontramos muitos espaços. O Luciano (Acosta) tem a mania de ficar muito lá atrás, mas ao menos nas outras partidas não me senti tão isolado. Porém, na nossa casa, jogamos diferente. E treinei bem ao lado de Martínez (o Burrito)”, disse Gigliotti, praticamente publicando sua preferência quanto ao seu companheiro de ataque.

E quanto ao campeonato, artilheiro? “Está muito parelho, como não ocorre há muitos anos. É bom que seja assim; é muito mais interessante. Nó pretendíamos estar mais na parte de cima da tabela. Não fizemos o que queríamos para isso, porém, estamos perto”, finalizou o camisa 9 do Boca, novamente se esquecendo de algo: para o elenco que tem o Boca, a questão não é somente a de pretender está na ponta da tabela. Trata-se de uma obrigação. Newell´s, San Lorenzo, Vélez e Lanús estão na Libertadores, Independiente na segunda divisão e o River numa crise de identidade que ficou como herança mal resolvida dos tempos de B Nacional. Então, ficou o Boca e todos os demais. E a equipe xeneize não consegue ser melhor que o modesto Colón de Santa Fe.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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