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Gravações de Julio Grondona aparecem e causam escândalo. Prejuízos a clubes brasileiros estão na pauta

A noite de domingo trouxe novidades bombásticas para o futebol argentino e sul americano. O canal de TV America em dois programas seguidos (La Cornisa e Show del Futbol) trouxe gravações inéditas de conversas de Julio Grondona que confirmam antigas suspeitas e causam escândalo no país. E não apenas na Argentina, já que há fatos relacionados a clubes e instituições de outros países sul-americanos. Dois clubes brasileiros aparecem como prejudicados pelas manobras do poderoso chefão.

Por motivos óbvios, o trecho mais comentado no Brasil foi aquele em que aparecem de relance referência a armações de Grondona contra dois clubes brasileiros em partidas separadas no tempo por quase 40 anos. O tema da conversa era a escolha do árbitro para Boca x Newell’s, pela Libertadores de 2013. O interlocutor era Abel Gnecco, diretor da escola de árbitros da AFA e representante da instituição na Conmebol. Ambos nitidamente empenhados em escolher a dedo o nome que iria dirigir a partida (não fica claro se o objetivo era um árbitro que ajudasse alguma das equipes).

Logo no começo da conversa Grondona diz que Amarilla foi o maior reforço que o Boca teve no ano, referência à atuação do árbitro paraguaio, claramente favorável aos xeneizes, na partida contra o Corinthians, no Pacaembu. Gnecco narra uma conversa que teve com o representante da Conmebol, que indica claramente que Amarilla foi uma indicação da AFA: “Alarcón, coloque logo Amarilla e pare de me encher o saco. Bem, foi isso, ele o colocou e tudo saiu bem”.

A rigor as declarações não comprovam com toda a certeza que Amarilla entrou em campo para prejudicar o Corinthians. Fica provado que: 1) Foi uma indicação, digamos, enfática da AFA, acolhida pela Conmebol, mostrando a força de Grondona na entidade que comanda o futebol sul americano; 2) Grondona considerou (aparentando satisfação) a atuação do árbitro muito favorável ao Boca. Não fica comprovado o dolo de Amarilla, mas há toda a razão do mundo para crer que a AFA considerava o árbitro no mínimo simpático a seus interesses. Em suma: está relativamente claro que houve uma manobra bem sucedida de Grondona, ainda que estritamente no âmbito jurídico o desejo do paraguaio de favorecer o Boca não tenha ficado comprovado.

Hoje Amarilla foi ouvido pela Rádio 970 de Assunção. Declarou que: “Não dirigi tantas partidas por ter a cara bonita. Quero uma investigação. É o que mais quero, que me investiguem”. Acrescentou ainda: “quando a partida terminou me reuni com nosso instrutor e revimos as imagens. Houve erros, e por isso me suspenderam por um bom tempo. É a lei do futebol e a arbitragem é assim”.

Quase ao fim da conversa, outro clube brasileiro aparece prejudicado em jogo da Libertadores pelas manobras de Grondona. O manda chuva adverte Gnecco de que “é preciso ter cuidado com os bandeirinhas. Às vezes você faz tudo certo com o juiz e o bandeirinha estraga tudo. Em 1964, quando jogamos contra o Santos, ganhei o juiz Leo Horn, que era holandês, com os bandeirinhas”, se referindo à semifinal da Libertadores daquele ano, quando o clube da vila foi eliminado pelo Independiente, clube do coração de Grondona, que naquele momento fazia parte da direção dos Diablos de Avellaneda.

Por motivos óbvios, as referências a Corinthians e Santos monopolizaram as atenções da imprensa brasileira nesse episódio. Mas há muito mais: mudanças de horários de partidas por motivos irregulares, a já citada escolha a dedo do árbitro de Boca x Newell’s, sonegação fiscal, planejamento de vendettas contra rivais políticos, favorecimento explícito a um clube do ascenso (Estudiantes de San Luís, clube que conseguiu dois acessos nos útlimos dois anos), apoio ao Colón, para que o Sabalero vencesse o Argentinos Jrs. e salvasse o Independiente do rebaixamento, relações com empresas processadas pelo fisco argentino…

Enfim, o repertório é extenso. Nada mais pode ser feito contra Julio Grondona. Mas seus interlocutores e comparsas, além de outras pessoas explicitamente citadas estão vivas. Serão punidas?

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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