Libertadores

Uma cultura que precisa acabar: a da violência, mas não só no futebol

Quando foi realizado o sorteio da fase de grupos da Copa Libertadores de 2023, mal imaginaria eu que iria acompanhar os dois jogos do Racing Club contra o atual campeão da competição, o Flamengo. Foi meio sem querer que as coisas foram acontecendo e deu certo de eu ir nas duas partidas, a primeira em Avellaneda, no dia 4 de maio, e a segunda nesta última quinta-feira (08/06).

Se no jogo em Avellaneda não houve qualquer tipo de dificuldade para ir até o El Cilindro, no Maracanã passamos por poucas e boas. A torcida da equipe argentina saiu do Posto 2 em Copacabana, para ir até o Maracanã, por volta de 18h45. Ou seja, pouquinho mais de duas horas antes do jogo. Fomos todos escoltados pela polícia, que desde o começo da concentração, por volta de 17h, foi de certa forma muito amigável. Muito mais do que se espera para um jogo que envolvia certo nível de tensão.

Sem contar a grandiosa rivalidade entre Brasil e Argentina quando o assunto é futebol, a partida envolvia o líder do grupo, o Racing (10 pontos), contra o segundo colocado, o Flamengo (5 pontos). Ou seja, o Flamengo precisava muito mais da vitória do que o Racing, que já entrou em campo classificado para a próxima fase.

Bom, estávamos em 12 ônibus e 4 vans rumo ao Estádio Jornalista Mário Filho. Para chegar até o estádio, o caminho foi simples: Princesa Isabel, Pinheiro Machado, Túnel Santa Bárbara, Presidente Vargas. Em seguida, passamos por São Cristóvão, para dar a volta e não sair de frente ao Maraca, onde obviamente estaria grande parte torcida flamenguista.

Ao chegar próximo do Morro da Mangueira, uma virada de chave. O clima ficou bastante tenso, por uns 5 a 10 minutos. Pessoas nas ruas próxima a Mangueira estavam atirando muitas pedras (e talvez “atirando” outras coisas) em direção aos ônibus. A polícia fez o possível para conter essas pessoas e bombas e mais bombas foram escutadas. Ao todo, cinco dos ônibus tiveram vidros estilhaçados. Aparentemente, ninguém ficou gravemente ferido. O duro de tudo isso é que, na sua imensa maioria, éramos pessoas que viajavam com amigos ou familiares. Pais e mães, filhos e filhas, avôs e avós.

Em 2017 e 2019 fui de caravana, sempre saindo do centro de São Paulo, para os jogos que o Racing fez contra o Corinthians, ambos em Itaquera. A sensação que conclui naquelas duas oportunidades, de longe mesmo, foi que era a melhor forma de chegar no bairro da Zona Leste Paulistana. E olha que sempre achei as caravanas brasileiras perigosas, mas geralmente, elas são compostas unicamente por torcidas organizadas. Ali, entre umas 600, 700 pessoas do Racing, o que você menos tinha eram os Barra Bravas… Talvez um ônibus, ou seja, cerca de 50 pessoas.

Um dia depois, pensando com mais calma sobre o que se passou alguns metros da chegada do Maracanã, um alerta acendeu entre nós, torcedores que fazemos parte da Filial Brasil – João Cardoso do Racing Club. Atitudes como essa matam o futebol raiz. Porque é assim que as equipes visitantes vão ficando sem a oportunidade de ter seus torcedores em jogos fora de casa. Já é assim na Argentina, também é assim em São Paulo (acho que só neste estado, que eu me lembre, os visitantes são proibidos).

Um agradecimento especial aos 16 motoristas que foram dirigindo até o estádio para que a torcida do Racing (uma grande parte dela) pudesse chegar no Maracanã. E um sentimento, como brasileiro, de pedir desculpa aos racinguistas, que saíram de suas cidades (sejam elas no Brasil ou na Argentina). É triste. É lamentável. A troco de que, ameaçar vidas de pessoas comuns, que não queriam fazer nada demais. Apenas torcer por suas equipes? Ah, e outra pergunta: qual o benefício para imagem do Rio de Janeiro (cidade e estado) isso ter acontecido com pessoas que, em sua maioria, eram meros turistas?

Gustavo Coelho

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  • Pra mim, uma possível solução seria punir o bolso desses marginais.
    Foi pego em flagrante? Leva preso.
    Pena: 12 meses de trabalho gratuito ao Estado.
    Quer pagar fiança? a pena diminui para 6 meses.
    Detalhe: uma fiança de, no mínimo, R$ 5.000,00.
    Mas o Brasil é uma mãe onde a legislação protege grande parte.

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