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Graves incidentes na partida entre Chacarita e Atlanta

Chacarita Juniors e Atlanta disputavam mais uma edição do clássico de Villa Crespo, com potencial de ser uma partida memorável. Ambos lutam contra o rebaixamento, e o vencedor escaparia da zona do descenso direto, deixando lá o derrotado. Mas, ao fim, a violência dominou, mais uma vez.

A partida terminou 1 a 1, com os funebreros empatando a partida em cima da hora, aos 47 minutos do segundo tempo. Mas os jogadores locais não se conformaram com a anulação de um gol anterior e partiram para cima do juiz. No entanto, essa cena, não de todo incomum, pouco teve a ver com o que viria depois. A partir dali, os violentíssimos barrabravas do Chacarita seriam os protagonistas de um triste espetáculo.

O clássico teve torcida única: a entrada dos torcedores do Bohemio foi proibida, pois, assim como no Brasil, muitos argentinos acham que os problemas de segurança serão resolvidos sem duas torcidas em campo. Mas lá estavam dirigentes e jornalistas partidários (ou seja, que trabalham em veículos voltados apenas para um clube, muito identificados a ele), e foram esses os alvos da violência dos barras locais.

A violenta agressão resultou em um diretor do Atlanta no hospital, graças a uma pedrada na cabeça, e outro com fratura de perônio. Jornalistas, dirigentes e jogadores auriazuis se refugiaram no vestiário, só conseguindo sair mais de duas horas depois do fim do jogo. Indignado, o goleiro Pellegrini escrevia no twitter, ainda em um vestiário sitiado por torcedores rivais: “filhos da puta, a polícia e esse pessoal de merda que vai ao estádio. Não podemos sair do vestiário”. Em seguida acrescentaria: “Estamos bem, mas presos no vestiário. Há jornalistas e dirigentes feridos, mas felizmente nada grave”.

Com árbitro e rivais a salvo no vestiário, os “torcedores” do Chaca se sentiram livres para atacar os poucos policiais que estavam na cancha de San Martín. Nas ruas do entorno do estádio foram disparadas balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio, etc. Ao fim, aparentemente nenhum policial se feriu. Mas o estrago estava feito: mais uma vez a violência venceu o futebol.

Agora resta aguardar as providências da AFA. Hoje já circula a informação de que o Chacarita deverá jogar o resto do torneio sem torcida local nas partidas em que for o mandante. Poderá também perder os mandos que lhe restam. Possivelmente tais medidas decretariam de vez o descenso funebrero para a B Metropolitana. Mas ainda é pouco. Enquanto punições duríssimas não ocorrerem, tais fatos seguirão sendo corriqueiros.

 

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

3 thoughts on “Graves incidentes na partida entre Chacarita e Atlanta

  • Aron Ruales

    Sou um grande fã do chacarita, não gostaria de vê-lo jamais na 3º divisão metropolitana, mas a cada dia que passa isso se torna realidade.

    Tão lindo o novo estadio do chacarita, mas o seu torcedor está estragando tudo.
    Toda punição é pouca para o que eles fizeram.
    Vão acabar igual ao Nueva Chicago.

  • Tiago

    Não sei se alguém mais conhece (imagino que este blog sim), mas tem um blog que se dedica a cobrir essas e outras histórias de violência em torno do futebol argentino:

    http://acaestalahinchada.blogspot.com/

    São coisas de arrepiar, mesmo para quem costuma acompanhar o futebol no Brasil. Chefes de organizadas invadindo vestiários e exigindo dinheiro dos jogadores e dos dirigentes, criança que perdeu a visão de um olho após tomar uma pedrada enquanto ia para o estádio com a família, assassinatos de líderes de barras por disputas em torno de pontos de drogas… A lista parece interminável, assim como as mortes de torcedores. Por essas e outras que o futebol argentino se esvazia a cada temporada, pois quem tem condições de sair acaba preferindo ir jogar onde lhe pagam melhor e é mais seguro (e isso que o Brasil está longe de ser modelo em segurança).

    Como li no blog ontem, “Así está el fútbol argentino hoy, un delirio de violencia social que ya ni siquiera necesita la excusa de un partido para desatar todo el tiempo la barbarie.”

  • LEANDRO LITUANO

    Vale ressaltar que não é a primeira vez neste ano que um jogo do Bohemio tem confusão e briga com torcedor.Em Rosário a coisa foi feia e a polícia local, ajudou a torcida do Canalha nas agressões aos hinchas do Atlanta. Um absurdo !

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