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Blog FP: Como Farías explica erros de clubes brasileiros com jogadores estrangeiros

Ernesto Farías saiu do Cruzeiro sem deixar saudades. Após um ano e meio sem convencer ninguém, o atacante foi para o Independiente. E ontem decidiu o melhor jogo de 2012, com um espetacular hat-trick dentro da Bombonera. O que pensar disso tudo?

Dizer que Farías não correspondeu em Belo Horizonte é constatar o óbvio. A questão que resta é: não correspondeu a que expectativa, exatamente?

Tecla Farías é um artilheiro competente, que já foi artilheiro tanto no campeonato argentino como na Libertadores. Mas nunca foi um craque. No entanto essa era a expectativa criada sobre ele quando de sua chegada à Toca da Raposa. Basta ver seu altíssimo salário. É evidente que, feliz com o sucesso de Montillo, o clube mineiro imaginava incorporar um segundo jogador de alto nível. E isso condenou ao fracasso sua passagem pelo Brasil.

A história escancara dois problemas que aparecem com muita frequência quando clubes brasileiros resolvem contratar estrangeiros. O primeiro é a tendência a só aceitar estrangeiros que possam ser protagonistas, donos do time. Segundo Defederico, no Brasil estrangeiro joga como Messi ou não serve. A declaração é exagerada, mas não muito.

O resultado é que mesmo tendo o futebol mais poderoso financeiramente da América do Sul, o Brasil é o país que faz menos uso dos jogadores de países vizinhos. Enquanto clubes argentinos, chilenos e equatorianos se reforçam com bons jogadores estrangeiros, que mesmo quando não são craques podem ser úteis, o Brasil os dispensa como trambolhos inúteis quando não se mostram craques instantaneamente (Farias ficou um ano e meio no Cruzeiro, período no qual jogou apenas 35 vezes).

O segundo problema é a contratação de jogadores desconhecidos. Como os clubes não têm olheiros acompanhando o futebol desses países, os atletas são contratados por indicação ou pelo famoso DVD. Os jogadores chegam a um país desconhecido, com uma cultura futebolística própria, sem que o clube para onde vai conheça a suas características e obrigado a se mostrar como craque num estalar de dedos.

Apenas para dar um exemplo hipotético. Brasileiros gostam e privilegiam volantes de alto poder de marcação. Nesse contexto, um craque como Verón poderia sofrer muito caso tivesse sido contratado por uma equipe brasileira mesmo no auge de sua carreira. É provável que seu treinador o achasse fraco na marcação, o escalasse como meia avançado, posição em que não se sente à vontade. Não renderia, e sairia do Brasil logo em seguida, ridicularizado por todo o país. Poderia voltar a seu país, fazer sucesso jogando dentro de suas características, e grande parte de nossa mídia e torcida diriam “puxa, o Verón é o melhor do time? imagine que porcaria deve ser esse time! vamos ganhar fácil deles!”.

O que aconteceu com Ernesto Farías não surpreende. Um artilheiro sem maior refinamento, contratado a peso de ouro, com expectativas de ser craque instantâneo em um país que não conhece suas características. Isso explica muitos fracassos de jogadores estrangeiros no Brasil. Pois obrigação de ser craque instantâneo em um país novo, com expectativas irreais e muitas vezes jogando fora de posição é algo que pode ser uma barreira dificílima de superar.

ATUALIZAÇÃO – Em nenhum momento o texto acima disse que Farías poderia ter resolvido os problemas ofensivos do Cruzeiro ou que a culpa de seu insucesso no Brasil tenha sido da Raposa. O que se disse, e é repetido agora, é que foi uma avaliação errada sobre o jogador, que gerou expectativas que Farías não teria cumprido mesmo que tivesse tido um desempenho mais aceitável, já que se esperava muito. O dinheiro que o Cruzeiro desembolsou para trazê-lo mostra o quanto se esperava dele.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

11 thoughts on “Blog FP: Como Farías explica erros de clubes brasileiros com jogadores estrangeiros

  • Tiago,

    Mas nada disso apaga a passagem ruim do Farías no Cruzeiro. Ele não fez por merecer os 200 mil por mês que ganhava, mas nem se ganhasse 50 mil teria honrado esse salário. Acontece e não acho que aconteceu porque ele é estrangeiro. Não são só estrangeiros que são contratados com uma expectativa que é frustrada depois.

    E o Farías chegou ao Cruzeiro junto com o Montillo, no meio de 2010. Não o buscaram porque queriam outro argentino bom que nem o Montillo. Inclusive, em janeiro de 2010, o Farías quase tinha vindo para o Cruzeiro na troca pelo Kléber Gladiador. Era um namoro antigo.

  • Tiago de Melo Gomes

    Se o Farías fosse brasileiro saberiam das características e limitações dele e que ele estava sendo pouco aproveitado nos últimos tempos. O contratariam sabendo disso tudo, e por um preço menor. Teriam paciencia, pois sem custar tanto dinheiro daria para dar mais tempo para ele mostrar seu futebol. Em suma, se ele tivesse sido contratado por quem ele é, e não pelo que imaginavam erroneamente que ele era, a coisa toda teria sido distinta desde o começo.

  • Pitaqueiro

    Uma vírgula. Guinazu e Bollatti não são os donos do time no Inter. Valencia não é o dono do time no Fluminense. São volantes úteis aos seus times e respeitados pelas suas torcidas.

    Talvez Farias não tenha correspondido às expectativas de goleador que nele eram depositadas.

    E mais: “os clubes” não têm olheiros é demais. Alguns clubes possuem, e o fazem com muita competência.

  • LEANDRO LITUANO

    Farias foi um fracasso não só no Brasil, também na Europa….quando jogava no River , cansou de perder gols incríveis.Enquanto ao Defederico , o bom do time do Huracan na época era mesmo o Pastore o “Time da Marginal sem Número´´ ouviu cantar o pássaro mas não soube escolher.Sorte do Palermo da Itália e azar do Independiente que assim com o SL está com um time horrível e cheio de jogadores caneleiros na frente .

  • Tiago de Melo Gomes

    Aos que escreveram com educação eu respondo que não foi dito no texto que Farías era um grande jogador nem que a culpa de ele não ter dado certo por aqui foi do Cruzeiro. Apenas foi dito que se tratou de um erro de avaliação sobre as potencialidades do jogador, gerando uma expectativa que ele não poderia cumprir. Mesmo que tivesse tido um desempenho melhor, provavelmente geraria frustração da mesma maneira, já que se esperava mais do que ele poderia fazer. O que foi dito é isso.

  • Rodrigo Figueiredo

    Prezado Tiago,

    O principal problema do Farías no Cruzeiro foi, na verdade, a sua timidez e os inimigos que arrumou por causa dela. O jogador jamais falava com os repórteres, por não saber bem o português. Assim, ganhou a antipatia do pior inimigo que alguém pode ter: a imprensa!
    Conheço vários cruzeirenses, como eu, que apesar de reconhecerem que o Farías não era o ideal, achavam que era o melhor atacante que o time dispunha na luta contra o rebaixamento no campeonato passado.
    Farías teve também a antipatia do técnico do time quando foi contratado: o Cuca, que sempre protegeu o péssimo (mas excelente “marqueteiro”!) Wellington Paulista. Quem precisa de mais do que isso para dar errado numa equipe? Quando o Wagner Mancini assumiu, até que tentou colocá-lo na equipe, mas a pressão contra era enorme. Se o jogador não marcasse gols, pronto: não tem mesmo jeito … esse não serve! Particularmente, eu tinha a expectativa de que o jogador se recuperasse na Argentina, o que, parece, poderá mesmo acontecer!

  • Ricardo Neves

    Tiago,
    hoje vendo Redação Sportv lembrei de você.
    O fraco Rizek fez uma análise totalmente distinta da sua a respeito do feito.
    Segundo ele, o hat-trick do Farias só mostra o quanto está mal o futebol argentino, afinal de contas o Tecla era um mero reserva do Cruzeiro.

    Quanto aos olheiros que um colega comentou.
    Pode até ter olheiros no mercado nacional, mas no mercado sul americano é uma lástima.
    Quantas vezes alguém ouviu algum clube interessado no Paulo Dybala por exemplo? Eu já ouvi falar do interesse da Roma, Inter de Milão, Porto, Benfica… mas nunca um clube brasileiro interessado. O mesmo em Tabaré Viudez e outros jovens talentos.
    Em compensação, chega pra jogar aqui Abelairas…

  • Lucas Borges

    Há um erro grosseiro no texto. Não tinha como o Cruzeiro contratar o Farias levando em conta o sucesso do Montillo simplesmente pq os dois foram contratados na mesma épica; julho de 2010…
    E o Farias, quando anunciado, foi tratado como um grande artilheiro, comparam ele com o Loco Abreu. Você pode até estar certo no conceito do texto, mas o exemplo foi ruim. Farias não foi sequer um artilheiro no Cruzeiro. Teve muitas chances e marcou pouquíssimos gols. Por isso não deu certo!

  • Federico lopez

    Farias fracossou no Cruzeiro, um pouco por faltas de oportunidade ou por achar que ele seria crack e não foi. É

  • Federico lopez

    É impossivel pedir ele jogar como jogou no River Plate, mesmo sendo artilheiro muitas vezes eu lembro que odiava este atacante por errar os gols mais facils, seria um deivid do flamengo, faz muito gol, mas quando é impossivel de perder, ele perde. Igualmente não é o unico caso de que foi vendido como estrela e nao resultou, um exemplo claro foi ibramovich no Barcelona, a expectativa era muito mais do que realmente ele fez.
    Quanto aos olheiros alguns preferem contratar quem ja fez sucesso pelo marketing que vai gerar a exemplo de dalessandro, abondazzieri, bollati, el primo de messi, sambueza. Enquanto outros como os clubes europeus optam pelo que mais futuro tem para se projetar uma estrela, como é o caso de dybala de instituto, ocampos, cirigliano, araujo, etc. Não ha uma formulada acertada, para a contratação de jogadores é o risco que clubes assumem na compra de jogadores, pode ser um golazo ou uma pessima contratação.
    O ultimo gol dele a Boca Juniors confirma que é um jogador de qualidade, pois poucos jogadores fazem 3 gols na mesma partida e na ultima jogada um chapeu ao goleiro na Bombonera lotada. Me da pena que um reporter diga que o futebol argentino anda mal, quando deveria é reconhecer o merito do jogador no local e no momento que realizou essa proeza.

  • Navarro Montoya

    Minha paixão por futebol portenho se deve ao meu time de coração que brilhava na Supercopa no fim dos anos 80 e 90, e desde então me dispertou o interesse pelo futebo do prata, o Farias quando jogou aqui no Cruzeiro, fez gols importantes, como o contra o inter em 2011 e palmeiras em 2010, mas o que mais atrapalhou ele foi a falta de paciência da torcida cruzeirense que influenciada pelos comentários maldosos de Casa grande, conseguiu colocar na cabeça dos cruzeirenses baboseiras sobre o farias, que diga-se de passagem foi muito perseguido pela imprensa carioca e paulista, fazendo a cabeça de alguns cruzeirenses sobre as qualidades do farias… O Casa Grande é magoado com ele porque ele tirou o corintias da libertadores, acho que de 2006…. O Farias joga muito além de ter estilo pra caralho!!!!!
    (estive em la bombonera e presenciei os seus gols calando a enigmática e mitológica cancha Xeneize)

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