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Há 20 anos, o primeiro retorno de Maradona ao seu Boca Juniors

Diego Armando Maradona, famoso torcedor do Boca Juniors, teve duas passagens pelos auriazuis. Formado no Argentinos Juniors, foi emprestado aos xeneizes em 1981, ficando na Ribeira até o ano seguinte, quando foi acertada sua venda ao Barcelona às vésperas da Copa do Mundo da Espanha. Seu último jogo fora um amistoso de verão contra o River Plate, em Superclásico de 6 de fevereiro de 1982. Usualmente, seu retorno é lembrado no dia 31 de outubro de 1995, em amistoso contra a seleção sul-coreana.

O que não é tão sabido, ainda mais fora da Argentina, é que nesse meio-tempo ele defendeu o clube do coração uma vez, em ocasião que ontem completou vinte anos. Diego já havia se consagrado mundialmente, mas a maior mancha da carreira – o vício em drogas – já havia comprometido boa parte de sua imagem. Em 1991, recebeu suspensão de um ano e meio após um exame antidoping confirmar que o astro usava cocaína. Um mês depois, ele foi preso em Buenos Aires, flagrado sob efeitos narcóticos no bairro de Caballito.

O Napoli desligou-se de sua maior estrela, que, passada a punição esportiva, recebeu nova chance do futebol espanhol. Mais especificamente de um de seus maiores escudeiros, o técnico Carlos Bilardo, que o chamou para jogar no Sevilla, onde trabalhava. Não imaginando que a melhor fase para si só viria na primeira década do século XXI, o clube resolveu apostar.

Maradona logo recebeu a braçadeira de capitão, mas não rendeu tanto, e, ao fim da temporada 1992-93, deixou a equipe, não sem outra polêmica extracampo: resolvera voltar à Argentina ao descobrir que os dirigentes sevillistas haviam contratado detetives para monitorá-lo.

Enfrentando o Boca Juniors de Giunta no primeiro amistoso, em Córdoba

Quando ainda estava recém-chegado, porém, El Diez recebeu um mimo da equipe andaluza: dois amistosos contra seu time. Em setembro, o próprio craque já antecipara à mídia argentina que vestiria a camisa boquense mais uma vez, depois de dez anos. As datas foram escolhidas em uma pausa do campeonato argentino em outubro, por conta da seleção estar na Arábia Saudita para a Copa Rei Fahd (embrião da atual Copa das Confederações).

O primeiro jogo foi no estádio Château Carreras (atual estádio Mario Kempes), em Córdoba, na segunda-feira do dia 12, feriado do descobrimento das Américas, que ali completava 500 anos (desde 2010, é chamado “dia do respeito à diversidade cultural” na Argentina). O Sevilla, contando com o reforço o tempo todo, venceu por 3 a 1, gols de Sebastián Losada, Davor Šuker e José Carvajal para os europeus e de Javier Espinoza para os bosteros.

No segundo, sim, Maradona enfim voltou a jogar com a azul y oro. Afinal, seria em La Bombonera, dando uma oportunidade para que muitos jovens boquenses, crianças demais ou nem nascidos dez anos antes, pudessem ver o ídolo defendendo o clube da Ribeira.

Era também uma ótima consolação para uma torcida órfã de títulos argentinos justamente desde que ele deixara o Boca, que não era campeão local desde a maradoniana conquista no Metropolitano de 1981 (o jejum acabaria exatamente naquele semestre, ao fim do Apertura 1992), e ainda vira no período o arquirrival River ser três vezes campeão nacional e obter também uma Libertadores e uma Intercontinental.

No primeiro tempo, porém, Diego teve de enfrentar a formação do técnico Óscar Tabárez, com Carlos Navarro Montoya, Diego Soñora, Luis Medero, Alejandro Giuntini, Carlos MacAllister, Rubén Pereira, Blas Giunta, Carlos Tapia, Luis Carranza, Sergio Saturno e Sergio Martínez.

Antes da partida na Bombonera, o camisa 10 do Sevilla reunido com os colegas que teria no segundo tempo. E, ao fim, festejado mesmo com o Boca perdendo

Quando Maradona desceu as escadarias, o cotejo estava empatado em 1 a 1, gols do croata Šuker, de cabeça, aos 12 (recendo um tímido abraço de Diego na comemoração); e do uruguaio Manteca Martínez quatro minutos depois, pressionando a defesa adversária em bola recuada e aproveitando a escorregada de Diego Rodríguez, que estava com a bola, para ficar cara a cara com o arqueiro Juan Carlos Unzué e tocar rasteiro na saída deste.

No segundo tempo, El Pibe, que quase marcou um gol na entrada da pequena área (Navarro Montoya espalmou à queima-roupa), já estava no lugar de Saturno na dupla ofensiva com Martínez. Mal dado o reinício, porém, Francisco Pineda recolocou os visitantes na frente, aos 3 minutos, colocando entre as pernas de Navarro Montoya após receber de Monchu, que costurara a defesa xeneize pela esquerda. Mas festa logo foi retomada, sete minutos depois.

O arqueiro Unzué, pressionado pelo raçudo Martínez, calculou mal o chute e praticamente entregou a bola para Maradona, que não teve muito trabalho para definir com sucesso e marcar pela primeira vez pelo Boca Juniors desde 30 de janeiro de 1982 (em um 4 a 1 em amistoso de verão contra o Racing). Outros sete minutos depois, porém, Losada deu números finais à partida, completando de cabeça bola lançada por Nacho Conte em cobrança de falta pela ponta direita.

O resultado adverso não afastou os aplausos e celebrações da massa bostera para seu antigo ídolo. Cerca de cinco anos depois, já definitivamente de volta ao Boca Juniors desde 1995, ele realizou sua última partida como jogador profissional, em um clássico diante do River Plate. Relato que fica para daqui a dez dias.

Abaixo, trechos do primeiro tempo da partida de vinte anos atrás, e, mais abaixo, do segundo:

http://www.youtube.com/watch?v=gfirz0phmxU

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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