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35 anos da Copa 1978: Argentina 2-0 Polônia

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Kempes começou a ser o personagem da Copa a partir deste jogo

A segunda fase da Copa de 1978 começava há 35 anos, em um grupo nada fácil para os anfitriões. Mas foi a partir deste momento que pintou a maior estrela do torneio: Mario Alberto Kempes, que retornava ao Gigante de Arroyito, sua casa de 1974 a 1976.

A fórmula da segunda fase foi a mesma da de 1974: líderes e vices seriam redivididos em dois grupos de quatro, dos quais os primeiros de cada fariam a final e os segundos jogariam pelo bronze. O grupo A conteve as finalistas anteriores, Alemanha Ocidental e Holanda, além de Itália e Áustria. A chave B reuniu quem disputara o bronze em 1974, o arquirrival Brasil e a vencedora Polônia, e o forte Peru da época – campeão da Copa América de 1975 e terceira força sul-americana do momento.

Tendo perdido para o jogo e a liderança de seu grupo inicial para a Itália, a Argentina perdeu o benefício de seguir jogando em sua casa habitual, o Monumental de Núñez – único lugar que jogaria durante toda a Copa caso terminasse previsivelmente líder em seu primeiro grupo. Foram os italianos quem teriam o Monumental para si em toda a segunda fase, ao passo que a Albiceleste jogaria as novas três partidas em Rosario.

Como dissemos no especial anterior da série, foram linhas tortas que dariam certo, especialmente para Kempes, então aquém do esperado no torneio: ainda não havia marcado. Logo ele, único jogador argentino convocado do exterior ao ser o artilheiro das duas edições mais recentes do campeonato espanhol. Acatando uma superstição do técnico Menotti, outro que retornava ao estádio do Rosario Central (onde, como jogador, também fora ídolo), El Matador raspou o bigode que vinha ostentando. Mandinga ou não, ele enfim desencantaria.

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O primeiro gol: Bertoni cruza, Kempes corre mais que Szymanowski e cabeceia no canto superior direito de Tomaszewski

Foi uma ocasião simbólica: naquele 14 de julho de 1978, Che Guevara, nascido na mesma data em 1928, completaria meio século de vida. Ele era rosarino e consta que, no futebol (era multiesportista, também apreciando rúgbi, xadrez, montanhismo, hipismo; trabalhara como repórter fotográfico nos Jogos Pan-Americanos de 1955), preferia o Rosario Central, em cujo estádio se realizaria o duelo entre a terra natal e outra onde era herói oficial, a comunista Polônia.

Duelo que viu o ex-centralista Kempes abrir cedo o placar, aos 16 minutos, cabeceando no canto direito bola bem lançada por Bertoni. Houseman (que voltava à titularidade, após, contra a Itália, ficar no banco de Ortiz) já havia perdido boa chance, chutando fraco pela direita após ser lançado por Valencia. Mas a Polônia tratou de responder.

A Polônia vivia sua melhor geração – melhor que a da Holanda de 1974, segundo Paul Breitner. Os medalhistas de ouro nas Olimpíadas de 1972, prata nas de 1976 e bronze na Copa 1974, na qual tiveram o melhor goleiro (Tomaszewski) e o artilheiro (Lato), tinham os reforços Włodzimierz Lubański, eleito em 2004 o maior jogador do país pelo cinquentenário da UEFA (jogou pela Polônia de 1963 a 1980, mas ficara de fora da Copa 1974) e Boniek. Outros bem lembrados são Żmuda, Deyna e Szarmach. Não por acaso, estiveram entre os primeiros que o regime comunista polonês permitiu ir ao exterior capitalista.

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Fillol pegando o pênalti de Deyna

Lubański estava no belga Lokeren desde 1975, Lato iria a este mesmo clube em 1980, Tomaszewski também iria à Bélgica (Beerschot) após a Copa, da qual Deyna sairia como jogador do Manchester City (e o lateral-direito Kasperczak, do francês Metz). Szarmach iria em 1980 ao francês Auxerre, enquanto Żmuda (Verona) e Boniek (Juventus) iriam à Itália após a Copa 1982. Na primeira fase, terminaram líderes no grupo da detentora da taça, a Alemanha Ocidental.

Uma troca de passes de cabeça entre Deyna e Żmuda viu Fillol conseguir agarrar o também cabeceio de Boniek, que tentou encobri-lo. O ruivo, após a zaga argentina deixar sobrar-lhe a bola, também arriscou um petardo de fora da área segurado pelo Pato. Kempes ainda serviu na grande área um Bertoni a perder gol feito.

A pressão dos compatriotas de Karol Wojtyła (eleito em outubro daquele 1978 como Papa João Paulo II) prosseguiu: o capitão Deyna cobrou falta e Lato marcaria de cabeça, mas Tarantini, antecipando em 32 anos Luis Suárez, impediu com a mão. Pênalti que nenhum jogador argentino tentou reclamar. Mas Fillol (vencido no lance) faria jus a um recorde.

Ele e Hugo Gatti (que seria o goleiro titular na Copa, mas uma lesão o impediu de ir) detêm a marca de quem mais pegou pênaltis no país, 26. O detalhe é que El Pato teve uma carreira mais curta (1969-1990, com períodos no exterior) do que a do rival, que jogou entre 1962 a 1988 e é justamente o recordista de aparições na primeira divisão nacional. Fillol pegou o pênalti batido fraco no seu canto esquerdo por Deyna, já aos 39 minutos da primeira etapa.

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Segundo gol: Kempes chuta rasteiro em jogada trabalhada pelo caído Ardiles

Demonstrando mundialmente o craque que se consagraria na Itália, Boniek costurou a defesa argentina no segundo tempo, driblando também Fillol, mas perdendo ângulo e equilíbrio – Lato, que o acompanhava, chutou a bola sobrada, mas acertou as redes pelo lado de fora. Os argentinos responderam com Ardiles: Ossie saiu em disparada do meio-de-campo ao ficar com a bola que Tomaszewski chutara em tiro de meta, atraiu dois mercadores, deixando Kempes mais livre, servindo-lhe a bola. El Matador livrou-se de outro vermelho e chutou rasteiro, por baixo de Tomaszewski.

Nos principais lances após os 2-0, Fillol espalmou falta bem cobrada por Deyna e Houseman, recebendo livre pela direita passe de Kempes, chutou outra vez fraco para Tomaszewski. El Loco (que voltaria a perder a titularidade para Ortiz) se recuperaria ao livrar-se de três marcadores e colocar Bertoni de cara para o gol, mas o chute deste saiu curvado em direção oposta ao gol. Por fim, Mazur cabeceou com perigo bola cruzada por Maculewicz e Kempes, lançado por Ardiles perdeu o terceiro ao, de frente para Tomaszewski chutar uma bomba para fora. O árbitro Eriksson encerrou logo depois.

FICHA DO JOGO – Argentina: Ubaldo Fillol, Luis Galván, Jorge Olguín, Daniel Passarella e Alberto Tarantini, Osvaldo Ardiles, Américo Gallego e José Valencia (Ricardo Villa 1/2º), René Houseman (Oscar Ortiz 18/2º), Mario Kempes e Daniel Bertoni. T: César Menotti. Polônia: Jan Tomaszewski, Antoni Szymanowski, Władysław Żmuda, Henryk Kasperczak e Henryk Maculewicz, Adam Nawałka, Kazimierz Deyna, Zbigniew Boniek e Bohdan Masztaler (Włodzimierz Mazur 20/2º), Grzegorz Lato e Andrzej Szarmach. T: Jacek Gmoch. Árbitro: Ulf Eriksson (SUE). Gols: Kempes (16/1º e 26/2º)

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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