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Conheça os principais personagens de origem polonesa no futebol argentino

A Polônia, além de última adversária da Albiceleste na fase de grupos da Copa, também é terra de origem da quarta maior imigração europeia na Argentina, abaixo de Espanha, Itália e Alemanha. Volume que naturalmente repercutiu no futebol dos hermanos, que só nesse Copa de 2022 teve dois polaco-argentinos convocados – Paulo Dybala e Juan Foyth, ambos na imagem acima. Vale listar os principais, sobretudo os que jogaram nas dez principais camisas do país e/ou em partidas de seleções, inclusive as estrangeiras.

O êxodo data desde antes do país ser constituído ao fim da Primeira Guerra Mundial, o que inclusive dificulta maior precisão censitária, com poloneses étnicos chegando ao Rio da Prata (inclusive na margem uruguaia, onde nasceria Ladislao Mazurkiewicz) como cidadãos alemães, russos (ou já soviéticos) ou austro-húngaros/austríacos. Também houve ucranianos étnicos catalogados em nomes sob a característica ortografia polonesa, diante de reiteradas mudanças aplicadas entre as duas Guerras nas fronteiras desses vizinhos – o meia Jan Wasiewicz, da primeira seleção que a Polônia enviou a uma Copa do Mundo (a de 1938), por exemplo, nasceu em 1911 na antiga Lemberg, na então Áustria-Hungria. No entre-guerras, a cidade virou polonesa, sob o nome Lwów. E no decorrer da Segunda Guerra Mundial terminou anexada pela Ucrânia soviética, agora com o nome de Lviv, ainda pertencendo a esse país após a independência deste junto à URSS.

Bem, o tal Wasiewicz foi exemplificado porque ele radicou-se na Grande Buenos Aires, falecendo em Quilmes em 1976. A indefinição/miscigenação polaco-ucraniana, por sua vez, já fez com as duas seleções chegassem a sondar a naturalização de um mesmo jogador argentino, como veremos. Na via oposta, o apelido de El Polaco se disseminou não apenas entre os argentinos com origens naquela região, bastando que tivessem o fenótipo estereotipado de um polonês. Só o Racing teve quatro Polacos do tipo: os volantes Federico Sacchi (da seleção nas Copas de 1962 e 1966) e Adrián Bastía (do Racing campeão em 2001 após 35 anos de jejum nacional), o assistente técnico René Daulte (daquele mesmo time de 2001, e ex-reserva do River nos anos 70) e o lateral-direito Iván Pillud, participante de todos os troféus erguidos desde 2014 pela Academia.

Claudio Arzeno, lateral do vistoso Independiente quatro vezes campeão entre 1994 e 1995, os atacantes Cristian Menéndez, destacado na ascensão recente do Atlético Tucumán, e o saudoso Gonzalo Peralta, de fama nas divisões de acesso, foram outros Polacos de origem real latina. Já a ancestralidade eslava do ex-defensor José Varacka era eslovaca… ao passo que nem mesmo o sobrenome alemão de Matías Fritzler, volante do Lanús campeão argentino pela primeira vez (2007), foi um empecilho ao mesmo apelido. O sobrenome basco de Roberto Goyeneche, famoso cantor de tango muito ligado ao futebol como torcedor mais ilustre do Platense, também não impediu que seja referido como El Polaco Goyeneche. Há versões de que Hernán Crespo também teria origem polonesa, a partir de uma avó, mas pesquisas genealógicas colocam todos os seus bisavós como espanhóis, embora não descartem ancestralidades distantes entre Itália, França, Alemanha e até mesmo na África – mas não na Polônia.

De mentirinha: Varacka (seleção) era na verdade filho de eslovacos. Os demais, latinos: Sacchi, Bastía e Pillud (todos pelo Racing), Menéndez (Atlético Tucumán) e Peralta (Platense). Mas a fisionomia fez todos serem apelidados de El Polaco

De outra banda, nem todo jogador verdadeiramente polaco-argentino foi apelidado de El Polaco. Muitos também foram chamados de El Ruso, seja pela sonoridade (aos leigos) do sobrenome; seja pela possível cidadania formalmente russa, antes da independência polonesa em 1918; ou ainda pela origem judaica – a imigração russa-argentina era volumosamente composta por judeus em fuga dos pogroms czaristas, o que criou no Rio da Prata uma relação quase que de sinônimo entre russo e judeu. O mais notável imigrante polaco-judeu do futebol argentino foi o cartola León Kolbowski, presidente do auge do Atlanta. Kolbowski chegou a ter familiares que acabaram mortos no Holocausto após regressarem à terra de origem. O estádio do Atlanta leva desde 2000 o nome do dirigente máximo que o time do bairro de Villa Crespo teve entre 1959 e 1969.

Os bastidores do futebol argentino tiveram muito mais gente da comunidade polaco-judaica de Buenos Aires. Como, em especial, Jorge Cyterszpiler: amigo de infância de Maradona, manteve a parceria como seu precoce empresário, ainda na adolescência do astro. A parceria se manteria até romperem relações em 1985 e fez de El Ruso Cyterszpiler (corruptela de Zytherspieler, “tocador de cítara” em iídiche e em alemão, à língua polonesa) ser conhecido como o primeiro agente de um jogador no futebol argentino – ou, no mínimo, o homem que disseminou essa profissão, onde seguiu ativo até falecer, como procurador de nomes como Demichelis, Andújar e até Mancuello.

Já dedicamos este outro Especial apenas para os judeus do futebol argentino, de leitura complementar à lista abaixo:

Juan Nawacki: seu perfil no livro Quién es Quién en la Selección Argentina (pela qual jogou uma única partida, em amistoso em Paysandú contra o Uruguai em 1956) qualifica esse meia-esquerda do Argentinos Jrs como alguém de origem ucraniana, embora o ortografia e a existência de poloneses com o mesmo sobrenome permitam inferir raízes polacas também.

Vladislao Cap: outro dos jogadores com origens incertas entre as áreas comuns na história de Polônia e Ucrânia, países creditados em diferentes versões como terra natal do pai dele. Cap foi um entre tantos apelidados de Polaco. Polido no Quilmes, virou ídolo sobretudo no Racing, com o qual foi campeão argentino em 1958. Na seleção, venceu a primeira Copa América de 1959 e foi à Copa do Mundo de 1962 como jogador recém-contratado pelo River, após destacar-se pelo Huracán na temporada anterior. Sua outra Copa do Mundo foi a de 1974, ali já como treinador. Na carreira de El Polaco Cap, só faltou o San Lorenzo: treinou o Independiente campeão de 1971 e em 1982 esteve inicialmente no Boca para então voltar ao River, falecendo em pleno exercício do cargo. Contamos nesse outro Especial a trajetória de um raro vira-casaca nos dois principais clássicos argentinos.

Antonio Cielinsky: seu perfil no livro Quién es Quién en la Selección Argentina (pela qual jogou cinco partidas entre 1960 e 1963, sobretudo nas antigas Copas Roca) o menciona como filho de um casal polonês – o sobrenome é possível corruptela de Zieliński, que tem a mesma pronúncia em uma leitura castelhana. Mas era apelidado de El Ruso e, segundo o mesmo livro, “respondia ao padrão do velho meio-campista argentino: bem posicionado, de manejo aceitável, acertada distribuição da bola e aguerrido para lutar pela posse da mesma”, até sucumbir à concorrência mais qualificada de Antonio Rattín. El Ruso Cielinsky se notabilizou sobretudo no Vélez, onde superou duzentos jogos.

Cap, participante de Copa do Mundo como jogador e técnico e com passagens em quatro grandes argentinos, tinha origens polaco-ucranianas pelo pai e húngaro-romenas pela mãe. Cielinsky no Vélez, Paflik no Independiente, Bonczuk no River

Mario Bonczuk: seu perfil no livro Quién es Quién en la Selección Argentina (pela qual jogou duas partidas, ambas em 1963) também o menciona como filho de um casal polonês, e que foi um “correto defensor, de pouca projeção e bom manejo da bola”. Bonczuk chegou à seleção no embalo daquele referido auge do sumido Atlanta, clube rotineiramente intruso entre os cinco primeiros entre 1958 e 1964. Chegou a cavar uma transferência ao River, mas não vingou em meio ao terrível jejum millonario vivido entre 1957 e 1975.

José Paflik: creditado como descendente de cidadãos austríacos, foi um reserva ativo no bicampeonato do Independiente (seu clube de 1961-65) nas Libertadores 1964 e 1965. Seguiu carreira no Gimnasia LP e no Deportivo Morón.

Rodolfo Fischer: o sobrenome alemão e o fenótipo indígena camuflam que ele também tem ancestralidade russo-polonesa, herdada de avós refugiados da Primeira Guerra Mundial – segundo perfil dele no Diccionario Azulgrana, publicado em 2008 como lista de todos os jogadores e treinadores que o San Lorenzo tivera nos cem primeiros anos do clube. El Lobo foi um artilheiro implacável no bairro de Boedo entre 1965 e 1972, quando sua transferência o Botafogo às vésperas da Taça Independência fez dele o primeiro jogador que a seleção argentina importou de uma equipe estrangeira, algo que chegava a ser oficialmente proibido. Fischer deixou seus muito golzinhos no título dos Metropolitanos de 1968 (primeira conquista invicta de um clube no profissionalismo argentino) e de 1972. Como botafoguense, foi vice brasileiro no mesmo 1972, ano em que deixou dois gols no famoso 6-0 no Flamengo. Também destacou-se no Vitória e, já veterano, no primeiro acesso do Sarmiento de Junín à elite, em 1980. Já dedicamos este outro Especial ao artilheiro.

Roberto Zywica: o sobrenome, que significa “resina”, se grafa originalmente como Żywica; o ponto acima do Z o faz ter o som português da letra J, lembrando que em línguas eslavas a letra C isolada (como no piloto Robert Kubica) costuma ter som de “Ts” – mas na Argentina esse meia era narrado como “Zivica” mesmo e não “Jivitsa”. Revelado no River, El Ruso teve seus únicos 45 minutos da seleção ainda como millonario, em amistoso contra o México em 1967 (o qual, inclusive, marcou a estreia de Fischer na seleção). Mas destacou-se sobretudo no Gimnasia LP, integrando a equipe semifinalista do Nacional de 1970, apelidada de La Barredora, “A Vassoura”. Foi seu trampolim a uma larga carreira no futebol francês até rodar como veterano na dupla rival All Boys e Nueva Chicago, além de Banfield e Atlanta.

Miguel Malizewski e John Bocwinski: dois por um, pois nenhum deles fez carreira na Argentina e sim nos EUA, para onde emigraram adolescentes e terminaram naturalizados. Malizewski defendeu a seleção ianque nas Olimpíadas de 1968 e Bocwinski, na de 1972.

Alejandro Semenewicz: também apontado no livro Quién es Quién en la Selección Argentina (pela qual jogou nove vezes, todas em 1972, sobretudo por aquela Taça Independência junto a Fischer) como filho de um casal polonês, em perfil que acrescenta ainda que o sobrenome original era Siemianowicz, simplificado quando foram registrados em uma Argentina de melhores prognósticos em comparação a uma Europa recém-destruída: o pai, o eletricista Estanislao (provavelmente nascido Stanisław), refugiara-se ainda adolescente primeiramente na Dinamarca em meio à Segunda Guerra Mundial e, encerrado o conflito, conseguiu providenciar a vinda da namorada à Escandinávia – onde nasceu a irmã mais velha do jogador. El Polaco Semenewicz é um dos grandes ídolos da história do Independiente, com presença polifuncional e ativa na retaguarda do Rojo tetracampeão seguido da Libertadores entre 1972 e 1975, ora como zagueiro, ora na lateral, ora como volante… e sempre disciplinado.

Zywica no Gimnasia. Fischer e Semenewicz juntos na seleção de 1972. Syeyyguil no Belgrano. O Racing de 1986 com o goleiro Zubczuk (de amarelo) e Szulz, jogador à direita na fila superior

Antonio Syeyyguil: um dos melhores jogadores do interior argentino nos anos 70, esse meia-direita foi raro ídolo comum nos rivais Belgrano e Talleres. Tony esteve precisamente nas melhores campanhas da dupla na elite argentina no século XX: o 5º lugar de La B no Torneio Nacional de 1971 (só superado pelo 4º no Torneio Apertura 2011 e pelo 3º no Torneio Inicial 2012, ambos na Era Zielinski, de quem logo falaremos…) e o vice-campeonato de La T no Nacional de 1977, trajetórias permeadas também por títulos cordobeses – então prestigiados – com ambos. A origem polaca do curioso sobrenome, provavelmente desvirtuado da grafia original, foi informada em 2020 na mídia cordobesa. A revista El Gráfico já reconheceu que, para não errar a grafia de Syeyyguil, recorria na época a um cartaz fixado na redação soletrando em tamanho garrafal aquele sobrenome único.

Leszek Przybyłowski: imigrante natural de Cracóvia, também notabilizou-se no futebol cordobês, a serviço do Instituto entre 1972 e 1976 – integrando assim as primeiras temporadas de La Gloria na primeira divisão argentina, onde os alvirrubros estrearam em 1973. Veio depois a se radicar nos EUA.

Horacio Matuszyczk: a grafia original desse sobrenome, por sua vez, seria Matuszczyk – a letra Y acabou erroneamente antecipada, dividindo a combinação “SZCZ” (cuja fonética emenda a sonoridade de um X, som que os poloneses reproduzem pelo dígrafo “SZ”, com o de um “Tch”, equivalente ao “CZ” polaco). Esse ponta ambidestro e veloz foi profissionalizado no Boca no Torneio Nacional de 1981, mas logo trocado em menos de um ano com o Racing por José Berta. Calhou de disputar justamente os torneios que levaram o time de Avellaneda ao rebaixamento, em 1983. Acabou seguindo carreira nas divisões de acesso, onde na época habitavam o Lanús e o Defensa y Justicia, e então em clubes chilenos e venezuelanos.

Ricardo Dabrowski: atacante que na Argentina ficou bastante ligado ao auge do Temperley. Foi seu clube entre 1978-82, deixando-o após o acesso na segundona de 1982 (a que contou com o campeão San Lorenzo), acertado com o Huracán. Voltou na temporada do rebaixamento do Gasolero, em 1986-87. Dali, seguiu ao Colo-Colo, onde terminou multicampeão, sobretudo na única Libertadores do futebol chileno, em 1991. Como treinador, trabalhou principalmente no Chile e no Paraguai.

Gustavo Szulz: lateral-esquerdo notabilizado por participar de acessos tardios – El Leoncito primeiramente esteve na volta do Racing em 1985 à primeira divisão, já após dois anos do rebaixamento do gigante de Avellaneda. Embora nunca se firmasse, permaneceu na Academia até 1989, faturando ainda a Supercopa 1988, único troféu não-amistoso comemorado entre 1967 e 2001. Seguiu carreira no Huracán, participando do redentor acesso quemero na segunda divisão de 1989-90, encerrando quatro anos de segundona para quem se coloca como “sexto grande”. O sobrenome é possível corruptela do alemão Schulz.

Juan Carlos Zubczuk: promessa do Racing, esse goleiro também nunca se firmou por lá  (na primeira divisão, foram apenas quatro partidas entre 1983 e 1988) e passou no fim dos anos 80 ao futebol peruano. Naturalizado pelo Peru, foi convocado para a Copa América de 1993 e para as eliminatórias à Copa de 1994, ainda que jamais tenha entrado em campo pela Blanquirroja.

Adrián Czornomaz: o livro Diccionario Azulgrana o qualifica como neto de ucranianos refugiados da Primeira Guerra Mundial, embora a ortografia com o característico dígrafo CZ (que dá som de “Tch”) permita associa-lo também à Polônia. Com passagens por Independiente e San Lorenzo (essa rendeu seu perfil naquele dicionário), onde foi o artilheiro do elenco na temporada 1991, notabilizou-se mais nas divisões de acesso. El Pirata Czornomaz fez fama na dupla rival Los Andes e Banfield, bem como por Atlético Tucumán, All Boys e Quilmes, participantes regulares da segundona nos anos 90.

Dabrowski no Colo-Colo campeão de Libertadores, Czornomaz no San Lorenzo, Klimowicz (sondado pelas seleções de Polônia e Ucrânia e cujo filho defende a Alemanha) no Lanús e o mais famoso lance de Krupoviesa no Boca

Marcelo Kobistyj: participar em meados de 1995 da volta do Colón à primeira divisão após quatorze anos credenciou-lhe a ser opção de banco na retaguarda do Independiente campeão da Supercopa ao fim daquele mesmo ano. O troféu foi por quinze anos o último título internacional do Rey de Copas, mas Kobistyj nunca decolou, embora ainda passasse por Gimnasia, Ferro Carril Oeste e Huracán.

Família Klimowicz: revelado no Instituto de Córdoba, Diego Klimowicz foi um meia-atacante que foi sondado tanto pela seleção da Ucrânia como pela da Polônia, após boa fase construída entre 2001 e 2002 por Lanús e Wolfsburg. Acabou nunca jogando por seleções, e sim seus familiares – curiosamente, ambos naturalizados, e por outros países: o goleiro Javier Klimowicz, seu irmão, foi testado brevemente pelo Equador em 2007, embora quem se firmasse naquela época como goleiro argentino de La Tri fosse Marcelo Elizaga, curiosamente apelidado de El Polaco. Por fim, Mateo Klimowicz, nascido em Córdoba, filho de Diego e igualmente revelado no Instituto, tornou-se o primeiro argentino aproveitado pela Alemanha, por enquanto ainda nas seleções juvenis. A longa residência de Diego na Bundesliga (onde também esteve no Borussia Dortmund) possibilitou a cidadania alemã a si e, por tabela, também a Mateo.

Juan Krupoviesa: o sobrenome é corruptela derivada de Krupowiesy, o nome polonês dos arredores de Krupaviesai, atualmente uma vila na Lituânia – com quem a Polônia já foi unificada entre 1569 e 1795. A ancestralidade era quase igualmente distante, diante do fenótipo (como muito dos nomes seguintes) mais indígena do que eslavo (ou báltico) desse lateral-esquerdo formado no Estudiantes, seu clube entre 1999-2005. Foi vitorioso no Boca, seu clube no resto dos anos 2000; foram cinco títulos, entre dois argentinos, duas Recopas e uma Sul-Americana. Recomendado por ninguém menos que Maradona, seu jogo forte é lembrado até hoje por uma das faltas mais violentas já vistas nos Superclásicos. Justamente uma lesão inoportuna no fim de 2006 o privou, contudo, de estar em campo na campanha da Libertadores 2007, a última vencida pelo clube. Atualmente trabalha como treinador nas divisões de base xeneizes.

Cristian Gabrinski: a grafia original é Grabiński. Zagueiro formado no Newell’s (1999-2003) e com três anos de Racing (2003-06), onde integrou o elenco vice argentino no Clausura 2005, deu mais certo no Chacarita. Participou ativamente do elenco funebrero que voltou em 2009 à primeira divisão argentina, treinado pelo nome abaixo.

Ricardo Zielinski: como visto no caso de Cielinsky, o sobrenome é originalmente grafado como Zieliński. Como o quase xará, também terminou apelidado de El Ruso, embora até o fim da carreira de jogador o apelido mais comum ainda fosse El Polaco ou El Pola. Filho de um operário polonês de Cracóvia emigrado ao fim da Segunda Guerra Mundial, Zielinski teve uma carreira pouco expressiva nas divisões de acesso nos anos 80. Notabilizou-se como treinador, e foi demorado: somente chamou atenção quando subiu o Chacarita à elite em 2009 e então veio a ser realmente reconhecida a partir de 2011: era ele o técnico do Belgrano que terminou rebaixando o River na Promoción, nome da extinta repescagem que havia entre os melhores não-ascendidos diretamente da segunda divisão e os piores não-rebaixados diretamente da elite. Não contentado, ainda dirigiu as duas melhores campanhas belgranenses na elite, com o 4º lugar já no torneio de reestreia, o Apertura 2011, e o 3º no Torneio Inicial 2012; também destacou-se no 6º lugar no Torneio Inicial 2013, pois a colocação camuflou que La B ficou a apenas quatro pontos do campeão San Lorenzo. Escolhemos facilmente El Ruso Zielinski como técnico do time dos sonhos do Belgrano, em 2015. Seu outro grande trabalho foi na ascensão recente do Atlético Tucumán, onde treinou entre 2017 e 2021 – enquanto o ex-clube definhava até voltar à segundona em 2019.

Gabrinski no Chacarita, Zielinski como maior treinador do Belgrano, um curioso cumprimento entre Kalinski (San Lorenzo) e Dybala (Instituto) na repescagem de 2012 e Fydriszewski no Argentinos Jrs: as gerações mais recentes já são de fenótipo menos eslavo e mais miscigenado com indígenas

Paulo Dybala: o sobrenome era originalmente grafado como Dybała (esse corte na letra L a faz ter som de U), herdado de um avô chamado Bolesław, em fuga da Segunda Guerra. La Joya é outro revelado no Instituto de Córdoba, sendo ainda adolescente o maestro da vistosa equipe que tinha cara de campeã da segunda divisão de 2011-12, embora acabasse perdendo fôlego para River e Quilmes na reta final – e derrotada pelo San Lorenzo naquela repescagem chamada Promoción. O anticlímax não impediu que Dybala fosse imediatamente exportado ao futebol italiano, com passagens brilhantes por Palermo, Juventus e, mais recentemente, a Roma, lhe credenciando desde 2015 à seleção argentina principal. Foi à Copa do Mundo de 2018 como opção a Messi e foi novamente convocado para a de 2022, apesar da fragilidade física o ter colocado em dúvida.

Enzo Kalinski: a grafia original é Kaliński. Volante revelado no Quilmes, foi uma das peças recorrentes da incrível reviravolta do San Lorenzo entre 2012 e 2014, quando o Ciclón saiu de uma equipe quase-rebaixada contra o Instituto de Dybala para um clube campeão argentino em 2013 e enfim da Libertadores em 2014. Mas a carreira não decolou tanto depois, prosseguindo no Chile e no México até ser sucedida por passagens por Banfield, Estudiantes e Argentinos Jrs.

Francisco Fydriszewski: profissionalizado em 2014 no Newell’s, El Polaco nunca se firmou por lá, sendo sucessivamente emprestado desde então. O atacante soube ter destaque na volta do Argentinos Jrs à primeira divisão em 2016 e no recente título equatoriano inédito do Aucas, nesse 2022.

Juan Foyth: a grafia original do sobrenome é Fojt (com o J lido como “i”, como de costume nas línguas eslavas), que aparentemente acabou anglicizado na escrita. Profissionalizado em 2017 pelo Estudiantes, ficou muito pouco em La Plata, contratado imediatamente pelo Tottenham Hotspur. O zagueiro chegou à seleção em 2018, já no ciclo pós-Copa, e consolidou-se no Villarreal, seu clube desde 2020. Presente na Copa América 2019 mas ausente na redentora edição 2021, recuperou lugar com sua vaga na convocação para o Qatar.

Histórico entre as seleções

Argentina x Polônia foi quase um clássico entre meados dos anos 60 e meados dos anos 80, período em que a seleção polonesa desfrutou do auge do prestígio. Os duelos mais representativos se deram nas Copas de 1974 e 1978, as únicas até agora que contarem com o duelo. Na fase de grupos na Alemanha Ocidental, os polacos não só venceram por 3-2 com direito a um 2-0 aberto antes dos dez minutos como ainda tiveram a bondade de facilitar a vida da Albiceleste adiante, estimulados por uma mala preta no compromisso que tiveram na rodada final com a Itália (àquela altura concorrente dos hermanos pela vaga de segundo colocado da chave), vencida por 2-1 pelo já classificado time comunista.

Em Copas do Mundo, uma vitória para cada: o duelo serviu para iniciar a artilharia tanto do carequinha Lato (ao meio, observando o colega Deyna) em 1974 como de Kempes (aproveitando assistência do caído Ardiles) em 1978

Aqueles 3-2, na estreia em Stuttgart, em 15 de junho, tiveram os dois gols primeiros gols de Grzegorz Lato na Copa – ele adiante terminou artilheiro do melhor mundial dos poloneses, que garantiram o bronze. Na Copa de 1978, por sua vez, os países se encontraram na rodada inaugural da segunda fase de grupos. Em Rosario, a partida de 14 de junho serviu de marco para Mario Kempes, em sua primeira partida como protagonista no torneio: El Matador passara em branco na primeira fase e ali não só desencantou, marcando os dois gols da vitória, como impediu um do adversário… através da mão, que evitou gol certo em cabeceio de Lato. Infração que acabou permitindo ao goleirão Ubaldo Fillol ser o outro grande personagem da noite. El Pato defendeu sem dificuldades a ridícula cobrança de Kazimierz Deyna no pênalti assinalado.

Os demais jogos foram apenas amistosos pontuais. O primeiro encontro foi um 1-1 arrancado em pleno Monumental pelos polacos em 11 de junho de 1966; 1-0 em Mar del Plata sobre uma seleção que já tinha Deyna e Andrzej Szarmach (autor do outro gol nos 3-2 da Copa 1974) naquele 19 de dezembro de 1968; o mais famoso desses amistosos, o 2-1 em plena Chorzów em pleno 24 de março de 1976, data do golpe militar que derrubou Isabelita Perón e que soube usar da partida para anestesiar possíveis reações populares; 3-1 em La Bombonera em 29 de maio de 1977, quando o estádio do Boca serviu frequentemente de palco da seleção pelas obras do Monumental (e do estádio do Vélez) para a Copa do Mundo dali a um ano;  2-1 no Monumental em 12 de outubro de 1980, notável momento em que Maradona e Passarella marcaram gols juntos.

Os anos 80 seguiram com vitória polaca em pleno Monumental em 28 de outubro de 1981, em virada assinada pelo craque Zbigniew Boniek; um 1-1 em Calcutá em 17 de janeiro de 1984, pela amistosa Copa Nehru; e uma famosa visita da seleção polonesa aos torneios argentinos de verão em fevereiro de 1986: em Mar del Plata, a Polônia derrotou o Boca no dia 4 e vencia no dia 8 o River por 4-2 até os sete minutos finais – quando então o craque Enzo Francescoli liderou uma das mais épicas viradas do futebol mundial, coroada com o uruguaio cinematograficamente anotando de bicicleta no último minuto o gol dos 5-4 do Millo. A força dos europeus foi corroborada no dia 14, quando venceram no estádio velezano o Racing por 1-0.

Desde aquela excursão, a frequência dos encontros despencou. Entre as duas seleções, sobraram apenas o 2-0 em 26 de novembro de 1992, na Bombonera, sobre uma Polônia recém-embalada pela prata olímpica nos Jogos de Barcelona; e derrota em Varsóvia por 2-1 em 5 de junho de 2011, onde o técnico Sergio Batista testou uma formação bastante alternativa (o gol da Albiceleste foi de Marco Ruben, precisamente em seu único jogo pela seleção, por exemplo) para pinçar alguém para a Copa América sediada naquele mesmo mês na Argentina.

Vale por fim destacar que esse amistoso contra a Polônia em 2011 e a partida anterior da seleção, quatro dias antes, contra a Nigéria (derrota de 4-1), foram precisamente as duas únicas partidas do único jogador que a Argentina aproveitou da liga polonesa: o futuro volante cruzeirense Ariel Cabral defendia na época o Legia Varsóvia.

Talvez o mais famoso gol de Francescoli, no curioso e épico River x Polônia em 1986

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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