Especiais

Há 50 anos, o Estudiantes era tri seguido na Libertadores

Presentes em todo o tri: o técnico Osvaldo Zubeldía, Juan Ramón Verón, Carlos Bilardo e Carlos Pachamé, com camisa palmeirense no ombro, celebram 1968

Não havia dominação igual no continente. Em três anos, um clube de porte só médio na Argentina superava Santos e Independiente para igualar, em confronto direto, outro gigante, o Peñarol, como maior vencedor da Libertadores. Seria assim por mais quatro anos, quando o Independiente tornou-se o recordista ao acumular seu quarto título no que seria um recordista tetra seguido. Só ele e os alvirrubros de La Plata “coparam” a América vencendo nas finais a dupla uruguaia Nacional e Peñarol, adversário abatido pelos pincharratas naquele 27 de maio de 1970. Por um bom tempo, o Pincha teve mais Libertadores que outra enorme dupla, Boca (que o passou só em 2001) e River (que o igualou só em 2018; Gabigol evitou a ultrapassagem). O 3º título, inclusive, foi reconhecido como logrado com bom futebol e de modo limpo pela imprensa argentina, que não tinha pachequismos ao criticar o antijogo do elenco. Hora de recontar todo o tri.

Prólogo

Em 1940, o Vélez foi rebaixado pela única vez e quase se extinguiu. Voltou da segundona em 1943, comandado por Victorio Spinetto, um ex-volante do clube nos anos 30. Sem nenhum título ainda na elite, o Fortín era mais forte como um clube social do que de futebol, tendo sua primeira grande campanha no profissionalismo em 1953, quando foi vice-campeão. Spinetto ainda era o técnico – ninguém ficou tanto tempo à frente do clube de Liniers. Osvaldo Zubeldía foi um dos três jogadores presentes em todas as partidas da campanha, aprendendo com Spinetto lições sobre um estilo cerebral de jogo, sem preocupar-se com exibições vistosas e sim em ganhar. Zubeldía passou ao Boca em 1956, sem êxito, reencontrando Spinetto no modesto Atlanta em 1958. O time foi 4º colocado, sua melhor campanha na história.

Desde 1984 sumido da elite, esse clube iniciaria sua fase áurea. Ergueu em 1960 a Copa Suécia, com 95% da campanha realizada ainda em 1958 com Spinetto e Zubeldía. Spinetto acabaria premiado com o cargo da seleção argentina vencedora da Copa América em 1959. A Copa Suécia, por sua vez, foi o primeiro torneio com todos os times da elite profissional a ser vencido por um intruso fora dos “cinco grandes”, o oligopólio de Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo. O título em 1960 não assegurou a permanência de Manuel Giúdice, o treinador àquela altura – os resultados insatisfatórios no campeonato fizeram a diretoria recontratar Zubeldía, agora como técnico. Ele ficaria por lá até 1964 e a intromissão entre os grandes permaneceu: 4º em 1961, 5º em 1963 e em 1964. Enquanto isso, o Estudiantes capengava.

Rebaixado à segundona em 1953 enquanto o Vélez era vice, o Pincha foi vice-lanterna em 1962, só sendo salvo pelo famigerado sistema de promedio. Em 1964, foi antepenúltimo. Não houve estresse maior pois não haveria times rebaixados naquele ano, mas a diretoria alvirrubra agiu, contratando Zubeldía. Usando basicamente o mesmo elenco, ele revolucionou La Plata: em 1965, o Estudiantes já foi 5º – enquanto o Atlanta, sem o mago, despencou para 14º de 18 times. O ex-clube de Zubeldía desde então fez uma única boa campanha, o 3º lugar no Torneio Nacional de 1973, até sumir da elite a partir de 1984 e se acostumar com a terceira divisão. O treinador, inclusive, foi premiado ao fim de 1965 com o cargo de técnico da seleção, mas só durou um amistoso, pedindo para sair ao notar a extrema desorganização da AFA e não vislumbrar possibilidades de melhora na disputa com a cartolagem.

 Verón cabeceando para o gol do Platense e diminuir a derrota das semifinais argentinas de 1967 para 3-2, trinta segundos após o adversário ter perdido o quarto por bem pouco. E Madero decretando, de pênalti, a virada

Com Zubeldía rapidamente de volta, o Estudiantes emergiu. Contra um ideal de jogo bonito tão caro aos argentinos até então, os platenses estiveram entre os pioneiros na retranca (enchendo o meio-campo em tempos de 4-2-4 ou ainda 2-3-5) e no uso intencional da linha de impedimento, além de jogadas ensaiadas com bola parada. Um Muricybol que era suficiente para ser chamado de Antifútbol pela grande mídia e público, acostumados a outro estilo. Zubeldía sempre se defendeu de que no calor do jogo não comandava por controle remoto seus comandados, e por eles sempre foi defendido no sentido de que as provocações verbais e os pontapés longe da vista da arbitragem eram iniciativas do volante Carlos Bilardo – que não deixaria de empregar as ideias táticas de Zubeldía e de Spinetto na seleção campeã de 1986.

A seleção de 1986 teria na comissão técnica outros membros daquele Estudiantes: Carlos Pachamé, a dupla de Bilardo na cabeça de área e depois assistente técnico do Narigón, e o zagueiro Raúl Madero, convertido em médico. Madero declararia: “antifútbol foi uma parte de Bilardo e outra porque os cinco grandes não podiam nos ganhar. ‘Não se pode jogar contra esses caras, não deixam’, se queixavam. E queres o quê, que te deixe jogar? E depois enlouqueciam com a linha de impedimento”. Bilardo, por sua vez, negou a famosa lenda: “isso é mentira. Isso foi na época de Lema, um goleiro do San Lorenzo, há mil anos: aos goleiros, abaixavam o boné ou lhes atiravam terra”. Em 1967, após dois anos de gestação, o Estudiantes de Zubeldía estava pronto para fazer história. Bilardo à parte, aquele elenco tinha um craque indiscutível no ponta Juan Ramón Verón, ironicamente filho de torcedor do Gimnasia LP. E tinha no lateral Oscar Malbernat um capitão de fineza reconhecida pelos próprios rivais ingleses.

No Torneio Metropolitano, o Pincha foi a equipe mais vencedora do grupo, com onze triunfos; ficou na segunda colocação apenas nos critérios de desempate com o grande Racing daquele momento: a Academia, que em paralelo caminhava na sua vitoriosa Libertadores, venceu um jogo a menos, mas tinha saldo de gols melhor. Os dois primeiros dos dois grupos avançavam, fazendo semifinais em jogo único. A outra semifinal foi nada menos que um Racing x Independiente, mas em matéria de emoção e história a “final antecipada” foi o duelo de azarões. Treinado pela lenda Ángel Labruna, o Platense (sumido desde 1999 da elite) fora no geral a equipe mais vencedora da fase inicial e a mais goleadora. Ao fim do primeiro tempo, vencia de virada por 2-1 e teria um homem a mais no segundo após o zagueiro alvirrubro Barale lesionar-se e não poder ser substituído pelo regulamento da época.

No início do segundo tempo, o Platense então fez 3-1 e o quarto só não saiu em seguida porque Pachamé salvou em cima da linha. Incrivelmente, aos 16 minutos o 3-1 já havia sido revertido para 4-3, em reação digna de Milagre de Istambul: Verón, de peixinho, descontara já aos 8, e aos 14 La Bruja arquitetou a jogada que culminaria em um canhão de canhota que o inábil Bilardo usou para deixar tudo igual. O inacreditável demorou apenas mais dois minutos para ser concluído. Bilardo cavou um pênalti ao chocar-se com o goleiro em uma cobrança de escanteio. Madero converteu. Na decisão, o Racing preferiu usar cinco reservas, priorizando a final da Libertadores dali a poucos dias. Segurou o 0-0 no primeiro tempo, mas no segundo levou um passeio: Madero cobrou uma falta no ângulo aos 7 minutos, Ribaudo levou a melhor contra a zaga ao concluir uma troca de passes aos 24 e, lançado por Verón, triangulou com Marcos Conigliaro antes de anotar outro aos 27.

O gol de Verón que sacramentou o título de 1968 sobre o Palmeiras e sua emocionada comemoração, seguido por Conigliaro

O Estudiantes erguia ali seu segundo título argentino e o primeiro desde 1913. Era também o primeiro não-grande campeão desde o torneio de 1929, vencido pelo rival Gimnasia. Mas na época o Torneio Metropolitano ainda não dava vaga na Libertadores; o Pincha se classificou como vice do Torneio Nacional de 1967 mesmo, com um feijão com arroz suficiente para manter chances de título até a rodada final mesmo concorrendo com uma campanha de recorde de aproveitamento profissional do Independiente (87%, sob o trabalho do brasileiro Osvaldo Brandão). Mais detalhes do Estudiantes de 1967 nesse outro Especial.

A primeira Libertadores

Aquela Libertadores teve duas fases de grupos. Na primeira, com quatro com duas duplas cada de um mesmo país. Os líderes e segundos avançavam. Os futuros finalistas Palmeiras e Estudiantes saíram invictos aí – os pincharratas foram supremos no seu, com cinco vitórias e um empate, batendo o Independiente em Avellaneda por 4-2 (dois de Ribaudo, um de Echecopar e outro de Verón). O Palmeiras inclusive não pode dar a desculpa costumeira de que na época era preferível vencer o Estadual ao continente: de forma realmente incomum para aqueles anos, priorizaram tanto La Copa que só não foram rebaixados no Paulistão por “sorte nos seus dois últimos jogos”, escreveu a Placar em 1971.

A segunda fase consistia em três grupos – dois com três clubes e outro com quatro. Só os líderes iriam às semifinais, onde receberiam a companhia do campeão anterior, o Racing. Os futuros finalistas não se complicaram muito, perdendo apenas uma vez e classificando-se em casa contra o concorrente direto. Nesta fase, o Estudiantes outra vez superou o mais-que-tarimbado Independiente tanto dentro como fora de casa, para na semifinal pegar o outro clube de Avellaneda. Diferentemente da final doméstica em 1967, a Academia agora usaria os titulares, mas ainda assim levou de novo de 3-0, no jogo de ida em La Plata, dois de Verón e um de Rodolfo Fuccenecco. Mas a lavoura não estava perdida: uma vitória racinguista simples forçaria um jogo extra independentemente do saldo de gols.

Em Avellaneda, o campeão de 1967 se impôs com um 2-0. O saldo de gols pesaria sim em caso de empate no jogo-extra. Aí, sem vergonha de pôr o regulamento embaixo do braço, o time de Zubeldía segurou um 1-1 na batalha, com gol de Verón. Era a vez de encarar outra Academia, a do Palmeiras. Indagado sobre o que achava dos paulistas, o treinador, não se amedrontou: seria um adversário rápido e prático, mas distraído. Por sinal, o técnico alviverde era argentino: Alfredo González, ex-jogador do clube nos anos 40 e que havia treinado o último campeão carioca fora dos quatro grandes, o Bangu de 1966. O Palmeiras superara o Peñarol, também em melhor de três, e em La Plata ficou perto de um triunfo: Servílio, em impedimento não notado pela arbitragem, abriu o marcador.

Diplomacia: Pachamé cumprimenta Servílio, Rinaldo e Osmar no vestiário do Palmeiras após a final em La Plata. Em Montevidéu, Ribaudo, autor do primeiro gol da finalíssima, segura com camisa trocada a taça

Os visitantes venciam até os 38 minutos do segundo tempo. Foi quando, em jogada individual, Verón ziguezagueou entre Ademir da Guia, Ferrari e Osmar para chutar com a direita (sua perna ruim) antes de chegada de Baldochi e Valdir. Flores virou aos 42, com uma bomba de canhota ao emendar cruzamento de Pachamé onde Conigliaro fez corta-luz, enganando os visitantes. Mas no Pacaembu os brasileiros deram um troco contundente. Abriram 3-0, com três gols de Tupãzinho, e até perderam pênalti. La Bruja Verón novamente fez das suas, mas apenas um. Sem o critério de gols fora de casa, a decisão foi à neutra Montevidéu, em 16 de maio.

Dessa vez, em caso de empate o saldo de gol favoreceria o adversário e os pincharratas trataram de ruir isso cedo. Aos 13 minutos, Ribaudo abriu o placar. Se retrancando contra o abafa adversário, os argentinos mataram o jogo a oito minutos do fim: cara a cara com Valdir, o onipresente Verón anotou mais uma vez naquelas finais, deslocando o goleirão palmeirense para decretar emocionado o 2-0 naquele turbulento maio de 1968. E o Estudiantes também tratou de ratificar duas vezes o triunfo continental: em agosto, chegou à final do Torneio Metropolitano, mas soube perder, aplaudindo a volta olímpica do San Lorenzo treinado pelo brasileiro Tim.

A tríplice coroa escapou, mas o troféu mais importante veio em outubro, ganhando do Manchester United na bola em Buenos Aires e sabendo superar a intensa hostilidade inglesa no Old Trafford, onde a volta olímpica foi sabotada pelos gentlemen. O time só derrapou no Torneio Nacional, onde foi antepenúltimo. O sistema de rebaixamento, porém, só existia no Metropolitano. E a vaga na Libertadores de 1969 estava assegurada como detentor do título de 1968. O Estudiantes seria inclusive o único argentino presente, com Vélez e River (campeão e vice do Nacional) abrindo mão de um torneio que consideravam deficitário. Quanto à Libertadores de 1968, deixamos mais detalhes nesse outro Especial.

O bi e a mancha em 1969

O título mundial fez Zubeldía receber proposta do Barcelona, mas ele seguiu fiel ao Estudiantes. Como campeão de 1968, era a vez dos platenses se contemplarem pelo generoso regulamento que os punha já na semifinal. O Torneio Metropolitano de 1969 foi um aquecimento de luxo; terminaram em 3º no seu grupo – ainda que na ocasião da reestreia continental a revista El Gráfico cornetasse uma falta de ritmo. E isso que os argentinos souberam ganhar de 3-1 da Universidad Católica dentro de Santiago. A má vontade da grande imprensa era tanta que cornetaram também até o ímpeto dos visitantes em buscar mais gols ao invés de se pouparem depois do terceiro.

Primeiro gol da final em La Plata na Libertadores de 1969. Naquelas diabólicas jogadas ensaiadas daquele Estudiantes, Madero cobrou falta na cabeça do camisa 10 Flores. À direita, Verón, o reserva Ribaudo e Malbernat com a taça

O treinador vencido, o argentino José Pérez (a Católica tinha outros do futebol hermano: o brasileiro Delém, Sarnari e Isella), reconheceu: “Nos faltou sorte, mas deve-se ajudar a sorte. E o Estudiantes a ajuda. As tribunas não gostam do seu jogo, mas dentro de campo é um rival duríssimo por sua força, sua continuidade, sua persistência… Ademais, (…) sabe trabalhar as partidas e conseguir resultados. E quando o placar diz Estudiantes 3, Universidad Católica 1, já não fica nada para discutir”. Houve boa dose de sorte mesmo. Os dois primeiros gols vieram de rebatidas da defesa que entraram nas próprias redes após resvalarem em alvirrubros – mas que não resvalariam se estes não aparecessem de forma oportuna em busca do gol. No primeiro, logo aos 6 minutos, Pachamé cruzou a Conigliaro, o chileno Laube tentou afastar, mas seu rechaço fez a bola encontrar a cabeça de um Conigliaro já em aterrisagem.

No segundo, foi Conigliaro quem cruzou. O goleiro foi espalmar, mas seu punho fez a bola pegar em Rudzký (tchecoslovaco que ocupara a vaga do lesionado Juan Echecopar)  e ir ao gol, em momento psicologicamente apropriado, logo após o time da casa ter empatado de pênalti. E o terceiro foi aquela típica jogada bem ensaiada de um gol de cabeças (alô Muricy “Trabalho”!). “Uma perfeita repetição da jogada de laboratório que todos conhecem mas que ninguém acerta em controlar”, nas palavras da El Gráfico: em escanteio, Conigliaro pôs a bola naquele ponto da pequena área entre a trave e a bandeira de escanteio. Verón, de frente para ele, saltou para repassar de cabeça a bola para Togneri, atrás, testá-la para baixo no canto. A hostilidade tão pregada à imagem dos argentinos foi é praticada por alguns chilenos, a arremessarem garrafas no árbitro por três impedimentos corretos.

Na volta, em La Plata, nova vitória por 3-1, dessa vez mais fulminante. Todo o placar veio ainda no primeiro tempo, e de forma parecida: Estudiantes 1-0, Católica 1-1, Estudiantes 2-1 um minuto após o empate e depois Togneri ampliou. Seria 4-1 se um gol de Bilardo não fosse anulado por conta do impedimento de Rudzký, mesmo com este não tocando na bola. No segundo tempo, o Pincha só descansou, sob os olhares de alguns jogadores do próximo oponente presentes no estádio: Cubilla, Prieto, Álvarez, Techera e o brasileiro Célio, homens do Nacional. O Tricolor ainda não havia vencido a Libertadores e já batera na trave nas finais de 1964 e 1967, ambas perdidas para argentinos (Independiente e Racing). O arquirrival Peñarol já tinha três e foi superado após três Superclásicos uruguaios na semifinal.

O Estudiantes se plantou mais cauteloso no Centenário. Não pela atmosfera da torcida: “isso eu descarto. (…) Pior clima que o encontrado em Manchester não se pode dar em nenhuma parte do mundo”, disse Zubeldía em referência aos britânicos que impediram os alvirrubros de completarem a volta olímpica em Old Trafford. E sim por estar ciente da força e desejos extras do Nacional, que tinha ainda os brasileiros Manga no gol e Zezé Moreira como técnico e nada menos que nove titulares da seleção uruguaia que um ano depois seria semifinalista na Copa do Mundo de 1970. Os platenses souberam jogar mental e animicamente essa final, resistindo ao ímpeto uruguaio (o goleiro pincharrata Poletti foi a grande figura para esfriar o jogo), e vencê-la na única chance que tentou, tanto que Zubeldía reconheceu que esperava só empatar.

O segundo gol em La Plata. Verón disputa bola aérea com Mujica. A bola ia sobrar para Conigliaro, livre mais à esquerda, fuzilar Manga depois. Os uruguaios chegaram a reclamar impedimento, mas pode-se ver que a posição era legal no momento do passe. À direita, bicicleta do habilidoso Verón pai

Foi a primeira vitória argentina em final de Libertadores contra um uruguaio em Montevidéu – os mais talentosos Independiente e Racing saíram de lá só com empates (1964 e 1967) ou perdendo (1965). O gol veio de “uma jogada que começamos a ensaiar há cinco anos”, disse seu autor, Flores. Foi numa malandra cobrança de falta em que Bilardo se posicionou na barreira adversária só para distrai-la mesmo que com isso ficasse sendo empurrado por ela, enquanto outros alvirrubros ameaçavam chutar a bola, mas não a tocavam. Angustiada com os chutes que os argentinos abortavam e com a irritante presença de Bilardo, a barreira se abriu, momento em que Flores desferiu um canhotaço longe para Manga, posicionado no lado oposto ao da barreira que havia ordenado, alcançar.

A confiança pelo título foi tamanha que o Estudiantes, ainda com imagem de time médio na Argentina, estampou a capa da El Gráfico (normalmente destinada aos cinco grandes, ou à seleção) após a vitória no Centenário no jogo de ida, e não no da volta, que retratou jogadores do Racing. Na Argentina, o roteiro do jogo da volta foi similar com o da semifinal. Um primeiro tempo fulminante, dessa vez com 2-0, garantiu a única volta olímpica que o Estudiantes pôde fazer em La Plata por um título internacional (todos os outros se deram fora do país). No segundo tempo, os argentinos resolveram se dedicar à cera – no que receberam reprimendas da El Gráfico, aliás. Mas haviam razões: ainda estava fresca na memória a final de 1966, em que o River abrira 2-0 no Peñarol e não soube administrar o jogo na última meia hora (terminou levando a virada e sendo apelidado de Gallinas).

Mesmo assim, aquele Estudiantes não era popular nem entre os argentinos. E El Gráfico, para defender o valor dele, deixou estes argumentos na edição pós-título: “o jogo se faz muito violento? Eles se adaptam, aqui e fora. Na América e na Europa. Há que esfriar porque o rival prevalece? Se demora. Há que conversar porque há muito falatório? Se fala. Há que explodir a bola porque não há habilidade para joga-la? Se explode. Mas, há que ganhar? Se ganha. E para ganhar há que marcar gols? Marcam. E para não perder há que impedir os gols do oponente? Impedem. E para anular o craque dele há que correr-lhe por todo o campo? Se busca o homem indicado para correr-lhe… nada fica liberado ao azar. Nada. Nem o mais mínimo detalhe.  Por aí pode gozar de algum pequeno privilégio Verón… todos os demais são cérebro, razão pura, disciplina inquebrável, responsabilidade”. Mais detalhes do bi estão nesse outro Especial.

No Torneio Nacional, o Estudiantes foi só 10º de 18 times, se acomodando como nova vaga pré-garantida na Libertadores de 1970 como campeão. Problema mesmo foi no Mundial contra o Milan. Ali o antifútbol viraria sinônimo de jogo brutal. Na Itália, o adversário sapecou um 3-0 e ainda abriria o placar na Argentina. O Estudiantes ainda conseguiu uma virada-relâmpago no final do primeiro tempo. No segundo, por mais que o malandro Bilardo fosse sereno e o malandro Pachamé sequer estivesse em campo, o zagueiro Ramón Aguirre Suárez e o goleiro Alberto Poletti não souberam controlar os nervos conforme o tempo passava sem que o placar se alterasse. Zubeldía invadiu o campo para tentar controlar o ensandecido Poletti, mas o estrago estava feito no rosto do adversário Néstor Combín, argentino que terminou desfigurado e empapado em sangue como vingança às provocações que fizera ainda em Milão.

O que manchou aquele ciclo: a imagem desfigurada do milanista Néstor Combín, à direita. Mas generalizar é errado: à esquerda, Togneri e Zubeldía tentam conter seu goleiro Poletti na pancadaria do Mundial Interclubes

A imagem de Combín rodou o mundo, e em nada ajudou que ele chegasse a sair preso do estádio, sob acusação de desertor das forças armadas argentinas – mesmo que Poletti e o lateral Eduardo Luján Manera também fossem ao xadrez por uns meses e banidos do esporte. Com o tempo, o jogo violento do Mundial de 1968, praticado na realidade mais pelos ingleses, logo foi atribuído aos animals. Zubeldía, mesmo jurando inocência pessoal, se dizia extremamente fiel a seus jogadores e se recusou a deixa-los na hora ruim. Ainda houve outra disputa em 1969, embora esquecida: a Supercopa dos Campeões Mundiais. Embora o Pincha soubesse vencer por 3-1 o Santos de Pelé, saiu cedo da disputa, perdendo os dois embates contra o Peñarol. O troco sob maiores holofotes não tardaria.

Tri-letal: a conquista de 1970

As baixas dos banidos Poletti, Luján Manera e do aposentado Madero foram preenchidas com o goleiro Néstor Errea (refugo do Vasco, mas outra figura daquele forte Atlanta do início da década, e finalista da Libertadores de 1963 pelo Boca), o defensor Rubén Pagnanini (único daquele Estudiantes a vencer uma Copa do Mundo, como reserva na Argentina de 1978, embora já como atleta do Independiente) e o volante Jorge Solari – remanescente do River vice em 1966, ano em que esteve na Copa do Mundo. Assim como na campanha de 1969, a de 1970 foi rápida para os campeões, já garantido nas semifinais: para eles, o torneio durou só três semanas, embora se desenrolasse desde fevereiro.

Boca e River, respectivamente campeão e vice do Torneio Nacional de 1969, passaram sem turbulências pelos bolivianos Bolívar e Universitario na primeira fase de grupos. Na segunda, se juntaram a outro Universitario, o do Peru, que nem em casa pontuou contra os gigantes. E o River, que perdera os dois Superclásicos da chave inicial, deu o troco ao, na fase seguinte, bater o rival no Monumental e arrancar empate na Bombonera. Dessa vez, só um avançava e o Millo chegou às semifinais, embalado pelo seu ótimo lado ofensivo: o time de Núñez tinha o segundo maior artilheiro de sua história, Oscar Más e o recordista de gols em uma só Libertadores, Daniel Onega, autor de 17 na edição de 1966. Também havia aquele que teria sido o primeiro gol do Brasileirão, aos que se opõem à unificação com os torneios pré-1971, o futuro gremista Néstor Scotta (outro futuro tricolor, Carlos Chamaco Rodríguez, estava lá também, inclusive marcando o gol da vitória sobre o Boca).

Em jejum havia incríveis treze anos, que seriam dezoito, o River lutava em duas frentes, pois paralelamente concorria pela taça do Metropolitano – seria vice por um único ponto. Já o Estudiantes estava totalmente desapegado do torneio caseiro: só não disputou por critério de desempate o pentagonal contra o rebaixamento, repescagem entre os cinco últimos do Metro. Isso se refletiu nas semifinais: Eduardo Bocha Flores deu aos alvirrubros a vitória em pleno Monumental ao marcar o único gol do jogo. Três dias depois, os vitoriosos perderam de 3-1 no Metro para o Independiente (que seria o campeão) enquanto o River usou titulares com o Vélez – para piorar, só empatou. Na volta em La Plata, foi passeio. Más marcou para a visita, mas Solari (tio de Santiago Solari, ex-jogador e ex-técnico do Real Madrid), Echecopar e Verón anotaram para os mandantes.

O único gol das finais de 1970, do zagueiro Togneri, de fora da área, antes que o argentino Onega (na foto à direita) interceptasse

O lado negativo para o Pincha foi a expulsão do capitão Malbernat, que pegou dois jogos de suspensão; José Medina o substituiria para as duas primeiras finais. Mas não haveria necessidade de uma terceira mesmo que do outro lado estivesse o Peñarol. Treinado pelo brasileiro Osvaldo Brandão, o oponente cansara-se bem mais: além de superar as duas fases de grupos, precisou jogar três vezes as semifinais com a Universidad de Chile. Após perderem em Santiago por 1-0, os aurinegros bateram La U no Centenário por 2-0 e 48 horas depois empataram em 2-2 na neutra Avellaneda. Com melhor saldo, os uruguaios se beneficiaram do empate, mas se ressentiam da falta de titulares, ocupados com a preparação da seleção uruguaia à Copa do Mundo – para a qual a Argentina não se classificara.

O Peñarol também se ressentiu da falta de titulares, que estavam se preparando com a seleção para a Copa de 1970 (para a qual a Argentina não se classificara): não teriam na reta final o defensor Roberto Matosas e Omar Caetano, os meias Roberto Sandoval e Pedro Rocha, os atacantes Julio Cortés e Julio Losada nem mesmo seus dois goleiros, Ladislao Mazurkiewicz e Walter Corbo. Mas a tradicionalíssima equipe uruguaia mantinha outras estrelas: o velho xerife Néstor Gonçalves (maior campeão da riquíssima história carbonera, e que se aposentaria naquele ano), o cacique chileno Elías Figueroa e o malabarista argentino Ermindo Onega, irmão da Daniel Onega e um raro homem a quem Maradona pedira autógrafo na vida.

Os argentinos sofreram na ida, em La Plata, não acostumados ao necessário protagonismo frente um adversário experiente e que veio na retranca garantir um empate. “Voltou a denunciar seus problemas quando se vê na alternativa de atacar com a bola (…). O Estudiantes é EQUIPE quando especula, quando pensa, quando mantém a frieza necessária para impor todos os conhecimentos dessa ‘biblioteca’ já arraigada em sua mecânica. E, consequentemente, o Estudiantes duvida quando se vê na impostergável obrigação de mudar o que está na sua essência pelo que já entra no terreno da improvisação” foi o diagnóstico preciso da revista El Gráfico na época. Em um jogo que precisava ganhar, o Pincha se ocupou de início em fazer o que sabia: marcar o adversário, o que acarretou na esdrúxula atitude de marcar um oponente retrancado que apenas cozinhava o jogo.

No segundo tempo é que os mandantes se tocaram e procuraram ser mais ofensivos, mas na base do desespero. E foi com sorte de campeão que conseguiram o gol, com o destro defensor Néstor Togneri acertando uma bomba de canhota em um chute de fora da área. Togneri que, três anos antes, chorava com seus colegas de Platense aquela reviravolta protagonizada pelo Estudiantes naquelas semifinais… os alvirrubros o adquiriram em 1968 e trataram-no como se já fosse da família. “Que se tem que fazer neste caso? Devolver com a mesma intensidade, (…) se matar pelo time”, declarou Togneri na época, que retribuía ainda todo o apoio fundamental que aquele grupo lhe dera diante da perda meses antes da filha recém-nascida. De um elenco de valores individuais apenas esforçados com a exceção do craque Verón, Togneri seria justamente o único de todo o tri a ir a uma Copa do Mundo, em 1974 (Pagnanini, o homem de 1978, só entrou com o bonde andando).

O Estudiantes perfilado há exatos 50 anos no estádio Centenário: Carlos Pachamé, Néstor Errea, Rubén Pagnanini, Néstor Togneri, José Medina, Oscar Pezzano (goleiro reserva) e Jorge Solari; Marcos Conigliaro, Carlos Bilardo, Eduardo Flores, Juan Ramón Verón e Hugo Spadaro

O afoito passou a ser o Peñarol, que quase conseguiu o empate, mas o reserva Christian Rudzky (primeiro europeu campeão de Libertadores: era tchecoslovaco) salvou em cima da linha no último lance. Em Montevidéu, sim, o jogo foi duro. Mas por parte dos uruguaios. A El Gráfico, enfim, se rendeu: “sem antifútbol, com fútbol (…). É, fundamentalmente, a revanche limpa (…). Esta exemplar performance de Montevidéu, exemplar pela honestidade esportiva com que se plantaram e resolveram o jogo, exemplar pela serenidade, a convicção e a conduta com que absorveram o clima e as agressões (durante e depois da luta), nos exige um tributo jornalístico muito mais importante que um comentário técnico e anedótico de uma partida”.

No tal tributo, a revista até parafraseou a doutrina Monroe da política dos EUA para decretar “América para os Pinchas“. Errea só foi exigido três vezes no jogo inteiro, bem cozinhado pelos argentinos, que garantiram a posse da taça (oferecida ao primeiro tri seguido ou ao primeiro penta; a diferença é que ao contrário da Copa do Mundo, o troféu não foi alterado) em vez de uma mera réplica. Ficou no 0-0, para a fúria de alguns aurinegros, intolerantes aos festejos visitantes. “Os aplaudimos porque não querem perder. Mas também temos repudiado (…) sua incapacidade de saber perder. (…) Esse machismo, que imitaram alguns jogadores nossos, tem feito muito dano ao futebol rio-pratense (…). Terminemos com esse machismo estéril. Porque o futebol, mesmo profissional, segue sendo um esporte”, clamou a El Gráfico após o primeiro título de Libertadores conseguido por um clube no Centenário contra um time uruguaio. Primeiro e, até hoje, único, com detalhes deixados nesse outro Especial.

Epílogo

Na virada de agosto para setembro, o Estudiantes teve nova chance diante do mundo para limpar a imagem péssima diante do Milan. Os argentinos ensinaram aos holandeses o uso da linha do impedimento, tão marcante ainda de modo inovador na Laranja Mecânica de 1974, mas o Feyenoord não caiu: o time de Roterdã soube deixar La Plata com um 2-2 e venceu na Europa pelo placar mínimo. Incidentes no grau visto contra os italianos não se repetiram, mas a imagem não melhorou muito após até mesmo o sereno Malbernat perder a cabeça: tirou os óculos de Joop van Daele, o reserva que fez o gol do título holandês, e neles pisou. No Torneio Nacional de 1970, o Estudiantes voltou a fazer campanha de meio de tabela enquanto se preparava a novo Mundial.

Sentindo o fim de ciclo, Zubeldía rumou em 1971 ao Huracán, outrora o sexto grande do futebol argentino, mas adormecido desde meados dos anos 40. Miguel Ignomoriello foi o treinador de um novo Estudiantes finalista da Libertadores, mas dessa vez o Nacional do superartilheiro argentino Luis Artime deu o troco por 1969. Artime fora, inclusive, outra semente germinada naquele forte Atlanta dos anos 60. Conhecendo bem Zubeldía, o goleador defendeu-o: “aquele Estudiantes que dirigiu era uma grande com muitos bons jogadores. O lance dos alfinetes e outras armadilhas eram verdade, mas não eram ideia de Zubeldía, acredito que vinha mais de Bilardo”. O técnico tri continental não correspondeu às expectativas em um ambiente de pressão desmedida no Huracán, que ainda no Metropolitano de 1971 substituiu-o por um iniciante chamado César Menotti. Zubeldía recuperaria seu nome exatamente no rival huracanense.

A revolta do aurinegro Gonçalves com a perda do título no Centenário; o novato Pagnanini, que iria à Copa de 1978; e Togneri, único de todo o tri a ir a uma Copa, em 74, assediado por repórteres após a primeira final

No San Lorenzo, a raposa levantou o Torneio Nacional de 1974. Ali, um de seus comandados foi o atacante Carlos Veglio, a declarar que “Osvaldo era um cavalheiraço, e não fazia nada do que se dizia que fazia no Estudiantes, não era ele quem inventava essas coisas, me parece que era o que usava a camisa 8”, em referência a Bilardo. Outro pupilo em 1974 foi o zagueiro Jorge Olguín, logo titular na seleção de Menotti em 1978 e treinado também por Bilardo no San Lorenzo de 1979: “Zubeldía era outra coisa. Tive muitas discussões com Menotti por esse tema, lhe explicava que não era um vantageiro como se dizia. Falando com muita gente daquela época, estavam de acordo que os que iniciaram essas coisas foram os jogadores. Menotti dizia que Zubeldía os mandava e eu posso te assegurar que não, porque o tive como treinador. Era um cara excepcional. Tudo o que atribuem a Zubeldía, na realidade ocorria com Bilardo: as armadilhas, tirar vantagens…”.

Ironicamente, o assistente de Menotti, Roberto Saporiti, defendia Zubeldía também: “te digo uma coisa: o Estudiantes de Zubeldía estava baseado na técnica, a maior virtude dessa equipe para mim era a técnica. Você não sai campeão tantas vezes xingando o rival ou espetando-o com alfinetes”. Zubeldía não teve um bom arranque no San Lorenzo em 1975 e passou ao Racing, onde conseguiu um histórico 5-4 no Clásico de Avellaneda diante de um Independiente que acabava de lograr o tetra seguido na Libertadores. O treinador, porém, não durou muito mais tempo na Academia. Seguiu carreira no futebol colombiano, sendo campeão em 1976 com o Atlético Nacional. O país abrigaria muitos remanescentes daquele Estudiantes.

Verón seria o jogador-treinador da primeira conquista do Junior de Barranquilla, em 1977, enquanto Ribaudo treinava o Once Caldas. Em 1978, Bilardo levou o Deportivo Cali à primeira final de Libertadores que a Colômbia participou. Zubeldía foi novamente campeão com o time de Medellín em 1981, meses antes de falecer no exercício do cargo, em janeiro de 1982. E o Estudiantes? O time tri logo perdera seu craque Verón ao Panathinaikos, mas o maestro voltou em 1975 e o clube, treinado pelo iniciante Bilardo, foi vice do Torneio Nacional. Após a volta de Bilardo do futebol colombiano, onde chegara a treinar a própria seleção cafetera, o Pincha conseguiu seu primeiro título desde o tri, no Torneio Metropolitano de 1982 – catapultando Bilardo à seleção.

O resto é a história que culminou no título mundial de 1986, cujo placar foi aberto pelo zagueiro José Luis Brown, outro membro do Estudiantes de 1982, embora já com passe pertencente ao Atlético Nacional. Homem que não deixava de exaltar Zubeldía, em entrevista à El Gráfico em 2011: “nunca pude falar com Osvaldo, mas tenho a melhor imagem dele. Nem falar do Estudiantes. E quando fui jogar em Medellín, onde ele trabalhou, as pessoas têm um conceito impressionante do Osvaldo”. O meia-armador Alejandro Sabella, por sua vez, foi o elo entre aquele Estudiantes de 1982 e o elenco que reconquistou a América para os platenses em 2009, já sob outro homem da família Verón. Mas essa já é outra história, relembrada nesse outro Especial.

A seleção argentina de 1986, com três ex-membros do Estudiantes na comissão técnica. Claudio Borghi (de cinza), Oscar Ruggeri, Oscar Garré (quase escondido), Luis Islas (de vermelho), Oscar Dertycia, o preparador físico Ricardo Echevarría, o agora médico Raúl Madero, o chefão Julio Grondona, o técnico Carlos Bilardo, o assistente Carlos Pachamé e José Luis Cuciuffo
https://twitter.com/Libertadores/status/1265478079880654852
https://twitter.com/EdelpOficial/status/1265620700917874688
https://twitter.com/Museo_Edelp/status/1265630760163254274

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

3 thoughts on “Há 50 anos, o Estudiantes era tri seguido na Libertadores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

três × um =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.