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Maradona escalou sua seleção argentina dos sonhos. Em vez de Messi, Caniggia

Leitores da Placar há mais de dez anos se deparam com uma seção de “time dos sonhos”, outrora chamada “nesse time eu seria banco”. A revista congênere argentina, a El Gráfico – publicada desde 1919 – aderiu há menos tempo. Agora foi a vez do TyC Sports (o canal por assinatura do Grupo Clarín que detinha por anos e anos o monopólio das transmissões antes de perdê-lo para o Fútbol Para Todos). Maradona, de trajetória marcada por suas contradições, espelhou-as bem ontem, assumindo o afeto pessoal em alguns eleitos enquanto a razão pesou para um desafeto como Daniel Passarella. Mas foi humilde em não escalar-se.

O júri deveria levar em conta o desempenho do jogador na seleção em detrimento do meramente clubístico. Mesmo já sendo o maior artilheiro da seleção e atrapalhado por higuaíns, a pendência de títulos com Messi parece ter pesado. Diego preferiu um jogador que, ao contrário da Pulga, tem gol em mata-matas de Copa do Mundo – dois, os únicos da Argentina no mundial de 1990. Eis os nomes:

GOLEIRO:El Pato (Ubaldo) Fillol, por muita diferença. Também colocaria Luis Islas, pois sua aparição foi impecável, não lhe podíamos fazer um gol quando treinávamos no sindicato onde Bilardo nos levou. Mas creio que El Pato tira vantagem sobre todos. Eu o vi treinar, o vi jogar, e a personalidade que tinha era imponente. Tive a sorte de ser um dos poucos que, cada vez que o enfrentei, lhe fiz gols”.

LATERAL-DIREITO: “(José Luis) Cucciufo. Para mim, tinha velocidade, tinha antecipação, tinha tudo. Para mim tem muita vantagem sobre os demais, que foram muito bons jogadores, mas não chegavam a Cuciuffo”.

PRIMEIRO ZAGUEIRO: “(Roberto) Perfumo, por muitas coisas. Por personalidade, pela capitania, por inflar o peito. Poderia dizer El Tata (José Luis Brown) porque tenho uma grande amizade”.

SEGUNDO ZAGUEIRO: “Com todos os problemas que tive com ele, não posso enganar a mim mesmo. (Daniel) Passarella. Um monstro. Depois, o que a vida traz, levas para adiante. Eu não me posso esquecer que saltava para cabecear, que pegava bem na bola, era mau, tinha tudo o que tem que ter um marcador central. Um fenômeno El Cabezón (Oscar Ruggeri) sim, mas marcando. Passarella era completo”.

LATERAL-ESQUERDO: “(Alberto) Tarantini, pelo coração. Estando bem fisicamente, era impassável, e além disso sabia com a bola. Embora tenha ido ao River, jogar com a camisa do Boca o fazia um fenômeno”.

VOLANTE CENTRAL: “El Tolo (Américo) Gallego. Nessa não erro. El Tolo sabia tudo, entendia tudo. (Javier) Masche(rano) sabe que gosto dele, eu disse ‘Masche mais dez’ e sigo pensando assim, mas fico com Gallego”.

VOLANTE DIREITO: “O do Miguel (Brindisi) preencheu a mim, mas El Pitón (Osvaldo) Ardiles não ficava quieto nunca, sempre era uma roda de auxílio para todos. Fico com Ardiles”.

VOLANTE ESQUERDO: “El Negro (Héctor) Enrique. Creio que (José Luis) Burru(chaga) pegava melhor na bola que El Negro, mas El Negro tinha uma ida e volta espetacular” [Nota nossa: foi recebendo a bola de Héctor Enrique que Maradona iniciou seu gol driblando meia Inglaterra em 1986].

MEIA ARMADOR: “Todos jogam bem, todos têm bom pé. O que acontece é que se não estava eu, El Bocha (Ricardo Bochini) e (Norberto) Alonso teriam comido o futebol argentino, mas eu lhes caí e lhes arruinei o aniversário. Deixo esse posto a critério das pessoas. Há muitos jogadores nessa posição que podem jogar tranquilamente em qualquer seleção e qualquer equipe do mundo” [Nota nossa: Bochini era ídolo de Maradona, de quem foi reserva em 1986, a ponto de fazê-lo declarar-se nos anos 70 torcedor do Independiente. Já Alonso tirou dos dois uma vaga na Copa de 1978].

SEGUNDO ATACANTE: “Eu diria (Lionel) Messi, mas (Claudio) Cani(ggia) é um fenômeno. Foi um fenômeno e o levo em meu coração”.

CENTROAVANTE: “O que vimos de Mario (Kempes) no Valencia foi fantástico. Mas o que vi de (Gabriel) Batistuta na Itália, que mandava um tiro livro da metade do campo e te rompia o travessão… se não fosse por Batistuta, Fiorentina há vinte anos estaria na série B. O animal te fazia entre dois ou três gols, mas os defensores eram tabelados pelos contrários e perdiam de 5-3. Tenho mais dúvidas que (Mauricio) Macri. Gosto dos dois. De Mario porque nos deu 1978 e do animal porque nunca vi um cara pegar na bola com tanta firmeza”.

TREINADOR: “Escolho El Flaco (César) Menotti. Com todos os técnicos que passaram pela minha vida, o que mais me marcou, o que mais me deu soluções, se chama Menotti. Cada um tem suas vivências, seu passado e seu presente. Eu não posso deixar de fora um cara como El Flaco Menotti, que sabe tanto de futebol e o explica muito bem. Que não tenha um cargo no futebol argentino me parece uma birra que fizeram ao Flaco por dizer sempre a verdade. Quero lhe dar um abraço enorme e dizer-lhe na cara que foi e é o maior, e isso que me deixou de fora de 1978 e o segui escutando e respeitando. Aceitava os conselhos, os treinos”.

Abaixo, especiais do Futebol Portenho sobre alguns jogadores eleitos ou mencionados por Maradona. Há um ano a própria AFA escolheu nomes parecidos (Fillol, Javier Zanetti, Perfumo, Passarella e Tarantini, Brindisi, Fernando Redondo e Maradona, Messi, Batistuta e Kempes) e a cornetamos aqui. E para vocês, quais nomes seriam os adequados?

Ubaldo Fillol, maior goleiro da Argentina, celebra 65 anos

Dez anos sem Cuciuffo, titular da vitoriosa Copa 1986

Marcar em final de Copa seu único gol pela seleção e jogá-la com ombro deslocado: 60 anos de José Luis Brown

Adeus, Marechal! Relembre Roberto Perfumo, lenda de Racing, River, Cruzeiro e seleção

Campeão com qualquer camisa: 55 anos de Oscar Ruggeri, da Copa de 1986

Tarantini, um jogador 100% de seleção que nela equilibrou Boca e River

Miguel Ángel Brindisi, mito do Huracán e “irmão mais velho” de Maradona no Boca

Jorge Luis Burruchaga, o herói da final de 1986

Bochini: o maior jogador da história do Independiente faz 60 anos

50 anos de Caniggia, o Pássaro do Povo

Relembre Mario Kempes, que hoje faz 60 anos

Gabriel Omar Batistuta, o maior artilheiro da Albiceleste

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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