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Maxi Correa: uma história de sofrimento e superação por trás de “La Gloria”

Diante do Gimnasia Jujuy, Correa foi o dono da meia cancha

Vivendo um momento ímpar na sua história, o Instituto de Códoba apresenta grandes promessas de sua base ao futebol local e internacional. Entre elas, o destaque é certamente Dybala, envolvido agora em um verdadeiro imbróglio sobre sua possível incorporação pelo Palermo da Itália. Na fileira tem outros como Burzio, Javier Correa, Lópes Macri, Bianchi, Canevér e outros. Um deles poderia ser hoje uma das maiores revelações. Contudo, uma história de sofrimento evitou que Maximiliano Correa aparecesse para o cenário de “glória” do clube. Porém, na partida contra o Gimnasia Jujuy, o jovem atleta de 22 anos sinalizou seu possível flerte com o estrelato. A reviravolta de sua condição é uma verdadeira história de luta e superação. Uma briga de vários rounds e de três anos de duração. No que pode ser o último round Correa finalmente venceu. Conheça então um pouco do outro lado do que compõe a formação e diva de um jogador de futebol.

Junho de 2009 – A estreia

Colhendo os primeiros frutos dos investimentos na base o Instituto foi à pré-temporada em Villa Gesell com a proposta de incorporar alguns talentos no elenco e na formação titular. Entre eles estava o jovem Maximiliano Correa, 19 anos, e vitimado por grande euforia. Correa sabia que a safra era boa e a concorrência grande. A maneira como Benutto, então técnico de “La Gloria” o foi buscar na base dava indícios de que ele seria um dos escolhidos para subir e permanecer na equipe.

Para Correa aquilo era a concretização de um sonho. Mesmo com longa estrada na base do clube, e com um talento invejável, nada assegurava que de fato ele se tornaria um jogador de futebol profissional. Para tanto, seus pais, que chegaram a passar dificuldades, estavam sempre do seus lado, assim como o irmão Alan. Em Gesell, a euforia era grande, mas a insegurança também. Bastava ver os profissionais ao seu lado, e também os outros garotos da base, para que a dúvida sobre seu aproveitamento fosse ainda maior do que a felicidade de fazer parte da pré-temporada do clube de Alta Córdoba.

Foi então que Bonetto o chamou e o colocou na formação titular. A estreia seria diante do Belgrano, na primeira partida válida pela preparação rumo à B Nacional 2009/2010. Uma espécie de alívio tomou conta do garoto. Sua primeira preocupação? A de comunicar a novidade aos pais, que imediatamente asseguraram ao jovem atleta que estariam no jogo para acompanhá-lo.

Contudo, no último treino antes da partida veio a decepção. “Jogaríamos dois dias depois contra o Belgrano e quando finalizávamos o treino aconteceu isto”, disse Correa na época, referindo-se à lesão no tornozelo, com rompimento do tendão de aquiles. Como era apenas um jovem da base nenhum veículo de comunicação divulgou o assunto e quase ninguém ficou sabendo do acontecimento. Sua família, contudo, foi uma exceção. À época, a dúvida que pairava era se o jogador realmente seguiria sua carreira profissional. Mesmo o apoio do clube não dava essa certeza.

26 de junho de 2011 – A estreia, parte II

Longo tempo de forno, desesperança, ansiedade e dúvida sobre o sentido de ser ou não um atleta profissional. Contudo, chegou a data da reestreia. A partida seria válida pela última rodada da B Nacional; no cardápio, um duelo com o Independiente Rivadávia no estádio Mário Kemps. Novamente sua família se prontificou a ir ao estádio para vê-lo jogar. Desta vez, além dos membros tradicionais, havia novidades: também sua noiva, Rocio, e seu filho, Valentino, de dois meses, estariam na cancha para prestigiá-lo. Desta forma, o drama da lesão anterior ficara para trás e o que importava era o novo momento.

Ainda em campo, ninguém sabia a gravidade da lesão; nenhum músculo de seu rosto acusava reação

A camisa número cinco foi dada a Correa, que a recebeu e a vestiu com orgulho. Em campo, parecia canalizar para o duelo os dois anos de incertezas. Disto resultou que o garoto encantava em cada dividida, da mesma forma em que parava a pelota e organizava o jogo na meia cancha. Encantava. No entanto, em uma dividida brusca com o jogador do Independiente, o jovem do Instituto levou a pior. Sofreu uma tripla fratura no rosto. A fratura do nariz foi só um detalhe diante da gravidade que o seu maxilar apresentou. O olho esquerdo ensanguentado gerou a suspeita de possível cegueira. A cabeça pendia no chão e sinalizava um estado de saúde preocupante e desesperador. Ao examinar rapidamente o atleta, a comissão média se assustou com a quase nula reação dos músculos da face. Em estado de semiconsciência a inatividade de Correa contrastava com o choro e os gritos de seus familiares na arquibancada. Era só uma estreia. Mas a certeza, principalmente de seus familiares, era a de que nada daquilo valia a pena.

Ironicamente, a estreia de Correa marcava a aposentadoria de Diego Klimowicz, ídolo da equipe e uma verdadeira paixão para a hinchada de “La Gloria”. Depois do jogo, as atenções da mídia e da torcida se voltaram para “el Granadero” e, uma vez mais, poucos se atentaram para o drama da jovem promessa. Todavia, assim que pode falar sobre o assunto, ainda no hospital, e sem a definição de que voltaria a enxergar, as palavras de Maxi surpreenderam pelo conteúdo esperançoso: “sou um lutador e jamais abaixarei minha guarda”.

28 de abril de 2012 – a estreia, parte III ou o triunfo da resistência , da solidariedade e da fé

Com o elenco estropiado e pressionado pela derrota frente ao River, o Instituto somava problemas para encarar o Gimnasia em San Salvador de Jujuy. Com dificuldades para armar o meio-de-campo, Darío Franco não teve dúvidas de chamar um garoto que se entregava aos treinos como um faminto a um prato de feijão. Com 22 anos de idade, o jovem Maximiliano Correa era o último de sua geração que ainda não havia empenhado a camisa de “La Glória” durante os 90 minutos de uma partida. O jogador que ele iria substituir seria Ezequiel Videla; antes, apenas um companheiro de base; agora, um atleta que parecia estar anos-luz distante de sua condição: “Videla é um monstro”, disse ele, assim que soube que iria para o jogo.

A ansiedade foi tanta que na viagem a Jujuy, o jogador passou mal no avião e precisou de atendimento. Teve dor de cabeça, sentiu falta de ar, vomitou e quase desmaiou. Depois, soube-se que parte do sofrimento se deu porque o garoto evitou tomar o café-da-manhã, ansioso e com medo do avião. Desta vez, parte de sua família resolveu que ficaria em Córdoba e que acompanharia o jogador pela TV.

Com o estádio “La Tacita de Plata” completamente lotado, o jogador não se intimidou e cumpriu sua tarefa de resguardar a defesa e de ser a primeira saída pela meia cancha de “La Gloria”. Seu jogo firme lhe valeu um cartão aos 38 minutos de jogo. O que não o intimidou. Em sua cabeça, apenas eles tinha a devida noção do que significava aquele jogo. Talvez por causa disso, é que sua atuação encheu os olhos do todos. Com um elenco desgastado física e mentalmente, La Gloria não repetiu as mesmas atuações de outras partidas. Situação que oportunizou a Correa que se sacrificasse pelo time, sobretudo na marcação. “No começo confesso que minha ansiedade era grande, porém, pouco a pouco fui me tranquilizando na cancha; parte disso por causa da confiança que meus companheiros me davam”. No fim, a atuação de gala lhe valeu elogios e felicidade. Mas sobretudo alívio.

Era a primeira vez que a antiga promessa do Instituto realmente estreava com a camisa que vestira por 11 anos nas inferiores do clube. Saia enfim da condição de atleta da base para tornar-se um jogador de futebol profissional. Poucos minutos depois daquilo, seu desejo era o de perder quaisquer contatos com a mídia e se voltar somente para os seus. O que de fato aconteceu. No dia de ontem, no bairro de Patrícios, que o viu nascer e crescer esperançoso, Maximiliano Correa pode comemorar em companhia de seus pais, Claudia e Roberto, de seu irmão Alan e de sua noiva e filho, Rocio e Valentino. Naquele momento, é bem possível que na opinião de todos eles, tudo aquilo realmente tinha valido a pena.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

4 thoughts on “Maxi Correa: uma história de sofrimento e superação por trás de “La Gloria”

  • Angelica Lima

    Poxa, que história hein. é o outro lado, muito triste.

  • Carlos Eduardo

    parabéns a este site por sair do lugar comum e nos presentear com uma história como essa. é muito importante que todos aqueles que queiram ser um jogador de futebol vejam o outro lado da profissão. valeu.

  • Nossa uma históra comovente mesmo, parabéns ao atleta que com certeza é mais do que um vencedor!

  • parabens ao site, e sobre tudo parabens a bela campanha do Instituto na B nacionall! belo trabalho! do jeito q ta o titulo da b já é certo, o River se bobear nem o acesso direto vai conquistar!

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