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Nostalgia da Copa – Argentina 0×4 Alemanha– 2010

Dia 3 de julho de 2010. Acabava um dos mais belos sonhos da história do futebol argentino. Com um 4 a 0 incontestável, a Alemanha eliminava a Argentina do mundial da África do Sul. Mais que isso. Matava a possibilidade de que o maior ídolo da história do futebol do país vizinho pudesse retornar e comandar a albiceleste a uma nova conquista do torneio mais importante do planeta depois de 24 anos.

Mas um observador atento poderia ter imaginado que algo do tipo pudesse mesmo ocorrer. O primeiro aviso foram as acidentadas eliminatórias sul-americanas, em que Diego viu do banco a albiceleste sofrer uma humilhante goleada de 6 a 1 para a Bolívia e uma categórica derrota por 3 a 1 para o Brasil dentro de Rosário. Mas o fato de a seleção argentina chegar à África do Sul com uma das melhores gerações de sua história deu a muitos a esperança de que a mística de Maradona pudesse entrar em campo e levar a equipe à tão sonhada conquista.

E as vitórias relativamente tranquilas contra Nigéria, Coréia do Sul e Grécia na primeira fase do torneio fortaleceram essas esperanças. O sinal amarelo acabou se acendendo na partida contra o México, pelas oitavas. A albiceleste venceu o antigo freguês por 3 a 1, mas a atuação não foi das mais convincentes. Tevez abriu o placar em um lance de impedimento evidente, Higuaín ampliou depois de falha grotesca da defesa mexicana e Tevez fechou o caixão dos astecas em um gol extraordinário. A vitória claramente era fruto das individualidades argentinas, das falhas mexicanas e dos enganos da arbitragem.

Contra a Alemanha era óbvio que as coisas seriam difíceis. Os tudescos haviam surpreendido o mundo com um time jovem e espetacularmente eficiente nos contra-ataques. Maradona apostou na mesma formação que havia dado pouco resultado contra o México. Uma linha com quatro zagueiros de área plantados na defesa (Otamendi, Burdisso, De Michelis e Heinze), Mascherano sozinho na proteção à zaga, Maxi Rodriguez e Di Maria pelos lados, divididos entre as tarefas de armar a equipe e ajudar Macherano no meio. Messi, posicionado como enganche, recebia poucas bolas desse meio de campo tão frágil, e se via obrigado a buscar a bola no meio de campo, muito longe da área, onde poderia fazer a diferença. Tevez e Higuaín estavam isolados no ataque.

E os temores argentinos se materializaram cedo demais. Aos 2 minutos, numa falta cobrada na lateral da área, Thomas Müller, a revelação do Bayern de Munique, se antecipou a Otamendi para abrir o placar. Uma Argentina cheia de talentos, mas totalmente desorganizada e mal treinada teria de buscar o resultado contra uma organizada Alemanha. No restante do primeiro tempo a albiceleste tentou o empate, mas esbarrava na defesa alemã. O volume de jogo não se traduzia em oportunidades reais.

No segundo tempo o panorama não se alterou. A Argentina se lançava desesperadamente ao ataque, ficando vulnerável aos fulminantes contra-ataques alemães. Até que aos 23 minutos, Podolski achou Klose livre para ampliar. Mais do que o 2 a 0, o gol do artilheiro alemão se mostraria decisivo por jogar as esperanças argentinas no chão. Seis minutos depois Schweinsteiger, que nessa partida fez uma das melhores apresentações individuais do mundial, fez grande jogada, complementada pelo zagueiro Arno Friedrich. Nos últimos minutos, um brilhante Mezut Ozil achou Klose livre para marcar o quarto gol.

A Alemanha suplantava a Argentina com um implacável 4 a 0. A albiceleste sofria uma derrota por um placar elástico, algo que não ocorria desde 1958, quando ocorreu a maior goleada sofrida pela seleção em sua história nas copas (6 a 1 para a Tchecoslováquia). Talvez o mais importante fosse o fim das esperanças de ver Maradona levando novamente a Argentina a um título mundial. Dor acentuada pelo fato de que aquela derrota vitimava também uma das mais talentosas seleções argentinas da história.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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