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No dia da Amizade, a história mais duradoura na Argentina: os Carlos Bilardo e Pachamé

“Hoje vivi algo impressionante, Carlos estava inconsciente e veio Pachamé, o agarrou pela mão e Carlos respondeu e não lhe soltava a mão. Aí me dei conta do que é a amizade e Pacha“.

A declaração acima uniu dois tweets seguidos de Jorge Bilardo, aqui e aqui, publicados em sequência na manhã de 19 de julho de 2019. O sobrenome não deixa surpresas: Jorge é irmão de Carlos Bilardo e se referia ao próprio, imortalizado como técnico da seleção vencedora da Copa do Mundo de 1986, mas cada vez mais fragilizado na saúde octogenária a ponto de continuar sem saber que seu “filho postiço” Maradona e outros ex-pupilos como Alejandro Sabella ou José Luis Brown já faleceram. Mas a ligação com Carlos Oscar Pachamé (a pronúncia e “Patchamê”) talvez seja mesmo ainda mais profunda. Pacha (“Pátcha”), não por acaso, era o fiel assistente técnico de El Narigón naquela Copa de 1986 e também na de 1990. O futebol argentino viu poucas amizades ilustres rondarem quase 60 anos.

Em 2022, felizmente, Bilardo pôde celebrar mais um aniversário, com direito a um bolo em formato de troféu da Libertadores junto do amigo. Eles se conheceram em 1965, ano em que Carlos Bilardo, sem vingar como jogador do San Lorenzo do coração, via necessidade em já programar uma vida custeada pela sua formação paralela em medicina. Estava no modesto Deportivo Español, mas tinha uma oferta do Argentinos Jrs e outra do Estudiantes. A ideia era de já montar uma clínica de ginecologia na vizinhança de qual clube escolhesse. Como ambos lutavam contra a lanterna, concluiu que um vexame no Argentinos afugentaria toda a clientela do bairro dos colorados, mas algo assim em La Plata ao menos permitiria ter fregueses do lado rival.

O sucesso que viria tardiamente ao Bilardo jogador, prolongado a seus êxitos como treinador, o faria deixar de lado de vez a carreira de médico – assim como, similarmente, Pachamé largava gradualmente o basquete (onde tinha certo destaque, segundo seu perfil no livro Quién es Quién en la Selección Argentina) por conta dos resultados da chamada Tercera que Mata, apelido da equipe sub-19 do Estudiantes vice-campeã argentina na categoria em 1964 e enfim campeã naquele 1965. Aqueles juvenis já reuniam a espinha-dorsal que faria história em breve; também estavam por lá o craque Juan Ramón Verón, o goleiro Alberto Poletti, o capitão Oscar Malbernat e os xerifes Ramón Aguirre Suárez e Eduardo Luján Manera. Esses sucessos da base credenciaram que já em 1965 alguns se alternassem com a equipe principal do Estudiantes.

Em pé: Oscar Malbernat, o técnico Osvaldo Zubeldía, Eduardo Luján Manera, o goleiro Alberto Poletti, um membro da comissão técnica, Hugo Spadaro, Marcos Conigliaro e Eduardo Flores; sentados: Carlos Bilardo, Raúl Madero, Felipe Ribaudo e o sorridente Pachamé

Pacha de fato fez em 29 de maio de 1965 sua estreia pela equipe adulta do Pincha, pela 10ª rodada, um auspicioso 2-0 sobre o Newell’s… no que foi também seu primeiro jogo ao lado do recém-chegado Bilardo. Mais: Pachamé jogou somente outra vez no ano, na 21ª rodada, mas a tempo de ali conferir uma assistência ao parceiro de décadas, cruzando para que o Narigón descontasse no finzinho uma derrota de 2-1 para o campeão Boca, em La Bombonera.

Veio então aquele título no sub-19 e, com isso, uma titularidade instantânea entre os adultos para 1966, quando o volante já foi utilizado nada menos que 29 vezes. E, por tabela, desenvolvia um entrosamento cada vez mais estreito com El Narigón Bilardo. E vitorioso.

O título argentino de 1967

O Estudiantes, antepenúltimo em 1964, já havia saltado para 5º em 1965 muito pelo toque de Midas do novo treinador, o jovem Osvaldo Zubeldía, pioneiro em jogar às favas a busca por um jogo vistoso mas sem resultados em prol da vitória a partir do regulamento (e suas brechas) por baixo do braço – ao menos era assim que os puristas encaravam a linha intencional de impedimento, uma novidade para a época, e o verdadeiro laboratório de jogadas ensaiadas de bola parada. Era esse o sentido original da crítica de “antifutebol” que permeava aquele Estudiantes. Logo o termo ganhou conotação ainda mais pejorativa, diante do jogo brusco física e verbalmente falando aplicado pela retaguarda pincharrata. E que teve em seus ícones precisamente a dupla de volantes formada por Bilardo e Pachamé.

Em 1966, o Racing foi campeão argentino com um recorde de pontuação na década, título que também mantinha uma longa escrita; é que desde a edição 1929, ganha por um time de La Plata – mas o Gimnasia e não o Estudiantes -, todos os campeonatos argentinos vinham se limitando aos chamados “cinco grandes”, o oligopólio formado por Boca, River, o próprio Racing, Independiente e San Lorenzo. Aquela conquista racinguista viera no embalo de 39 jogos seguidamente invictos, marca quebrada ainda naquele campeonato. Mas, ao menos em Avellaneda, a invencibilidade pôde durar um pouco mais. E seria quebrada precisamente por aquele Estudiantes, na 5ª rodada do Torneio Metropolitano de 1967. O que seria apenas uma prévia do que estava por vir.

Outra versão da imagem anterior. Os nomes a mais são os de Néstor Togneri (quase escondido atrás) e Fernando Lavezzi (ao lado de Pachamé)

Ironia é que, justamente quando o Pincha conseguia encerrar uma invencibilidade de dois anos que o Racing tinha dentro de casa, o triunfo acabou ofuscado por uma briga de Pachamé com… Bilardo, socado pelo companheiro (logo expulso, ao fim do primeiro tempo) em meio a uma discussão na qual El Narigón o insultara pesadamente por apressar um jogo em que já ganhavam por 2-0. Mas a desavença se provaria uma exceção: uma nota sobre os 35 anos daquele torneio feita pela revista El Gráfico lembrava desse episódio curioso, mas dava o veredito de que o camisa 5 “oferecia uma entrega de mil por mil, lutava desde o primeiro até o último minuto, se completava com a inteligência de Bilardo e a técnica do Bocha [Eduardo] Flores ou de Juancito Echecopar”.

Em 2019, a El Gráfico voltou a relembrar aquele momento curioso para “eleger” Pacha entre os 25 maiores “açougueiros” (adaptando-se o termo literal empregado, “cirurgiões”) do futebol argentino, na 15ª colocação. O perfil dizia: “um dia, um jornalista lhe disse: ‘um amigo, ao saber que eu ia lhe entrevistar, me aconselhou que usasse caneleiras’. E sim, a fama era para tanto. Em 3 de abril de 1967, em um Estudiantes x Racing, Pacha bateu em Bilardo, com quem vinha discutindo. Primeiro foi um soco no estômago e depois uma joelhada que não chegou ao destino. O árbitro o expulsou. Se assim tratava os companheiros, imaginem os rivais”.

Colega de ambos naquele Estudiantes e depois (como médico) na comissão técnica da seleção de 1986, Raúl Madero poderia questionar a ausência do próprio Bilardo naquela lista, pois em 2017 assim os diferenciou: “eram distintos. Bilardo era um cara que se via que estavas com náuseas, vinha e te batia na costa para que vomitasses”. Madero, inclusive, foi deslocado à lateral para que Pachamé pudesse seguir como volante central, dada a importância que se via naquele temperamento do Pacha. E a polêmica com Bilardo não impediu que um mês depois, em 30 de maio, Pachamé estreasse pela seleção – em jogo não-oficial contra o Sheffield United, no estádio do River (1-1).

Famoso lance em que Pachamé evitou o que seria o 4-1 do Platense na semifinal de 1967. Logo os colegas souberam virar o 3-1 para 4-3

Enfim: aquele torneio Metropolitano dividiu em dois grupos de onze as 22 equipes, prevendo que os dois primeiros colocados de cada chave após turno e returno avançariam a semifinais e final, agora em jogos únicos em campos neutros. No grupo A, aquele poderoso Racing dividiu a liderança com o Pincha, mesmo que em paralelo avançasse na Libertadores. No grupo B, o líder foi um surpreendente Platense, no primeiro grande trabalho de técnico da lenda Ángel Labruna. A equipe marrom foi a adversária dos platenses na neutra Bombonera e no início do segundo tempo não só tinha um jogador a mais em campo, após lesão do pincharrata Juan Barale (na época, só se permitiam substituições no intervalo) como vencia por 3-1. O que se viu em um espaço de apenas dezessete minutos foi uma das maiores viradas do futebol mundial. E Pachamé teve muito a ver.

O adversário ficou muitíssimo perto de matar a eliminatória em uma conclusão que bateu o goleiro Poletti e se encaminhava às redes. Mas Pachamé apareceu para desviar a escanteio. E em trinta segundos o que seria o 4-1 virou um 3-2 que recolocou o Estudiantes no páreo, diante de um contra-ataque fulminante bem executado pelos colegas. Que, reenergizados diante de um oponente em choque, conseguiram rapidamente a virada para 4-3. A decisão então rendeu um reencontro com o Racing, que, focado nas finais da sua vitoriosa Libertadores para dali a dez dias, usou uma equipe mista, facilmente batida por 3-0 no estádio do San Lorenzo. Jogo que, dessa vez, não teve incidentes internos entre Pachamé e Bilardo.

O Estudiantes revolucionava ao, de uma vez, furar um oligopólio de 38 anos dos cinco grandes, ganhar seu primeiro título na elite argentina profissional (oficializada em 1931) e encerrar ainda jejum dos mais expressivos, pois seu único outro título até então na primeira divisão datava de 1913. A matéria pós-título feita pela El Gráfico descreveu que o campeão jogou com “toda a força de Pachamé, inclusive a personalidade de Pachamé”.

Logo Pacha enfim estreou oficialmente pela Argentina, sendo inclusive o capitão, em formação experimental com outros nove estreantes em derrota de 1-0 em Santiago para o Chile, em 15 de agosto – o que foi seguido de uma excursão pouco feliz: derrota de 2-1 na Cidade do México para os mexicanos em 22 de agosto, 2-2 em amistoso não-oficial contra o Málaga em La Rosaleda cinco dias depois, 1-1 com a Fiorentina em Florença em 31 de agosto e 0-0 com o Lecce no sul italiano em 3 de setembro. Depois, um 1-1 com o Paraguai em Assunção em 12 de outubro e enfim uma vitória… mas sobre a seleção municipal de Posadas, surrada por 6-1 em 2 de novembro. Seis dias depois, contra o Chile, nova derrota: 3-1 em Santiago.

Seleção, o grande senão do Pachamé jogador (primeiro em pé): mais perdeu do que ganhou e foi desclassificado nas eliminatórias, mesmo jogando com Cejas (segundo em pé) e Perfumo (quarto em pé), ambos de qualidade reconhecida no futebol brasileiro

A falta de resultados na seleção, ao menos como jogador, contrastava com um Estudiantes bastante eficiente.

A conquista da Libertadores 1968

O título do Metropolitano era simbólico, mas o torneio, exclusivo aos clubes da Grande Buenos Aires, La Plata, Rosario e Santa Fe, não dava ainda vaga na Libertadores – benefício que só viria já nos anos 70. As duas vagas argentinas ainda se reservavam ao campeão e ao vice do Torneio Nacional, a opor os melhores do Metropolitano com os melhores de uma seletiva de campeões do interior profundo do país. Pachamé, Bilardo e os demais pupilos de Zubeldía mantiveram o gás e, naquele Nacional de 1967, foram capazes de brigar até a rodada final pelo título mesmo contra um Independiente (treinado pelo brasileiro Osvaldo Brandão) campeão com um recorde de aproveitamento. Foi aquele vice-campeonato que efetivamente classificou o Pincha à Libertadores de 1968, fazendo por vias tortas justiça aos históricos campeões do Metropolitano.

Mas revista não aliviou para o Pacha, pelo relato sintético abaixo:

“Pelo menos outros cinco jogadores tiveram ‘méritos’ mais que suficientes para irem se banhar antes do resto: Pachamé e Aguirre Suárez pelos visitantes; [Osvaldo] Mura, [José Omar] Pastoriza e [Idalino] Monges pelos locais. Pachamé poderá argumentar que bate ‘com bola em jogo’. Mas bate mal. Agride. E é reincidente na incorreção. Lhe apitam uma falta e em dez segundos comente outra mais forte. E em 15 segundos, outra pior. Quase sempre contra o mesmo jogador. Nesse caso, Mura. (…) Mura recebeu várias raspadas fortes de Pachamé no começo. Mas depois respondeu como já havia feito outras vezes: batendo em abundância. Quando deu tapões na nuca de Pachamé (não justificamos a reação de Pachamé porque o jogador que bate como o volante estudiantil não tem direito a queixar-se quando lhe batem…), (…) Mura estava para a expulsão. (…) Pachamé foi o último a ir às duchas. (…) Não quer tirar a camisa. Parece que ainda está na partida: ‘não aconteceu nada com Mura. Nós dois jogamos em cada bola e assim que tem que ser, mas não aconteceu nada'”.

Estudiantes voltando da Colômbia com vitórias na fase de grupos da Libertadores 1968. Pachamé é o jogador ao centro retratado no “triunfo do suor”

Independiente e Estudiantes dividiram o grupo com a dupla colombiana Millonarios e Deportivo Cali. Compromissos que serviram para mostrar que Pachamé não se resumia a um brucutu caneleiro. Vale transcrever novas palavras da El Gráfico sobre seu desempenho: “quando passou à metade do campo, foi o dono da noite. O temos criticado muitas vezes e ele sabe. Nessa partida frente o Millonarios, somos os primeiros em reconhecer sua influência no resultado. Quando subiu ‘Garrincha’ [Gonzalo] Guzmán, o homem mais trabalhador do Millonarios, cortou o oxigênio do vice-campeão colombiano. Quando se largou adiante, fez com a vontade e a inteireza que nunca lhe negamos, mas, além disso, com clareza de bom jogador. Arrematou seu trabalho com duas ou três armações de luxo, como se sua canhota quisesse aprender a escrever com traço fino. Preponderante”.

O estreante Estudiantes soube garantir ainda na antepenúltima rodada a classificação, ao ir vencendo todos os jogos até ali. Deu-se ao luxo de então ficar em casa só no 0-0 com o Millonarios no returno. No último jogo, venceu o Independiente por 2-0, dia de um raro golzinho de Pachamé. A dupla argentina se classificou então a uma segunda fase de grupos, em triangular com o Universitario, que até começou ganhando dos platenses. Só que estes souberam vencer todas as outras partidas, renovando a freguesia sobre o Independiente no processo. Dessa vez somente o líder avançava, agora para semifinais. Pela frente, um Racing recém-campeão mundial, que prevaleceu por 2-0 na ida em Avellaneda. Em La Plata, o Estudiantes conseguiu um valoroso 3-0 construído somente nos dezessete minutos finais, em jogo intenso que viu o xerife raciguista Roberto Perfumo expulso logo aos 8 minutos… e Pachamé expulso também, aos 34.

O saldo não servia como critério automático, havendo necessidade de jogo-desempate, mas com vantagem do empate aos pincharratas, ainda que mediante prorrogação em caso de igualdade nos 90 minutos. Assim, a suspensão de Pachamé foi aplicada nessa partida, permitindo que ele reaparecesse para as finais – pois os colegas seguraram bem o 1-1 ao fim de 120 minutos. O adversário era um Palmeiras que, treinado pelo argentino Alfredo González, deixou de lado o Estadual (onde beirou mesmo a zona de rebaixamento) em prol de La Copa, algo então incomum a brasileiros.

Cenas da primeira final com o Palmeiras: à esquerda, Pachamé ao fundo após cruzar para o gol da virada. Ao centro, comemorando a vitória e visitando cordialmente os brasileiros à direita

O Verdão, com um gol impedido, vencia em La Plata até os sete minutos finais. Verón então empatou e… cinco minutos depois, Pachamé descolou o cruzamento que resultou no gol da virada-relâmpago, anotado por Eduardo Flores. Coroação de uma atuação de entrega, em que ele equivocou-se “cinquenta vezes, mas voltando à luta para recuperar e buscar o número cinquenta e um, uma e outra vez… e outra vez mais… 60, 80, 100 vezes”, em novas palavras da El Gráfico.

Para o jogo de volta, no Pacaembu, o técnico Zubeldía adotou uma formação na teoria mais cautelosa na retaguarda, recuando Pachamé do meio-campo para atuar de líbero. Não se saiu bem, com a El Gráfico registrando que dele não se viu nem o “aporte temperamental”. O time como um todo foi uma sombra e tomou de 3-1. O filme da semifinal se invertia: o saldo melhor não favorecia de imediato os palmeirenses, mas lhe davam a vantagem do empate no jogo-extra que restava forçado, em Montevidéu. Ali, reapareceram o Pincha e o Pacha. Além de anular Servílio (que acabaria até substituído), logo aos 13 minutos o volante se antecipou para roubar uma bola no próprio campo de defesa e disparar deixando Ademir da Guia para atrás… para então mostrar habilidade ao manobrar uma assistência rasteira, mas suficiente para tirar a bola do alcance de Escalera e Baldochi e na medida para Felipe Ribaudo abrir o marcador. No finzinho, Verón fez gol de craque para anotar o 2-0 e garantir o primeiro título do Estudiantes na Libertadores.

A El Gráfico então elaborou um perfil de cada campeão, onde já se rendia a Pachamé: “aqui está um dos grandes fundamentos do campeão. Aqui é onde mais se adverte essa soma indivisível do homem e do jogador. É a grande catarata de otimismo contagioso, é o hiperemotivo que sente com tudo esse caudal de saúde moral e física… que às vezes o faz transitar pela fronteira do excesso. Emotivo… Pacha é como esses caminhões de combustível que necessitam da corrente na terra para descarregar seu excesso de vigor, de sentimentos, de vida… por isso, se entrega sem controles. Por isso, chega até parecer cálida e bruscamente infantil… como esses indivíduos que não temem parecer ingênuos, porque dispõem de uma conformação afetiva disposta para esse assombro que só alenta nos garotos…. e como os garotos, está sonhando com a façanha, com o que está para além do real para chegar à aventura que vai para além da razão organizada… o do Pacha não é violência. É desafio ao perigo, é temeridade porque em sua convicção de homem não entra a vacilação hipócrita. Esta vez voltaram a enjaula-lo diante da linha de fundo, com proibição expressa de ficar na marcação, sem seus típicos desdobramentos físicos. E cumpriu na tarefa ofuscada, tal como estava previsto. Talvez lhe pondo freio a toda sua fogosidade desbordante, mastigando raiva, mas dando à equipe tudo o que a equipe necessitava de seu esforço. Grande trabalho e um grande sujeito…”.

A assistência de Pachamé para o primeiro gol da terceira final com o Palmeiras. À direita, com camisa palmeirense no pescoço, “enforca” o de Bilardo na festa

A foto que abre essa matéria é referente àquela primeira Libertadores. Pachamé à esquerda, Bilardo à direita. Bom complemento à imagem acima.

A quase tríplice coroa em 1968

A Libertadores foi ganha ainda em maio, permitindo ao campeão da América tempo para exibir poder de fogo também no Metropolitano, finalizado somente em agosto. A fórmula de 1967 se repetiu, com líderes e vice-líderes de ambos os grupos avançando e o Estudiantes conseguiu no limite a vaga, com a pontuação mais baixa (24) entre os quatro classificados: Vélez (32) e River (31) no outro grupo, enquanto um San Lorenzo historicamente invicto chegava aos 36. O Pincha bateu o Vélez nas semifinais, mas não pôde com aquele Sanloré que, treinado pelo brasileiro Tim, se tornou mesmo o primeiro time campeão de modo invicto no profissionalismo argentino. Pachamé fez seu papel: a nota pós-jogo da revista El Gráfico descreveu-o como alguém de “dois pulmões extras”. Não houve incidentes – aquele elenco tão mal afamado até formou um corredor de aplausos aos campeões.

O Mundial Interclubes com o Manchester United, por sua vez, deu-se entre setembro (na Argentina) e outubro (na Inglaterra). E quase Pachamé foi um improvável herói, embora não deixasse de ser decisivo no gol da vitória em casa: ele teria mesmo marcado se Bobby Charlton não aparecesse para mandar a escanteio. Justamente na cobrança, veio o gol, de Marcos Conigliaro, aos 27 minutos. Mas a atuação do Pacha ficaria mesmo mais marcada por um golpe cortante na perna do próprio Charlton ao fim do primeiro tempo, obrigando o astro a ser atendido fora de campo por três minutos.

A El Gráfico destacou ambas as coisas, mas relativizou: “[Pat] Crerans executou em Pachamé várias foices que só um touro como Pachamé pode absorver sem pestanejar… houve pontapés. Como em qualquer encontro. Mas fazer da violência o tema central da partida é ridículo e é falso”. Em Old Trafford, as hostilidades ficaram mesmo para os tais gentlemen ingleses sobre os supostos animals argentinos. Que abriram o placar logo aos 4 minutos, em típico laboratório de bola parada concluído à perfeição por um cabeceio de Verón. Pachamé marcou principalmente Brian Kidd e no abafa final buscado pelos Red Devils “ganhou todas”, mandando para longe “cem bolas das cem que chegaram”; ele justificaria explicando que “eles não criavam perigo e todas eram nossas”. Essas aspas são todas também da El Gráfico pós-título. Pois os britânicos só conseguiram fazer tarde demais o gol, já no minuto final.

Pachamé e Bilardo celebrando na cara dos ingleses o Mundial de 1968 e na recepção do título em La Plata, junto a Juan Ramón Verón

O 1-1 bastou para a tentativa de volta olímpica, pois a enfurecida plateia local não deixou. O foco no mundial fez-se sentir no Torneio Nacional, onde os campeões do mundo ficaram apenas no antepenúltimo lugar.

O bi e o tri seguido da Libertadores

Em fevereiro de 1969, veio a esquecida conquista da Copa Interamericana, tira-teima entre os vencedores de 1968 na Libertadores e na Concachampions, agora com o Pacha descrito pela El Gráfico como alguém de “sete pulmões” em meio à série de três jogos com o Toluca, ainda que fosse expulso no último deles, um sonoro 3-0 em nova partida extra em Montevidéu. A Libertadores de 1969, por sua vez, permitiu ao campeão interior ingressar já na fase semifinal, em maio. E, ainda em maio, o bicampeonato continental foi garantido. Inicialemente, Pacha, que vinha de uma operação, atuou sem ritmo nas semifinais com a Universidad Católica. Mesmo assim, envolveu-se diretamente no primeiro gol, cruzando aos 6 minutos em Santiago uma bola que os chilenos afastariam mal, sobrando para Conigliaro abrir os trabalhos.

As decisões foram contra um Nacional especialmente sedento: o Tricolor uruguaio tinha no máximo dois vices, enquanto o rival Peñarol era tricampeão. Mas ainda assim os argentinos ganharam no próprio Centenário, por 1-0, e então aplicaram um seguro 3-0 em casa. Nessas partidas, já se mostrava um diferencial o “fogo” de Pachamé, nas palavras da El Gráfico. Que também, após o jogo de ida, traçou este perfil sobre a importância do volante:

“Homem ideal para jogar partidas fortes. Dessas que não se decidem no plano da técnica polida, da clareza conceitual ou da disciplina tática. Dessas que requerem outra escala de valores para decidir quem triunfa. A escala dos que lutam, dos que metem, dos que se mostram sempre, dos que não se escondem nunca, dos que vão sempre à frente, dos que se fazem sentir no físico e no ânimo do contrário. Quando entram para jogar esses atributos, os erros de posicionamento, as entregas equivocadas, as bolas que se complicam por tentar o que não se deve, passam a converter-se em elementos anedóticos de uma atuação. Nesses casos, o que importa é o outro. A presença forte, o desdobramento generoso, a potência temperamental, a riqueza vital, o contágio de fervor que é capaz de volcar Pachamé em todo o campo. Marcando [Ignacio] Prieto, e anulando-o. Indo competir em dureza com [Julio] Montero Castillo. Correndo com [Luis] Cubilla quando Malbernat ficou no caminho. Pisando na bola entre dois rivais e passando-lhes pelo meio. Travando sem afrouxar a perna frente outra perna que não afrouxa, nessas travadas que fazem ruído e que parecem deformar a redondeza da bola de futebol até convertê-la em um balão de rúgbi… em tudo isso que o jogador uruguaio e o torcedor uruguaio respeitam porque responde a uma tradição de hombridade que está metida em sua idiossincrasia, Pachamé simbolizou exatamente o que se necessita para ganhar uma final no Centenário…”

Pachamé, homem mais à esquerda, já cruzou a bola para o terceiro gol do Estudiantes na final da Libertadores de 1969, sobre o Nacional

Nos 3-0 da volta, o gol que matou o jogo surgiu em cruzamento do Pacha, em jogada em que se bancou como ponta-esquerda – cujo movimento prévio à assistência fez o marcador Atilio Ancheta até dar de cara com o alambrado. A disputa em tiro rápido permitiu ao bicampeão fazer um papel razoável no Metropolitano, como terceiro colocado no grupo que viu River e Racing avançarem aos mata-matas. E o título recolocou Pachamé na seleção, após um ano e meio. Enfim, com uma primeira vitória oficial, em 2-1 amistoso sobre o Chile em 12 de junho. Em seguida, começaram as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. A disputa não era de todos contra todos; a incipiente Venezuela não participava ainda e assim as nove seleções da Conmebol foram divididas em três triangulares, onde só os líderes iriam ao México.

A Argentina estreou na altitude boliviana em 27 de julho e o cotovelo de Pachamé iniciou mesmo uma confusão generalizada ao fim da derrota de 3-1 para La Verde, com direito a gols de dois argentinos naturalizados (Juan Díaz e Raúl Álvarez). Para piorar, na sequência a Albiceleste foi derrotada pelo Peru por 1-0, em Lima, em 3 de agosto. Era preciso necessariamente tratar de fazer contra ambos o dever de casa. Deu certo contra a Bolívia, abatida por 1-0 em 24 de agosto. Treinados pelo brasileiro Didi, os peruanos então visitaram em 31 de agosto uma Bombonera lotada, tendo a vantagem do empate. Não tremeram, estando duas vezes à frente do placar. Os hermanos conseguiram no máximo buscar a igualdade nas duas.

O 2-2 rendeu a única desclassificação da Argentina em campo nas eliminatórias, que representaram as quatro últimas partidas de Pachamé pela seleção. Ele, ao menos, não esteve presente na outra grande vergonha do futebol argentino naquele ano: o Mundial Interclubes contra o Milan, com jogos em setembro e outubro, quando a mesma Bombonera foi palco da selvageria sanguinária de Poletti e Aguirre Suárez contra os italianos. Pacha lesionara-se pela 2ª rodada do Torneio Nacional, em 14 de setembro, e só voltou a campo já na rodada final, em dezembro, não participando das mais famosas cenas lamentáveis da história da Copa Intercontinental. Tão feia que a própria ditadura argentina ordenou detenção e suspensão das carreiras de Poletti e Aguirre Suárez. A revista El Gráfico tampouco passou pano, descrevendo aquilo como o episódio mais constrangedor que vira no futebol nacional.

Volta olímpica da Libertadores 1970: Pachamé é o jogador ao meio na “revanche limpa”

A resposta do Estudiantes foi o tricampeonato continental, em jogos limpos, rendendo elogios da mesma El Gráfico. Novamente, o campeão entrou já nas semifinais, em maio, rendendo duelo caseiro com o River, derrotado nas duas partidas. Ainda em maio, foi a vez de derrotar então a outra força uruguaia, o Peñarol. Apagado no 1-0 em casa contra os aurinegros, Pacha foi um líder no primeiro título argentino em pleno Centenário sobre um clube uruguaio: “o Peñarol havia conseguido esquentar a partida, e ali surgiu Pachamé, com força de símbolo. Não com a força do símbolo que sempre encarnou Pachamé: correr, meter, empurrar, travar, morder, embestar, jogar a vida em cada intervenção. Com a força do símbolo que quis encarar este Estudiantes, tão igual a si mesmo e tão distinto da imagem que o costume vem criando sobre o Estudiantes. Pachamé apareceu para impor sua presença de jogador que mantém a vertical de sua personalidade, mas sobretudo como agente de serenidade ao ritmo da partida. Pisou na bola, a defendeu, buscou a associação com seus companheiros, voltou a pedi-la, não se precipitou, esfriou, tranquilizou e pôs a partida outra vez na órbita estudiantil“.

Pela primeira vez, um clube era tricampeão seguido da Libertadores, em título que também servia para o Estudiantes igualar-se ao próprio Peñarol como maior campeão do torneio.

Novos sucessos somente como escudeiro de Bilardo

O Mundial Interclubes de 1970 ficou novamente marcado por alguma virulência pincharrata. Em agosto, o Feyenoord soube sair da Argentina com um valioso 2-2, levando a taça em setembro ao prevalecer em 1-0 em Roterdã com gol do míope Joop van Daele, que jogava de óculos e os teve pisados por alguém normalmente sereno feito Malbernat. Em paralelo, os tricampeões da América já se desleixavam abertamente dos torneios domésticos, chegando até a sofrerem ligeira ameaça de rebaixamento no Metropolitano 1970. A necessidade de dispensar pupilos em declínio diante do fim de ciclo fez o técnico Zubeldía preferir rumar ao Huracán, levando Bilardo a tiracolo como assistente. Foi sucedido por Miguel Ignomiriello, o comandante daquele Estudiantes campeão sub-19 de 1965 e bom conhecedor do método Zubeldía de trabalho.

Sem o velho mestre, Pachamé e outros remanescentes até puderam disputar a quarta final seguida de Libertadores, muito por conta do regulamento generosamente ainda colocar o campeão diretamente na fase semifinal. Dessa vez, o Nacional já contava com o superartilheiro argentino Luis Artime e teve o troco por 1969, enfim vencendo em junho La Copa pela primeira vez. Novo desempenho medíocre do clube nos torneios locais fez a diretoria em agosto recontratar Bilardo, agora como um iniciante treinador. Inicialmente, Pacha foi comandado apenas por um semestre pelo velho parceiro: o estilo aguerrido caía bem ao paladar do Boca, que contratou ele e Malbernat para 1972.

Como razoável jogador do Boca, foi vice argentino em 1973. À direita, no Estudiantes vice de 1975, agora como jogador do Bilardo treinador – o outro é Verón

Segundo a revista El Gráfico, Pachamé, com “um jogo e meio pelo Boca, já era ídolo” porque soube permanecer em campo com um ombro luxado até poder ser substituído, o que na época ainda só se permitia a partir do intervalo. Mas ele calhou de pegar um Boca sob entressafra razoavelmente longa, entre a equipe multicampeã dos anos 60 e o elenco campeão de tudo entre 1976 e 1978. “Vejo Pachamé pedindo todas as bolas, e ele deveria toca-la o menos possível”, cornetou já em 1973 o lendário Norberto Menéndez.

O site estatístico Historia de Boca ao menos qualifica o volante como alguém que “rendeu razoavelmente”. Os xeneizes foram semifinalistas do Nacional 1972 (ano em que o rebaixamento foi uma ameaça séria a um Estudiantes desmontado) e vice-campeões do Metropolitano 1973, as campanhas mais destacadas de Pacha com a azul y oro, pois em 1974 ele já voltava a La Plata. Reencontraria o velho parceiro Bilardo, firme e forte como técnico do Pincha. O grande ano foi 1975, com os alvirrubros vice-campeões do Torneio Nacional. O River já havia vencido o Metropolitano e assim a outra vaga argentina na Libertadores 1976 foi decidida em jogo-extra dos vices. Os platenses bateram um forte Huracán para voltar a La Copa.

O retorno à Libertadores foi menos exitoso, com queda na primeira fase, mas o Estudiantes ainda foi forte em 1976: 3º colocado no Metropolitano e no seu grupo no Nacional, rendendo uma saída digna de Pachamé. Ele começou o ano de 1977 no Lanús e o terminou no Quilmes, estendendo o fim de carreira por Independiente Medellín (o futebol colombiano seria destino comum a muitos outros ícones daquele Estudiantes tri da Libertadores) e Rochester Lancers, nos EUA. Em 1981, voltou a La Plata como técnico do Estudiantes, mas sem resultados; o time esteve mais perto do rebaixamento do que pelas primeiras posições e o ídolo só durou até a 15ª rodada. Um dos seus sucessores foi Bilardo, com êxito: El Narigón treinou o elenco campeão em 1982 do Metropolitano, primeiro troféu do time desde o tricampeonato na Libertadores.

Os velhos parceiros de Estudiantes agora na comissão técnica da seleção: Madero (agora médico), Bilardo e Pachamé com o chefão Julio Grondona na imagem esquerda. Na da direita, Pachamé é o primeiro em pé e Madero, o último, ao lado de Maradona. Bilardo é o de camisa azul na fileira do meio

Foi a credencial para que Bilardo assumisse a seleção argentina em 1983 e levasse junto Pacha como assistente e outro ex-colega, Raúl Madero, como médico. Pachamé, em paralelo, também assumiu as seleções argentinas de base, desde a sub-15 até a olímpica, chegando a ser criticado como autoritário por uns e como impaciente por outros. Quem aguentou testemunhou como ele mantinha traços do Pachamé jogador, como relatou em 2010 o comandado Claudio García sobre as cenas lamentáveis após a final do Sul-Americano sub-20 de 1983: “terminou a partida e me pus a chorar. Se aproximou um fotógrafo mexicano, bateu uma foto a 10 centímetros de mim e gritou: ‘argentino viadão’. Fui nele aí sem mais e em seguida alguém me deu um chute no meio dos ovos e desmaiei. Aí veio Pachamé, que era uma locomotiva, e o pararam com um golpe de uma câmera que lhe cortou a cara”.

Chamativa até para os padrões do Pacha, essa confusão também foi relatada na época pela revista brasileira Placar, onde complementou-se que o treinador levou sete pontos no rosto. A dourada Era Pekerman das seleções juvenis ofuscou qualquer marca digna de nota aos tempos de Pachamé, mas seu trabalho esteve longe de ser infrutífero: revelou desde Redondo, ainda na conquista sub-17 do Sul-Americano de 1985, até Caniggia, nos Jogos ODESUR de 1986, passando por Simeone, pela do Mundial sub-20 de 1987 levada ainda adolescente às Olimpíadas de 1988 – quando o torneio não era sub-23, aberto a jogadores de qualquer idade que não houvessem entrado em campo em Copas do Mundo. O mundial sub-17 de 1989 teve no gol um Abbondanzieri ainda grafado como Abbondancieri.

Teria sido inclusive Pachamé quem, no papel de assistente técnico de Bilardo, procurara levar Redondo à Copa do Mundo 1990, famosa recusada pelo garoto, que desaprovava El Narigón. O próprio Bilardo ao menos explicou assim, já em 2001: “eu convocava os adultos e Pachamé convocava os garotos. Eu nunca falei com Redondo nem lhe pedi explicações”. Pacha também servia de emissário do compadre para sondar jogadores relembrados de última hora, como Julio Olarticoechea (chamado a 1986 após dois anos de ausência e coadjuvante vital no clássico com a Inglaterra), como detalhado em 2014 por El Vasco; ou Juan Simón, que superou simplesmente nove anos de hiato para então jogar todos os minutos da Copa 1990. Ele foi além em 2013: “[Pachamé não tem] nada a ver com Bilardo. Pacha, um monstro. Os que nos incorporamos no final, para Bilardo, não existíamos”.

Festa de 1986. O rosto de Pachamé sorri ao meio da imagem, observando Maradona. O parceiro Raúl Madero está de terno, no canto esquerdo, à frente de Daniel Passarella

Pachamé também era unha e carne com Bilardo nas anedóticas superstições que permeavam a seleção naquela era. Maradona chegou mesmo a brincar logo antes do embarque ao México que, se Pachamé se lembrasse que uma entrevista fizera Diego perder o ônibus da delegação antes da Argentina ganhar de 7-2, provavelmente se atreveria a impor até mesmo a El Diez esse infortúnio em prol da boa sorte. A dupla dinâmica Bilardo-Pachamé ficou marcada tanto por resultados insatisfatórios no ciclo pré-Copa (a classificação a 1986 ficara por um triz e a Albiceleste campeã do mundo foi aquém do esperado nas Copas América de 1987 e 1989) como, em contrapartida, pela eficiência quando chegava a hora do Mundial.

Após o vice-campeonato na Copa de 1990, chegou mesmo a esperar-se que Pachamé substituísse o amigo como técnico da Argentina. Não aconteceu. No máximo, treinou o Avispa Fukuoka, já em 1997, não sendo nada pachequista: limpou do time os argentinos Pedro Troglio (com quem trabalhara na seleção de 1990) e Hugo Maradona (o irmão caçula de Diego havia sido o capitão daquela Argentina sub-15 de 1985 treinada pelo Pacha), figuras importantes no acesso prévio logrado pela equipe japonesa. A parceria com Bilardo foi rapidamente retomada em 2003, como assistente em retorno  mais folclórico do que glorioso do Narigón como treinador do Estudiantes.

O médico Raúl Madero, o outro membro do Estudiantes campeão de tudo nos anos 60 que acompanhara a dupla nas seleções de 1986 e 1990, faleceu no ano passado. Estava rompido com Bilardo, mas não com Pacha (a quem apelidava de Rasputin desde que jogavam juntos), relembrando em 2015 uma última anedota sobre o amigo. Das mais típicas possíveis. Foi ao fazer-lhe uma cirurgia na coluna, em 2012: “na metade da operação tivemos que parar tudo porque havia começado a ter trombos. O agarrei pelos cabelos: ‘me diga uma coisa, Rasputin filho da puta, foste ver alguma vez o coração?’. Com Fermín García, meu sócio, buscamos o melhor especialista em temas cardiológicos da Argentina. Nos mostrou tudo e nos disse: ‘se consigo liberar esse pedacinho, salva-se a vida, e se não posso, morre. Diga isso a ele’. Estive todo o mês de janeiro sem dormir. Meus filhos me queriam dar soníferos. ‘Nada de sonífero, imaginem se ele idiota me morre’. Queria mata-lo, passei mal, por sorte se salvou”.

Como técnico da seleção olímpica de 1988 (quinto na fileira inferior) e comemorando o aniversário de Bilardo em 2022: bolo em forma de troféu da Libertadores

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

One thought on “No dia da Amizade, a história mais duradoura na Argentina: os Carlos Bilardo e Pachamé

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