Especiais

O dia que a capa da revista El Gráfico deu azar

Maior revista de esportes da América do Sul e a primeira a ressaltar o estilo regional do futebol em contraposição ao inglês, a Revista El Gráfico sempre apresentou os grandes nomes do futebol argentino em suas capas. No entanto, nem sempre essa honraria dá sorte para os representados.

Em 1933, El Gráfico começou a adotar um estilo novo de capas. A revista devia mostrar os jogadores, vestindo o seus uniformes de jogo, em situações cotidianas, de bastidores e até mesmo banais. Em 15 de abril, por exemplo, o grande Antonio Sastre – jogador do Independiente e que iria, de 1942 a 1946, jogar no São Paulo Futebol Clube – e o hábil Alejandro Scopelli, do Estudiantes de La Plata, figuravam sentados em uma mureta do topo de um prédio no centro de Buenos Aires.

No entanto, nenhuma capa teria a mesma repercussão que a do dia 2 de setembro de 1933. Diante de um espelho, Troncoso, do Talleres de Remedios de Escalada, e Mezzadra, do Platense, apareciam na capa dessa edição cuja chamada dizia: “Troncoso e Mezzadra: Bons insiders esquerdos do Talleres e Platense, teams que amanhã enfrentam Gimnasia y Esgrima La Plata e River”.

1933 era um ano de dois campeonatos de Primeira Divisão na Argentina. Enquanto na amadora Asociación Argentina de Football, o Sportivo Dock Sud ia rumo ao título com uma boa briga com Nueva Chicago e Banfield, a profissional Liga Argentina de Football se surpreendia com aquilo que parecia uma ousadia daqueles que estavam apenas para fazer número.

Na rodada de número 24, realizada em 27 de agosto, o Platense vencera o Lanús por 3 a 0, o mesmo Lanús que dificultara a vida de Independiente, River Plate e empatara com o San Lorenzo, futuro campeão da temporada.

Por sua vez, o Talleres de Remedios de Escalada empatou com o Argentinos Juniors (2 x 2), tal como fez com o Racing (1 x 1). Outro feito da equipe albirroja foi vencer o Independiente por 3 a 0 no mês anterior. Dessa forma, parecia lógico que as duas equipes fosse homenageadas pela capa do El Gráfico que antecedia a vigésima-quinta rodada.

Só que, dia seguinte, 3 de setembro de 1933, o Gimnasia vence o Talleres de Remedios de Escalada por 7 a 1 – a maior goleada já sofrida pela equipe na época – e o River Plate faz 5 a 0 no Platense.

O azar para o Talleres de Remedios de Escalada não terminou nesse jogo. Falido e rebaixado, conseguiu disputar a primeira divisão em 1934 após fazer uma fusão com o Lanús. A nova equipe, chamada Unión Talleres-Lanús, só durou esse campeonato, ficando na antepenúltima colocação. A draga continuaria até 1938, quando a equipe caiu para nunca mais voltar.

Claro que essa não foi a única vez que a El Gráfico deu azar para uma equipe de futebol. Mas para duas…

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dez + treze =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.