Primeira Divisão

O mundo da bola gira e quem ri por último…

Lanzini comemora o primeiro gol da vitória sobre o Godoy Cruz
Lanzini comemora o primeiro gol da vitória sobre o Godoy Cruz

Desde Buenos Aires – Quem poderia dizer que em nove meses tanta coisa poderia mudar no particular mundo do futebol. No dia 24 de junho de 2012 o River Plate vencia o Almirante Brown por 2 a 0 no Monumental de Nuñez e assegurava seu retorno à elite do campeonato argentino. De lá pra cá muita coisa mudou. Nesse período assistimos ao ressurgimento de um dos cinco grandes e o deterioramento gradual dos outros quatro; cada um a sua maneira e proporção. Vimos o Ciclón manter a categoria tendo que  jogar a temida “promoción” com o Instituto, o Independiente se afundando nos “promedios”, o Racing não passar de um mero participante a mais e o Boca Jrs perder uma Copa Libertadores e junto com ela o seu caminho de vitórias.

Na noite deste domingo o Millonario venceu o Godoy Cruz em Mendoza por 2 a 1 e entrou de vez na luta pelo título do Torneo Final 2013. Com 20 pontos em 10 jogos, está apenas duas unidades atrás do Newell’s, líder do campeonato. O Lanús com 21 pontos e um jogo a menos pode reassumir a liderança se vencer o Unión em Santa Fé nesta segunda-feira. Ramón Díaz parece ter recolocado o River no seu papel de protagonista.

Coisa que até agora Bianchi ainda não conseguiu reeditar no Boca. O Virrey foi unanimidade em toda a torcida Xeneize assim que chegou. Cenas de fanatismo emocionado em sua apresentação na Casa Amarilla no começo deste ano. Por ele, até Riquelme decidiu voltar atrás em sua palavra e retornou ao clube. Mas até agora… até agora nada que relembre aqueles tempos em que se cansavam de levantar taças. No campeonato local acumula nove partidas sem vencer e tem apenas uma vitória em dez jogos. Ainda teve que engolir uma humilhante derrota por 6 a 1 diante do San Martín em San Juan, uma das equipes candidatas ao rebaixamento nessa temporada.

Na Libertadores a situação também é bastante particular. Classificado para as oitavas de final, o time ainda não encontrou o seu jogo e a defesa é uma das mais vulneráveis da competição. Tem pela frente o Corinthians na próxima fase e por aqui, muitos torcedores e jornalistas já dão o duelo como perdido. Um futuro incerto para esse novo Boca de Bianchi que em duas rodadas enfrentará o River no superclássico a ser disputado na Bombonera, mas com o estado anímico totalmente positivo para o lado de Nuñez.

Já o San Lorenzo por enquanto vem, entre vitórias e derrotas, se safando do descenso. Hoje venceu o Arsenal em Sarandí por 3 a 1, mas não pode respirar aliviado. É apenas o segundo fora da zona de perigo e está longe da briga pelo título. Um time instável que tem o técnico contestado pelos dirigentes e o goleiro titular detido por suposto encobrimento de um procurado pela justiça argentina. Sofreu com o trauma de uma “promoción” e agora joga a vida para fugir do descenso direto.

Em Avellaneda a situação é diferente entre os dois rivais. O Racing parece não passar de um mero figurante. Há tempos que forma um time promissor, mas que não passa disso, apenas uma promessa. Perdeu o clássico com o River no Cilindro e viu o Millo abrir 53 vitórias de diferença no histórico do confronto. Vence jogos complicados como o 4 a 1 no Ciclón dentro do Nuevo Gasómetro, porém tropeça em partidas mais fáceis e fundamentais para somar três pontos se quisesse entrar na briga pelo título; como o empate em casa diante do Colón por 1 a 1 nessa rodada. Com 15 pontos é o oitavo colocado e vê os líderes se distanciando cada vez mais.

O Independiente vive o seu calvário particular. Derrota trás derrota vai caminhando a passos firmes e decididos para a segundona. Hoje foi a vez do Atlético Rafaela jogar mais uma pá de cal no túmulo do Rojo que pode descender ainda antes do previsto. Estreou técnico novo, Brindsi, que assumiu depois de Tolo Gallego abandonar o barco a pedido do presidente Cantero. Presidente esse que já fala com um discurso de quem aceita o destino iminente: “Caso o rebaixamento se confirme, precisamos voltar o mais rápido possível” afirmou.

É o  primeiro na zona do descenso e além da derrota nessa rodada ainda viu o Quilmes, rival direto nessa luta, vencer o Estudiantes por 1 a 0 e complicar mais as coisas. Um dos dois clubes do país que jamais foi rebaixado (ao lado do Boca Jrs) está por abandonar esse seleto grupo.

Pois é, amigo, dentro de todo esse cenário trágico para os ditos “grandes” do país, quem sobrou foi o River Plate. Passou pelo seu drama particular e retornou com forças e esperanças renovadas. Às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para poder encarar sua realidade.

O Millo parece que precisou passar por tudo isso para se reencontrar. Será que os outros também precisam?

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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