Seleção

Os argentinos da seleção venezuelana

Último país da Conmebol a promover competitivamente seu futebol e longe demais da Argentina, a próxima oponente na Copa América é das que menos teve hermanos em sua seleção. Nos últimos trinta anos, só um jogou pela Vinotinto. Se formos rigorosos em considerar o uruguaio Fernando Muslera como argentino e abrangendo os treinadores, só Venezuela e Brasil não tiveram argentinos na Copa América atual e na do ano passado: o Chile teve Jorge Sampaoli e Juan Antonio Pizzi, o Peru tem Ricardo Gareca, a Bolívia contou com o botafoguense Damián Lizio, a Colômbia com José Pekerman, o Equador com Gustavo Quinteros e o Paraguai, diversos (Ramón Díaz, o palmeirense Lucas Barrios, Néstor Ortigoza, Juan Iturbe…).

O primeiro foi um técnico: Rafael Franco era o comandante na primeira Copa América com participação venezuelana, em 1967. Vale ressaltar que no gol, havia Vito Fasano, nascido na Itália, criado na Argentina e naturalizado venezuelano. Na Venezuela, ele defendia justamente o Deportivo Italia, enfrentando naquele mesmo ano o Cruzeiro na Libertadores, sendo contratado pela equipe mineira.

De jogadores realmente nativos da Argentina, foram só quatro os aproveitados na seleção venezuelana. O primeiro foi o defensor Raúl Stanich, ex-Argentinos Jrs e Almagro. Em 1972, participou da Taça Independência, ou Minicopa, mundial realizado no Brasil em comemoração aos 150 anos do grito do Ipiranga. O técnico também era hermano: Gregorio Gómez.

Ramón Echenausi já era grená antes de vestir vinotinto: defendeu por muitos anos o Lanús até ir jogar na Portuguesa venezuelana em 1972. Em 1977, esteve na campanha histórica deste clube na Libertadores, que contava com Jairzinho e foi semifinalista em triangular com Internacional (surrado por 3-0 fora de casa e vencedor só por 2-1 no Beira-Rio) e Cruzeiro (também vencedor só por 2-1 no Mineirão). No mesmo ano, jogou as eliminatórias, na qual foi segurado um 1-1 com o Uruguai em Caracas – a Celeste terminaria desclassificada. Seu filho Miguel, nascido na Venezuela, também jogou pela seleção.

Nas eliminatórias à copa de 1982, Echenausi pai teve a companhia de Juan José Scarpeccio, que na Argentina teve no Platense seu clube mais proeminente. No norte do continente, ficou mais ligado ao Estudiantes de Mérida. Seu filho, como o do colega, também defendeu a Venezuela, mas nos juvenis. Em 1989, a seleção foi treinada na Copa América por Carlos Moreno.

Héctor Bidoglio foi o último jogador argentino a defender a Venezuela. Da base do Newell’s, trotou por equipes pequenas do Chile até se fincar por mais de uma década no país que adotou. Destacou-se mais no Caracas, no fim do século. Em 1999, esteve com o filho de Echenausi na Copa América, quando a seleção era treinada pelo também argentino José Omar Pastoriza – como jogador e técnico, nome histórico do Independiente, vencendo nas duas funções a Libertadores (em 1972 e em 1984, quando faturou também o Mundial). Dedicamos-lhe este outro Especial.

El Pato, contudo, não tinha muito o que conseguir pela Vinotinto na época. Ele e Bidoglio estiveram no 7-0 brasileiro recordado pelo golaço de Ronaldinho Gaúcho. Pastoriza saiu em 2001 (Bidoglio não seria mais chamado). Bolivarianismo ou não, desde então a federação apostou só em técnicos locais, raridade na Conmebol, aposta que não deixou de evoluir com saltos o desempenho da Venezuela. No retrospecto entre as duas adversárias desse sábado, não há empate: a Argentina ganhou vinte vezes e perdeu uma, em outubro de 2011, um 1-0 nas eliminatórias para a Copa de 2014.

Mas uma das derrotas dos venezuelanos foi doce ao seu técnico atual: Rafael Dudamel, goleiro-artilheiro do Deportivo Cali vice da Libertadores de 1999, fez de falta no 5-2 em Caracas há vinte anos, em 1996, embora só costume ser lembrado o outro gol de goleiro sofrido pelos argentinos naquele ano, o de José Luis Chilavert – cujo reserva no Vélez, Pablo Cavallero, levou o de Dudamel.

Confira abaixo argentinos que defenderam outras seleções dessa Copa América:

Bolívia, a seleção que mais naturalizou argentinos

Os argentinos que já defenderam o Chile

os argentinos que já defenderam a Colômbia

Todos os argentinos da seleção equatoriana

Argentinos de destaque no futebol dos EUA, sede da Copa América Centenário

Todos os argentinos da seleção mexicana

Os argentinos que já defenderam o Paraguai

Os argentinos que já defenderam o Uruguai

O técnico Pastoriza e Bidoglio (o que olha para frente e não ao chão) enfrentando a terra natal: últimos argentinos na Venezuela

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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