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Racing vence o Táchira de virada e vai às oitavas de final como líder do Grupo 8

Milito segura a pelota e chama a equipe para a reação
Milito segura a pelota e chama a equipe para a reação

Tudo preparado para a festa. Cilindro com um ótimo público e o Racing, já classificado, com a faca e o queijo nas mãos para vencer e sair como líder absoluto do grupo. Mas uma certa arrogância pareceu tomar conta do elenco acadêmico. Era como se não visse o rival; era como se achasse que os gols sairiam de qualquer forma e a qualquer momento. Besta que não é, o Táchira se aproveitou disso e também das péssimas presenças de Alvarado e Óscar Romero. O primeiro era uma piada na defesa; o segundo, outra piada, mas no meio. De forma que La Acadé precisou levar 2×0 para acordar. E acordou graças aos seguintes aspectos: ao técnico Farías, que sacou Maestrico Gonzáles e José Meza, os dois melhores do Táchira; graças a Brian Fernández, que entrou e mostrou a Romero como se joga bola. E graças também a Bou, que deu assistência para Milito e marcou o gol de empate do Racing. Academia sofreu, mas cumpriu seus objetivos no Grupo 8. Terá tempo para descansar. Oportuno que o aproveite também para refletir.

Partida começou daquele jeito: todo mundo jogando em apenas uma metade do campo; lógico, todos no campo de ataque do Racing, exceto Saja. Sendo assim, ficava fácil para o Racing manter o domínio da pelota e possui-la com toda a voracidade que sua torcida esperava. Mas dentro de campo a história não era bem essa. O que se via era uma Academia lerda, modorrenta e até um pouco arrogante, ao deixar parecer que resolveria a fatura a qualquer momento. O problema é que ao chegar à proximidade da área de Contreras a qualidade do futebol do Racing era só nota 3. Coisa feia. Ninguém conseguia triangular uma jogadinha que fosse. Além disso, dois problemas ocorriam: imprecisão no passe final e desconcentração absoluta no arremate para o arco.

Efeito disso foi que pouco a pouco o Táchira começou a perceber que o “mostrengo” só miava e nada mais. Começou então a especular alguma coisa no ataque. Se por um lado isto facilitou o jogo do Racing, que conseguiu chegar uma ou duas vezes; por outro, denunciou o quanto a defensiva acadêmica era uma piada: todo mundo desatento, dormindo ou perdido na falsa ilusão, de seus homens de contenção, de que eram todos centroavantes. Fácil para o técnico visitante perceber que com linhas defensivas tão adiantadas não era nadinha difícil sair rapidinho para os contras.

E na primeira vez, o Táchira quase fez. Só não fez pelo Saja. Mas todo mundo deu a jogada como isolada. O Racing parecia fissurado com a ideia de que o único resultado possível no Cilindro seria a sua vitória. Considerava a hipótese, mas não fazia nada de concreto para efetivá-la. E na segunda vez, o conjunto visitante teve ainda menos dificuldades para chegar cara a cara com Saja. José Meza pegou a pelota ainda no meio-campo. Deparou-se com uns dois ou três zagueiros que pareciam gente encachaçada numa noite de reveillon. A coisa se desenhou de tal forma fácil que o grande problema para José Meza era decidir se daria a assistência fatal para Orozco ou se ele mesmo guardava. Resolveu driblar um, driblar dois e pronto: arrematou da entrada da área e guardou a redondinha no arco de Saja: Táchira 1×0.

Para não dizer que foi tudo um mero sonhinho, aos 43′, Cerro lançou de maneira primorosa para “La Pantera” Bou. Ele caminhou com a pelota e arrematou cruzado para guardar. Goleiro rezou e os deuses atenderam: a bola encontrou a trave salvadora. E foi só isso na primeira etapa.

Bem, na segunda etapa o jogo sequer começou e o Táchira foi lá e guardou a segunda pelota no arco de Saja. O cenário parecia o mesmo da primeira etapa até mesmo na disposição de jogadores como Alvarado, coautor do segundo tento do Táchira ao errar feio na marcação. Negócio pedia investimento com urgência e Cocca resolver fazer sua obrigação e agir. Tirou o horrível Óscar Romero e levou a campo Brian Fernández. O jogo mudou. A criatividade voltou para a Academia de Avellaneda. Isto porque Além de Fernández atuar diretamente na articulação das jogadas, sua presença deu relevância para Cerro, que também passou a ser um dos destaques na armação.

Não demorou para os gols aparecerem. Após lançamento primoroso de Alvarado (de quem?), Bou matou a pelota dentro da área, levou o zagueiro e serviu Milito que assinou: 2×1 Táchira. Não deu muito tempo para os venezuelanos perceberem o que estava acontecendo. O contragolpe venezuelano era só uma lembrança dos primeiros 45 minutos. E isto porque a pressão era forte demais. O Táchira se recuava todo para o campo de defesa e tentava aplicar o mesmo veneno da etapa inicial. Mas não conseguia.

O meio-campo já era tomado pela competência de Videla, a categoria de Cerro e o trabalho quase de um camisa 10 de Brian Fernández. Se havia um problema ele estava na centralização excessiva das jogadas de ataque. Então a coisa começou a mudar com as trocas de passes pelos dois lados do campo e o levantamento da redonda para Milito e Bou. Certo é que também nisso houve certo exagero. Mas foi assim que o empate saiu. Primeiro a redonda foi a córner; depois ela voou para o lado esquerdo para encontrar Bou. Ficou fácil para “La Pantera” arrematar cruzado e rasteiro. Era o empate do Racing.

Se a Academia se acertava em campo, o Táchira pouco a pouco sumia. E tudo por causa do técnico Daniel Farias. Simplesmente ele tirou Maestrico Gonzáles e depois José Meza. Ou seja, retirou de campo os dois melhores jogadores do conjunto visitante. O Táchira perdeu o toque rápido de Maestrico e a velocidade de Meza. Perdeu, portanto, praticamente tudo. Enquanto isso, “La Acadé” seguia com sua pressão. Verdade que após o empate ficou um pouco mais difícil de chegar à meta de Contreras. Em parte porque se os visitantes não atacavam mais eles, em parte, cumpriam a determinação de Farías de segurar o empate. Mas a pressão era excessiva.

E nos acréscimos saiu o gol da virada. De tanto tentar pelos flancos, eis que o Brian Fernández resolveu penetrar pelo centro da área. Enfrentou um exército de defensores, mas soube contar com dois fatores: com a agilidade do raciocínio e dos pés e com a desatenção de Contrers, que não esperava pelor arremate-surpresa. Tudo bem que a pelota não foi lá tão forte assim. Mas ela foi meio traiçoeira e venceu ao guardametas visitante. Entrou bem devagar, como se quisesse aumentar o sofrimento de todos. Mas entrou. E a Academia virou uma partida dificílima: 3×2. Com o resultado, o Racing se classificou em primeiro no grupo 8 da Libertadores. Agora terá um bom tempo para descansar. E para repensar os motivos pelo que a equipe caiu tanto de produção em relação aos dois primeiros jogos. Só.

Racing: Saja; Pillud, Nico Sánchez, Pablo Alvarado, Leandro Grimi; Francisco Cerro (Castillón), Videla, Camacho (Marcus Acuña); Oscar Romero (Brian Fernández); Gustavo Bou e Diego Milito.

Deportivo Táchira: José Contreras; Carlos Rivero, Wilker Ángel, Carlos Javier López, Yuber Mosquera, Carlos Lujano; Yohandry Orozco (Gelmin Rivas), Juan Carlos Mora, Carlos Cermeño; César González (Jorge Rojas); José Meza (Pablito Fernandez).

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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