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Riquelme no Brasil: uma boa escolha?

O interesse de diversos clubes brasileiros por Riquelme acendeu a discussão sobre a possível utilidade do jogador para um clube daqui. A questão é complexa e merece ser abordada por vários ângulos.

Do lado dos que se opõem há quem pinte o camisa 10 como um veterano decadente tentando ganhar um último contrato antes de encerrar a carreira. O argumento é absurdo: Riquelme acaba de recusar um contrato com o Boca Juniors, clube do seu coração, onde jamais seria questionado nem necessitaria provar mais nada.

Mas é fato que Riquelme não é mais o mesmo de anos atrás. Nem poderia, uma vez que chegou aos 34 anos. Não se pode esperar dele as atuações memoráveis que teve contra clubes brasileiros na última década. Nem tampouco se pode contar com o Diez para todos os jogos. O jogador precisa ser poupado para evitar a sobrecarga, de modo que o clube que eventualmente o contratar deve estar atento a esse tipo de problema. Bem como não esquecer que Román está afastado do futebol há seis meses.

Talvez o pior problema seja o fato de se tratar de alguém que faz questão absoluta de ser a estrela principal do elenco. Sua carreira é repleta de rivalidades com treinadores e jogadores, geralmente forjadas a partir de lutas pelo protagonismo na equipe. Jamais aceitou não ser o líder indiscutido do elenco, o que poderia de fato ser um grande problema ao chegar em um país novo, para jogar numa equipe em que definitivamente não seria protagonista, e talvez nem mesmo titular (como o Fluminense, por exemplo).

Mas há também aspectos positivos na contratação do jogador. Ainda que declinante, Riquelme segue tendo muito futebol para mostrar. Comandou o Boca Juniors numa campanha avassaladora que terminou com o título do Apertura 2011. E liderou sua equipe na campanha do vice-campeonato da Libertadores há apenas seis meses, eliminando inclusive o Fluminense dentro do Engenhão. O argumento de que é um jogador que não tem muito a oferecer simplesmente não cola. Riquelme não é o jogador que já foi, mas ainda tem muito o que mostrar.

Riquelme poderia ser um investimento vantajoso para uma equipe brasileira em determinadas situações. Poderia vir para uma equipe forte, como Fluminense ou Atlético/MG, desde que ambos os lados estejam conscientes de que o jogador não seria protagonista, mas poderia ser útil, inclusive em momentos decisivos. Nesse caso, naturalmente o salário teria de ser de acordo com o papel que viria a desempenhar. Também poderia ser o protagonista de uma equipe mais fraca, como o Palmeiras, desde que se tenha em mente que o jogador nem sempre poderá jogar.

Independente disso tudo, o que fica é a certeza de que os clubes brasileiros seguem na sua incapacidade de olhar para os mercados vizinhos. Por mais que Riquelme possa ainda ser útil, o fato é que vários clubes brasileiros o querem essencialmente em função de ser um jogador de grife. Na própria Argentina há jovens, como Fariña, Mugni e Paredes, que poderiam ser contratados por um preço bem melhor, tendo ainda muitos anos de carreira pela frente. Mas isso implicaria em observar o mercado e ter paciência com um jogador jovem, que ainda não atingiu seu auge e eventualmente pode ter dificuldades de adaptação. Aparentemente os clubes brasileiros não querem isso. Então escolhem o caminho mais fácil: a grife.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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