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River Plate: 110 anos do El más grande

Na Confeitaria da sede social do River Plate, há um mural pintado por Benito Quinquela Martín que representa, através de uma alegoria visual, o que o River Plate significa para sua torcida e para a sociedade argentina. Em comemorações aos 110  anos completados neste 25 de maio, vou dedicar esse texto especial a analisar esse mural.

Ora, uma alegoria é a forma poética de contar “a história de nós que contamos a nós mesmos”. Uma alegoria visual, tal como um quadro, representa através de elementos simbólicos tudo que está em jogo quando falamos, no presente caso, da história de uma grande agremiação.

Assim, na parte direita do Mural vemos o cenário portuário de Buenos Aires, La Boca, bairro de fundação do River Plate em 25 de maio de 1901. No rio, há dois barcos: La Rosales e Santa Rosa, os nomes dos dois times que se fundiram para fundar o River Plate.

Vemos, à esquerda, o povo em festa. Panos em brancos com uma faixa vermelha na diagonal são içados em comemoração. Isso remete à história do clube. A camisa branca e o shorts preto foram opção desde o início.No entanto, era um uniforme muito comum. Os primeiros membros do River Plate tinham amigos que participavam das festas do carnaval e esses tinham retalhos de tecido vermelho sobrando. Bastou colocar essas faixas na diagonal e que surge a camisa mais icônica do futebol argentino.

A palavra “campeão” aparece em diversos cantos do mural de Quinquela. Ora, afinal, o River Plate é o “El más Grande”.  É o maior campeão da Primeira Divisão Argentina profissional com 33 canecos somados a gritos de campeão que ecooam até o infinito.

Um jogador do River é carregado pela hinchada. Pelo traço, é Carlos Peucelle no título histórico de 1936. Conhecido como El Maestro de la Máquina do River Plate, em 1936, ele ganha o seu segundo título argentino com o River Plate. El Maestro, como o jogador mais experiente, participa do protótipo da La Máquina compondo a linha delantera com José Manuel Moreno e Adolfo Pedernera. Além disso, consegue o bicampeonato legítimo em 1937, também fazendo parte do onze titular.

Em 1941, o ano de sua aposentadoria, ele ganha o seu quarto título argentino. Na partida contra o Estudiantes que decidiu o título, ele jogou na delantera formada por Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e ele. Assim, em 1942, bastou el maestro sair para a entrada do jovem estreante de 20 anos, Félix Loustau, para que a Lá Máquina fosse montada: Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau. Surge a melhor equipe de futebol que já pisou nos gramados argentinos.

Aliás, melhores equipes de futebol que já pisaram nos gramados argentinos e River Plate são sinônimos. Basta lembrar das equipes vencedoras da Libertadores em 1986 e 1996, bem como todo o River dos anos 1990, tão vencedores quanto o River dos anos 1940 e aos 1970.

Para encerrar, podemos ver a festa com inúmeros hinchas no quadro de Quinquela. É o melhor retrato da frase do ídolo Ángel Labruna: “River es noticia siempre. No porque seamos la mitad más uno, sino porque somos el pais menos algunos”.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

2 thoughts on “River Plate: 110 anos do El más grande

  • Márcio Millo

    muito bom. meu time é grande, muito grande. só que atualmente esta numa maré violenta. mas a história cobre essa fase negra. river “El más grande”. Parabéns campeão!

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