Primeira Divisão

Supersemana – A tragédia do Portão 12, crime futebolístico ou político?

O documentário argentino "Puerta 12" (2008), de Pablo Tesoriere (sobrinho-neto de Américo Tesoriere, goleiro do Boca Juniors), é um dos princiais trabalhos sobre o assunto. Seu cartaz promocional mostra imagens da pequena escadaria onde 71 pessoas morreram após um Superclássico no Monumental de Nuñez em 1968.

Às vésperas do Superclássico entre River Plate e Boca Juniors, a série de especiais do Futebol Portenho lembra um episódio triste no maior clássico futebolístico da Argentina: a tragédia da Puerta 12, o Portão 12 do Monumental de Nuñez. Acontecido em 23 de junho de 1968, o evento vitimou 71 pessoas, jovens na maioria e torcedores do Boca Juniors.

No Monumental de Nuñez, tinha acabado um empate sem gols entre River Plate e Boca Juniors em partida válida pelo Metropolitano de 1968. Era uma parte intergrupos pertencente à rodada 17.

Boca Juniors e River Plate lutam pela classificação em seus grupos já que faltavam apenas 6 jogos para o fim. O Boca Juniors, no grupo 1, tinha como adversários outras 10 equipes: San Lorenzo, Estudiantes de La Plata, Lanús, Racing, Colón de Santa Fe, Newell’s Old Boys, Banfield, Atlanta, Ferro Carril Oeste e Platense.

Já o River Plate enfrentava os dez restantes: Vélez Sarsfield, Rosario Central, Huracán, Independiente, Los Andes, Chacarita Juniors, Argentinos Juniors, Quilmes, Gimnasia y Esgrima La Plata e Tigre.

Após o jogo, os torcedores do Boca Juniors, que ocupava a tribuna que dá para a Figueroa Alcorta, quiseram sair rápidamente tal como os demais 90 mil torcedores do Monumnetal. Fazia frio e o jogo não fora um dos melhores protagonizados pelas duas equipes.

No entanto, como do nada, uma avalanche de pessoas aconteceu no pequeno corredor que dava na puerta 12 (atual porta L) do Estádio. 71 pessoas morream, pistoeadas e asfixiadas.

Duas hipóteses são levantadas por testemunhas. A primeira que o portão fora fechado por pessoas (ou torcedores) do River Plate. O clima estava tenso entre as duas equipes e os torcedores do Boca Juniors tomaram atitudes desagradáveis no pré-jogo tal como queimarem bandeiras e camisas do River, bem como jogar copos de urina nos torcedores do River presentes nas plateias baixas.

A segunda é a hipótese de crime político. A torcida do Boca entoara gritos de apoio ao ex-presidente Juan Domingo Perón, arqui-inimigo do então ditador argentino, Juan Carlos Onganía.

Era tempo de forte repressão policial aos peronistas na Argentina e o ex-presidente do River Plate, William Kent, lembrou que os torcedores do Boca Juniors também jogaram urina no corpo policial presente no estádio. Nessa teoria, há relatos de que, no fim do jogo, quem fechou os molinetes e obstruia a passagem fora a polícia com o seu setor montado em clara atividade de repressão.

Os parentes das vítimas buscaram indenização e punição aos culpados, mas nada conseguiram na Justiça. Em 1969, desistiram do processo e as indenizações conseguidas foram um pouco mais de 150 mil dólares.

O Metropolitano 1968 se revelou uma tragédia futebolística para o próprio Boca Juniors que não se classificou para as semifinais e, ocupando a 5ª colocação em seu grupo, quase teve que jogar o Torneio Promocional. Já o River Plate se classificou em segundo, mas perdeu na semifinal para o San Lorenzo, o campeão do Metropolitano daquele ano.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

3 thoughts on “Supersemana – A tragédia do Portão 12, crime futebolístico ou político?

  • Márcio Millo

    NOSSA! KI TRAGÉDIA!

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