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Tarde de redenções

FP ACOMPANHA O JOGO EM AVELLANEDA

Nem mesmo o lindo dia que fez neste sábado em Buenos Aires parece ter animado a torcida do Rojo. Dez minutos antes do início do jogo, se não fosse pelo ruído produzido por alguns bumbos, nada indicava que no Estádio Libertadores de América haveria uma partida.

Ruas tranquilas e pouco movimento dava o sinal de que hoje, definitivamente, não seria um dia de grande público. Já dentro da cancha, poucos torcedores, a maioria buscando abrigo contra o sol forte de primavera.

O clube vive um de seus momentos mais delicados. Dentro de campo não apresenta um futebol convincente e na última quarta-feira sofreu outro revés ao ser eliminado pela LDU, na Copa Sul-Americana. Fora dele a inquietação política, o clima de animosidade entre torcedores comuns e a barra brava do clube além das constantes manifestações contra o atual presidente.

O adversário desta tarde: Godoy Cruz. Um rival que ao longo do tempo tem se mostrado complicado para o Independiente. As duas equipes jogaram 8 vezes na história, com 2 vitórias para o Rojo, 2 empates e 4 vitórias para o time de Mendoza.

Durante o anúncio da escalação das equipes, vaias para Deferico ex-Corinthians e aplausos para Facundo Parra, que marcou o gol salvador no empate contra o Racing. Mas a partida desta tarde serviu como uma prova mais, do passional que podem ser os torcedores. Dois jogadores foram do inferno aos céus em um tempo.

JOGO

No apito inicial, o que se viu foi um jogo disputado no meio de campo. Logo aos 5 minutos, a equipe da casa teve a oportunidade de abrir o placar numa cobrança de falta que explodiu no travessão. O Rojo jogava melhor, e chegou com perigo outra vez numa cabeçada de Nuñez.

Enquanto isso, nas arquibancadas, o clima pesado entre sócios do clube e barras seguia aumentando. Os torcedores comuns vaiaram quando os membros da organizada cantaram dizendo estarem presente nos bons e maus momentos do time. Como resposta, os torcedores comuns cantaram a mesma canção trocando a letra e substituindo por palavras conta a atual diretoria.

O Godoy só assustou quando já corria mais da metade da primeira parte. Depois de um recuo de bola que deu errado, vindo do campo de ataque do Independiente, Ramirez ganhou na corrida e teve uma ótima oportunidade de colocar o Godoy na frente, o atacante escolheu o lado e chutou pra fora a oportunidade de abrir o placar.

No meio de campo, vale destacar o bom jogo do camisa 7 do Rojo, Pellerano. O habilidoso jogador, com velocidade e técnica, representava a melhor opção de saída de bola do time de Avellaneda.

Com a proximidade do final do primeiro tempo, o ritmo da partida diminui e as duas equipes pareciam mais preocupadas em não irem para os vestiários amargando o uma derrota.

Mas aos 39 a emoção voltou a rondar os gols. O Independiente arriscava bons chutes de fora e em um deles, a bola passou raspando a trave direita do gol de Torrico. O Godoy respondeu com uma linda jogada de Villar, uma sequencia de dribles no seu marcador, cruzou para Ramirez que com um toque de primeira, habilitou Castillon que chutou forte e obrigou o goleiro Assman a fazer difícil defesa.

Final de primeiro tempo. Empate sem gols num jogo que até aqui mostrava um Independiente levemente superior. Porém nas duas vezes que chegou, o Godoy levou muito perigo.

MATÍAS DEFEDERICO APLAUDIDO

Volta para etapa complementar e nenhuma alteração. Foi então que apareceu a estrela de Matías Defederico. Em menos de 4 minutos, o meia protagonizou dois lances interessantes e teve a oportunidade de mudar sua história na partida e seu conceito com a torcida.

Quando com menos de 2 minutos jogados da etapa complementar, Defederico recebeu uma forte pancada na perna direita. A torcida local comemorou e aproveitou para vaiá-lo um pouco mais, deixando claro que o atleta não estava entre os mais queridos. Dois minutos depois, ganha uma disputa no círculo central, arranca com a bola dominada, escapa de três adversários e passa para Nuñez., sozinho e sem trabalho nenhum empurrar para o gol, Independiente 1 a 0.

O autor do gol sai abraçado com o meia, tão criticado pela torcida, pedindo aplausos. Prontamente respondido. E foi o suficiente para o camisa 20 despertar, com boa movimentação, chutes a gols e dribles.

Mas Defederico não pode evitar o que estava por vir. Numa cobrança de falta na área do Rojo, Assman corta mal o cruzamento e a bola fica viva dentro da área sem que ninguém pudesse afastar. Ramirez aproveita a confusão e chuta para o fundo do gol. Agora, 1 a 1.

AGORA PÉREZ ERA O ALVO DAS VAIAS

Ramón Díaz, que acompanhou a partida de uma das tribunas por estar suspenso, resolveu mexer na equipe. Colocou o colombiano Pérez no lugar de Parra.

Então surge o segundo personagem desta tarde. Pérez também está longe de ser uma unanimidade na torcida do Rojo. Assim que entrou já recebeu vaias e a cada jogada perdida por ele, insultos.

Quando Defederico lançou o colombiano, e o deixou cara a cara com o goleiro parecia vir finalmente o gol que aliviaria um pouco a pressão. Mas ele definiu mal e chutou no goleiro.

Pouco depois, outra vez Pérez bateu de primeira um cruzamento que veio da esquerda, mas isolou a bola para fora. Foi o suficiente para a paciência da torcida se esgotar. Agora era o jovem atacante colombiano, o alvo da ira que vinha das arquibancadas.
O jogo melhorou, com um segundo tempo mais movimentado. O Independiente tentava a todo custo a vitória, mas esbarrava na limitação de seus homens de frente.

Ramón tentou com Fredes e Cabrera nos lugares de Pellerano, muito aplaudido e visivelmente cansado e Defederico. Na substituição deste último, outra vez vaias, mas agora não para o jogador e sim para o técnico.

O Godoy parecia se mostrar satisfeito com o empate fora de casa e tentava controlar todas jogadas no seu campo de defesa. Quando subia, não ameaçava e preferia ficar tocando a bola de pé em pé.

PÉREZ APLAUDIDO

Última chance para o Independiente.

Lançamento para Pérez, livre de frente com o goleiro. A oportunidade de se redimir, a chance de selar uma vitória importante e o colombiano não desperdiçou. Lindo toque por cima, na saída do goleiro. Cravou a vitória aos 44 do segundo tempo, Independiente 2 a 1.

Durante a comemoração, foi a vez de o jogador mandar seu recado para a
torcida. Correu e apontou para as arquibancadas, gesticulando muito como quem desabafa.

O Independiente sofreu, mas conseguiu sair da retranca e da marcação mendozina, final em Avellaneda e vitória justa do Rojo.

Festa e barulho no estádio que agora sim estava com um clima de cancha. Nem de longe se parecia ao estádio vazio e silencioso que encontramos antes do jogo. E pela primeira vez no campeonato, as duas arquibancadas cantaram juntas.

Sem coletiva de imprensa, Ramón já havia avisado antes do jogo que não iria falar, apenas alguns jogadores responderam perguntas dos jornalistas que esperavam no estacionamento do clube.

Independiente 2

Fabián Assmann, Julián Velázquez, Eduardo Tuzzio, Gabriel Milito, Maxi Velázquez, Fernando Godoy, Hernán Fredes (Matías Defederico), Nicolás Cristian Pellerano (Cabrera), Osmar Ferreyra, Facundo Parra (Marco Pérez) e Leonel Núñez

Godoy Cruz 1

Sebastián Torrico, Roberto Russo, Leonardo Sigali, Nicolás Sánchez, Gérman Vóboril, Diego Villar, Nicolás Olmedo (Gonzalo Cabrera), Israel Damonte, Ariel Rojas, Facundo Castillón (Alvaro Navarro) e Rubén Ramírez

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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