Primeira Divisão

Vitória absurda do Lanús, sobre o Arsenal, coloca pressão sobre o River

Somoza abraça Lucha Acosta. Desespero e alívio estiveram em campo, na agônica noite, no Sul
Somoza abraça Lucha Acosta. Desespero e alívio estiveram em campo, na agônica noite, no Sul

Jogo parecia uma barbada para o Lanús. Não que o Arsenal fosse um rival fácil de ser superado, mas pelo clima do jogo, pela confiança e pelo momento do conjunto bravamente dirigido por Guillermo Schelotto. Mas se o primeiro gol saiu logo no início, ele mais pareceu um acaso. isto porque o visitante contou com a sorte e a eficiência para guardar duas pelotas no arco, em duas oportunidades, no primeiro tempo. No segundo, o jogo do Arse se acomodou ao desespero granate e sinalizou uma vitória dos comandados de Palermo. Tudo ia bem até que o árbitro Andrés Merlos deu cinco minutos de acréscimos. Pulpito González empatou e obrigou o técnico visitante a buscar explicações. Após a confusão e expulsão do Titán, o árbitro deu mais um minuto. E na base da agonia, e quase demência, o Lautaro Acosta foi o nome do gol que deu o triunfo ao Granate: 3×2. Uma vitória maiúscula, improvável e difícil de se classificar.

Primeiro tempo foi assim: Lanús jogando no ataque, reduzindo o espaço a meio-campo somente. Pressão total, mas sem os devidos cuidados com o rival. O Arse atuava recuado e esperando por aquela bolinha matreira. Dados lançados e quem chegou no arco primeiro foi o conjunto local. Após intensa pressão, logo aos seis minutos, Chino Romero foi o nome do gol. A partir disso, tudo sinalizava um jogo fácil para a esquadra do Sul. Maia ilusão. Os nervos curiosamente entraram em campo e se tornaram o principal reforço da equipe fantoche de Grondona, o falecido.

Uma pelota somente e nada mais. Eis o resumo de como o Arsenal chegou ao empate. Convém considerar certa dose de sorte do Arse. E possivelmente também do River. Defensiva granate fechava tudo à frente da área de Marchesín. Foi então que Brahian Alemán arriscou de longa distância. Acertou aquele arremate dos sonhos. E a pelota foi dormir no cantinho mais desprotegido do arco: 1×1.

Pouco entendimento sobre o que estava acontecendo. Sequer os comandados de Palermo compreendiam. Só que eles se acharam no jogo, encontraram uma forma de atuar em que se plantar na defesa seria suficiente para não levar gols. O plano poderia não funcionar, não fosse o desespero granate. Pouco a pouco os espaços foram aparecendo, sobretudo no flanco direito da defesa local. Por ali o Arsenal especulava alguma coisa a mais que o empate. E aos 26 minutos Ramiro Carrera e Zelaya articularam ótima jogada, que teve até toque de calcanhar dentro da área. E coube a Carrera virar o jogo para o Arse: 2×1. E assim permaneceu até o final do primeiro tempo.

Na segunda etapa, tampouco o Granate soube mudar sua forma de atuar. Tentativas existiram, mas havia um problema a ser resolvido: como lidar com a eficiência do rival. Muita gente jogava no Arse, mas quem roubava a cena era Brahian Alemán. O uruguaio era o dono da bola e sabia conduzi-la com maestria, oferecendo a saída perfeita para o contragolpe. Mais que isso, colocava a pelota nos pés e na cabeça de seus atacantes. A defensiva local não achava o uruguaio e corria perigo de levar o terceiro gol.

Já no Lanús a pressão era do tipo de quem joga uma final, com a faca nos dentes e com a alma na ponta das chuteiras. Mas faltava futebol. No desespero, a pelota buscava Silva de maneira excessiva no ataque. Mas que isso, no centro da entrada da área, o que facilitava o desmanche que a zaga visitante operava com eficiência e precisão. Percebendo isso, o Tanque começou a se deslocar pelos lados do campo, além de recuar para chamar a atenção dos zagueiros e permitir as chegadas de Acosta, González e Ayala.

A pressão ganhou a cara de demência, quando a equipe local se deu conta de que era tudo ou nada. O “tudo” significava 10 homens no campo de defesa do Arse; o “nada” significava que mais valia perder a partida por mais gols do que se entregar ao que parecia o seu destino de fracassado na agônica noite de guerra no Sul. De Braghieri a Chino Romero, passando por Nico Pasquini e Somoza, o que mais importava era estabelecer a guerra apenas em um setor do campo: o espaço interno da área de Andrada.

E foi na base da alma, aos 50 minutos, que Pulpito González guardou. Após cobrança de córner, várias pernas tentaram afastar a pelota da área. Mas era tanta gente à frente de Andrada que o porteiro nada pode fazer, exceto lamentar o empate. Festa de um lado e confusão do outro. Titán Palermo tenta entrar em campo para cobrar satisfação do árbitro Andrés Merlos. A reclamação se embasava no fato de que o tempo de acréscimo era demais. Após expulsar o Titán, Merlos deu mais um minuto de jogo. Durante todo esse tempo a pelota não saiu do domínio granate. Como a pelota não saia e o bombardeio era intenso, o árbitro se via com dificuldades para trinar o apito final. Após intensa campanha e um bate e rebate absurdo, aos 54 minutos de jogo, Lucha Acosta foi o nome do agônico gol que deu ao Granate uma vitória gigante, improvável e absurda.

Com o resultado, o conjunto do Sul segue na cola do líder River, assim como segue viva a expectativa de Schelotto de que sua equipe será campeão não só pelos seus méritos mas também pelo provável desgaste do Millo, que segue a buscar felicidade em duas frentes de batalha. Na noite de domingo, o Millo vai à cancha do Vélez, em Liniers. E terá nas arquibancadas não apenas a hinchada fortinera, mas também a alma de seu principal perseguidor. Alma que se mostrou assombrosa na noite de hoje, no Sul da Grande Buenos Aires.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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