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Queda do Independiente: ele chegou à elite em virada de mesa

Rojo
Independiente dos primeiros anos na elite, na década de 10

Na Argentina, são cinco os clubes considerados grandes, dos quais, até ontem, dois podiam se orgulhar de jamais terem sido rebaixados em sua história: Independiente e Boca Juniors. O San Lorenzo caiu em 1981, o Racing em 1983 e o River Plate, em 2011. Ontem, foi o dia do Rojo também viver este drama, restando apenas o Boca a ter esta marca.

O irônico é que os dois últimos “sobreviventes” são justamente os grandes que chegaram fora de campo à elite. Com a queda do Independiente, houve quem veiculou que, atualmente, apenas o Boca nunca disputou a segunda divisão, o que só é verdadeiro se a afirmação considerar apenas a era profissional do futebol argentino, oficializada em 1931 – parâmetro muito comum na imprensa do país, mas, de certa forma, equivocado.

Todos os ditos grandes já haviam passado pela segunda divisão bem antes da primeira queda, incluindo o ainda “incaível” Boca. O campeonato argentino é disputado seguidamente desde 1893 (houve ainda edição em 1891), sendo o mais velho nacional no mundo fora do Reino Unido. A segunda divisão foi criada ainda no século XIX.

Desta forma, todos os clubes fundados já no século XX – o que é o caso de todos os grandes – tiveram de passar pela segundona, à exceção de alguns de fora da província de Buenos Aires, ao qual o torneio era geograficamente restrito; os cordobeses Talleres (1980), Instituto (1981) e Racing de Córdoba (1982) foram admitidos já na elite, mas até o início dos anos 90 o trio já havia sido todo rebaixado. O mesmo já havia ocorrido com a dupla rosarina Newell’s Old Boys e Rosario Central, colocados na elite do campeonato argentino em 1939.

O River, fundado em 1901, foi o primeiro dos cinco grandes a vencer a segundona, em 1908. O Racing, fundado em 1903, conseguiu em 1910. O San Lorenzo, criado em 1908, venceu em 1914 o play-off decisivo contra o Honor y Patria. Independiente e Boca, ambos nascidos em 1905, chegaram à elite não por vencerem a divisão inferior, mas na canetada mesmo.

Em 1912, a Associação Argentina de Futebol passou a ser reconhecida pela FIFA, o que não inibiu alguns clubes de sua elite a desligaram-se da AAF e fundarem a Federação Argentina de Futebol. Tratavam-se de Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, Porteño e Estudiantes de La Plata. A justificativa, ao menos para o GEBA, era não concordar em cobrar ingressos para seus sócios. Naquele mesmo ano, a FAF organizou seu próprio campeonato e para ele recrutou alguns clubes que estavam na segundona na AAF.

Um destes clubes era exatamente o Independiente, que inclusive terminou vice-campeão no primeiro torneio de elite da FAF, conforme explicamos aqui. O Boca Juniors também estava na divisão inferior da AAF, mas seguiu no órgão, cuja elite ficara reduzida a seis clubes. Para o campeonato de 1913, ela resolveu inflar para quinze, recrutando para si alguns de suas divisões inferiores. O Boca estava entre eles e inclusive retratamos aqui os cem anos de sua estreia na elite.

Em 1915, AAF e FAF acertaram sua junção e a elite unificada foi travada entre 25 clubes. Foi o primeiro campeonato a reunir todos os futuros cinco grandes na primeira divisão. Boca e Independiente, que haviam chegado lá fora dos campos, prosseguiram. E, por ironia, serão exatamente os dois últimos grandes a retornarem à segundona – pagando assim essa “dívida”…

As curiosidades acerca do rebaixamento do maior campeão da Libertadores não se resumirão a este especial. Pelo próprio gigantismo (esquecido no Brasil) do clube, sua queda também merece ser mais retratada e outros especiais virão. Por enquanto, para ter melhor noção do que essa queda representou, conheça ou relembre o contraste: algumas das brilhantes páginas da história dos Diablos Rojos de Avellaneda.

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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