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40 anos do 2º título argentino do Rosario Central

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O goleiro e capitão Biasutto puxa a volta olímpica com Pascuttini, Solari, Aimar e Cabral

Em um ano em que o Newell’s foi muito badalado, encerramos festejando uma taça de seu arquirrival, o Rosario Central. Há 40 anos, era ele o principal clube do interior argentino, habitué na Libertadores – esteve nas de 1971, 1972, 1974 e em 1975 se deu ao gosto de eliminar o próprio Newell’s e ser semifinalista. Mais do que isso, os auriazuis àquela altura eram a única equipe interiorana campeã argentina. E ontem lembrou-se o dia em que se tornavam também a única bi.

A primeira taça viera dois anos antes, em 1971, sobre o grande San Lorenzo da época (o time do Papa vivia sua época mais conquistadora). Mas ela é mais lembrada pela semi, um Clásico Rosarino dos mais recordados, em que o gol da classificação sobre o Newell’s é tido pelos canallas como o mais festejado da história: La Palomita de Poy, o “peixinho” de Aldo Poy (primo do ídolo são-paulino José Poy), que ano após ano é obrigado a encenar a jogada em ocasiões festivas – clique aqui.

Embora marcado pelo lance, Aldo era mais um talentoso criador de jogadas do que um goleador (foram só 67 em 311 jogos pelo Central). Isso foi observado pelo técnico de 1973, Carlos Griguol, ídolo centralista nos anos 60 e que a nova função naquele mesmo ano após trabalhar nos juvenis do clube. Ele já havia chegado a comandar interinamente alguns jogos da campanha de 1971.

O novo treinador deslocou Aldo, que, até então camisa 9, passou a vestir a 10 e melhorou, a ponto de eleger Griguol, lembrado como exigente e disciplinado mas também estudioso  de valor humano, como o melhor técnico que teve (seria ele o treinador dos únicos títulos do sumido Ferro Carril Oeste na elite, nos anos 80, e quase levou o “virgem” Gimnasia y Esgrima La Plata a taças nos anos 90). Poy, mesmo sem jogar, acabaria convocado à Copa de 1974, junto com o colega Mario Kempes: eles seriam os primeiros do futebol rosarino levados pela Argentina a uma Copa.

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Poy, González e Pascuttini já haviam sido titulares no título de 1971

O título de 1971 viera sob o comando técnico de Ángel Labruna, uma das mudanças ao time campeão dois anos depois: o oportunista atacante Rubén Gramajo fora ao Panathinaikos, o volante Ángel Landucci (curiosamente, quem fez Griguol decidir aposentar-se após “roubar” sua vaga nos anos 60), ao Sporting Gijón e o goleiro Norberto Menutti, ao Deportivo Cali.

Já o lateral Jorge Carrascosa e o zagueiro Alberto Fanesi foram ao Huracán, onde Carrascosa brilhou naquele 1973, em que o sofrido time de Parque Patricios venceu o Metropolitano, sendo campeão pela última vez: clique aqui. Praticamente todos foram preenchidos por jogadores da casa, muitos já presentes em 1971, embora ainda não firmados.

O novo goleiro foi o elástico Carlos Biasutto, daqueles sóbrios, que se contentavam em defender dentro da pequena área; no de Landucci, o batalhador Eduardo Solari, pai de Santiago Solari, ex-Real Madrid na década passada; Carrascosa e Fanesi deram lugar aos irmãos Daniel Killer (reserva na vitoriosa Copa do Mundo de 1978) e Juan Burgos, no lugar também de Mario Killer, irmão de Daniel e que se revezava com Fanesi. Já em 1973, Mario jogou só uma vez.

Já Daniel personificava a marca do campeão: mais raçudo, rude e de muito suor do que propriamente brilhantes (o defensivo Ferro Carril Oeste do mesmo Griguol era assim também), assim como Daniel Aricó, vindo do Colón para substituir Gramajo, e Roberto Cabral, do Huracán para ser o novo centroavante no lugar do recuado Aldo Poy – Kempes só viria em 1974, após brilhar naquele torneio de 1973 pelo Instituto de Córdoba, que estreava na elite argentina. Foi o terceiro artilheiro da competição, por um clube que mais perdeu (7) do que venceu (6).

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Bóveda, outro titular de 1971, o “transpiração” Daniel Killer e Solari

A espinha-dorsal que remanescia com Poy desde 1971 se constituía no lateral uruguaio Jorge González, recordista de jogos pelo Central (521), de clássicos rosarinos (37) e também estrangeiro que mais jogou na Argentina, fora dele o cruzamento para a célebre Palomita; no seguro zagueiro Aurelio Pascuttini, segundo que mais jogou (366) pelo clube, onde passou dez anos; no volante Carlos Aimar, inteligente para anular taticamente o rival; e ao driblador ponteiro Ramón Bóveda.

O Metropolitano nada mais era que o antigo campeonato argentino, historicamente concentrado na Grande Buenos Aires, La Plata e Rosario. Entre 1967 e 1985, foi chamado assim porque nesse período também se disputou o Torneio Nacional, que reunia os melhores times do Metro com os melhores de outras ligas do interior. Como o Metro 1973 terminou no fim de setembro, os trinta times do Nacional foram divididos em dois grupos, com jogos em turno único no interior de cada. Os dois melhores de ambos travariam um quadrangular final.

Em seu grupo, o Rosario Central foi eficiente, nem tanto encantador, primando pela defesa e uso da bola parada. Venceu 9 dos 15 jogos, a maioria por placares magros mesmo contra os times mais fracos do interior: 1-0 no Desamparados de San Juan, 2-1 no Chaco For Ever de Resistencia, 3-1 no Kimberley de Mar del Plata; empatou em 1-1 com o Atlético Tucumán e até perdeu por 1-0 para o Gimnasia y Esgrima de Jujuy. Mas só perdeu duas vezes, a outra para o Atlanta, que vivia seu último grande momento, conforme contamos anteontem (clique aqui).

Foi exatamente o Atlanta, clube que revelara Biasutti e o técnico Griguol, o líder da chave, ainda que pelos critérios de desempate. O Bohemio teve o artilheiro do torneio, Juan Gómez Voglino, e um dos terceiros, empatado com Kempes: Rubén Cano, depois ídolo do Atlético de Madrid e jogador da Espanha na Copa de 1978 (a Furia só se classificou por um gol dele na Iugoslávia em Belgrado).

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O gol do título, de Cabral sobre o San Lorenzo no Monumental; e o volante Aimar festejado por colegas

Os resultados mais decisivos vieram com os concorrentes diretos: em casa, o Central fez 4-0 no Belgrano (rara goleada) de Córdoba e 1-0 no Huracán, que terminaram dois e um ponto atrás, respectivamente. O 1-1 fora de casa no Clásico Rosarino também foi providencial, assim como o 0-0 em Buenos Aires com o Argentinos Jrs na última rodada.

O quadrangular, envolvendo ainda River e San Lorenzo, também foi em turno único e com jogos em campo neutro. O Central se sobressaiu logo de cara: 3-1 no River, gols de Cabral, Bóveda e um contra de Juan José López, e praticamente pôs a mão na taça ao dar o troco no Atlanta em Buenos Aires: 2-0, com Solari e Aimar. Ao fim deste jogo, a torcida canalla já cantava “já se vê, já se vê, Griguol e seu balé”.

Na última rodada, San Lorenzo e Atlanta, que empataram entre si na primeira e perderam na segunda, não tinham chances. E os rosarinos poderiam empatar. E até perder, se o River não vencesse. Como ninguém venceu (o River ficou no 2-2 e o Central no 1-1; teria até vencido, mas sofreu um gol no fim), a taça voltou a Rosario, campeão aliás no próprio estádio do River, escolhido como o campo neutro para seu jogo contra o San Lorenzo (de novo ele) naquela antevéspera de ano-novo, em 29-12-1973…

FICHA DA PARTIDA – San Lorenzo: D’Alessandro; Sánchez, Rezza, Olguín e Piris; Pitarch, Telch e García Ameijenda (Maletti); Scotta, Veira (Figueroa) e Ortiz. T: Juan Carlos Lorenzo Rosario Central: Biasutto; González, Pascuttini, D. Killer e Burgos; Aimar, Solari e Poy; Bóveda, Cabral e Giribet. T: Carlos Griguol Árbitro: Ángel Coerezza. Gols: 0-1 Cabral (19/1º) e Scotta (38/2º)

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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