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50 anos de Laudrup: Argentina e Dinamarca só fizeram finais

Maradona Laudrup
Por seleções, Laudrup e Maradona infelizmente só se enfrentaram no showbol

Em uma pausa em meio à nossa cobertura na Copa, vamos celebrar o maior astro de uma seleção ausente: Michael Laudrup, maior jogador dinamarquês da história, fez meio século ontem. Raro ídolo de Barcelona e Real Madrid, já foi escolhido pelo ex-colega Romário como um dos integrantes do time dos sonhos do Baixinho. Sua Dinamarca e a Argentina só se enfrentaram duas vezes até hoje, ambas as vezes valendo título. As duas, nos anos 90. Sem enfrenta-lo e com Maradona, a Albiceleste venceu, no último troféu de Dieguito pela seleção. No inverso, a taça foi nórdica.

O primeiro confronto foi em 24 de fevereiro de 1993, em Mar del Plata. Foi pela Copa Artemio Franchi, extinto tira-teima entre o campeão da Copa América e o da Eurocopa. Maradona, que já havia jogado uma semana antes contra o Brasil em amistoso pelos cem anos da AFA, voltava novamente, após a suspensão de um ano e meio por doping para cocaína em 1991 (Caniggia, que logo depois seria suspenso pelas mesmas razões, também jogou). Os dois jogos não convenceram o técnico Alfio Basile a levá-lo meses depois à Copa América 1993 e El Diez só estaria de volta nas repescagens à Copa 1994: veja aqui.

Eram anos dourados à seleção. Campeã em 1978 e em 1986, parecia que o ritmo de título a cada oito anos seria mantido para 1994. Ficou mais de 30 jogos invicta após ser vice na Copa 1990, mais que a celebrada Espanha recente. E sem os suspensos Maradona e Caniggia na maior parte dos jogos – a Argentina seria campeã da Copa América 1993 sem eles também, seu último troféu até hoje (leia aqui). Mas a Dinamarca não podia ser subestimada: na casa da rival Suécia, vencera a Euro 1992 batendo na decisão a campeã do mundo, a recém-reunificada Alemanha. E sem Michael Laudrup, que estava brigado com o técnico Richard Møller Nielsen – quem esteve lá foi seu irmão Brian.

E mesmo ainda sem ele de volta naquele 24 de fevereiro de 1993 e enfrentando Maradona, os escandinavos deram trabalho. Chegaram a estar à frente no placar após Craviotto marcar bisonhamente contra, fuzilando em cabeceio após cobrança de falta no que seria um golaço se fosse a favor. Em casa, os hermanos só conseguiram empatar. Simeone puxou um contra-ataque, Caniggia e Batistuta se abriram pelos flancos, Bati recebeu e chutou cruzado, com Cani completando de carrinho.

Artemio Franchi
Maradona comemorando um título pela última vez com a Argentina

Após prorrogação, veio a decisão por pênaltis. A Dinamarca tinha Peter Schmeichel, outro ícone e um dos maiores goleiros dos anos 90, que pegou uma cobrança, justo a última da série inicial, de Caniggia bem no canto esquerdo. Se convertida, daria logo o título aos argentinos, cujo especialista Sergio Goycochea segurara a quarta dinamarquesa ao saltar à direita. Mas Goyco pegou também logo a primeira das alternadas, novamente saltando à direita, e um tiro de fuzil de Saldaña alto e forte demais para as mãos quase certeiras de Schmeichel alcançarem garantiu o último título de Maradona (que cobrou muito bem o primeiro pênalti dos argentinos, no canto direito) com o manto alviceleste.

Paralelamente, um outro torneio a reunir campeões continentais nascia, mais abrangente: a Copa Rei Fahd, a reunir na Arábia Saudita do tal rei (cujo nome batiza a maior mesquita da América Latina, em Buenos Aires, no bairro de Palermo) as seleções campeões continentais; só faltou a da Oceania. Foi o torneio embrião da Copa das Confederações, que receberia chancela da FIFA a partir de 1997. A Argentina já havia vencido a edição inaugural, em 1992, sobre os próprios sauditas.

Em 1995, o formato previu dois triangulares. Em um, a Dinamarca ainda como vencedora da Euro 1992, a anfitriã Arábia Saudita e o México, campeão da CONCACAF. Michael Laudrup já estava de volta, mas, sem Schmeichel, os nórdicos tiveram trabalho: só avançaram após derrotarem os mexicanos nos penais (ambos ficaram no 1-1 após vencerem por 2-0 os sauditas), com Mogens Krogh, o substituto do goleirão, se sobressaindo e pegando os de Marcelino Bernal e Luis García.

No outro, dos argentinos com a campeã africana Nigéria e o vencedor asiático Japão, os nipônicos foram massacrados: 3-0 para os africanos e 5-1 para os argentinos, com dois de Batistuta, um de Ortega, um de Chamot e outro de Rambert, artilheiro do bom Independiente da época e que chegou naquele ano à Internazionale mais credenciado que o compatriota Javier Zanetti (que também estava no torneio). Com melhor saldo, o 0-0 com a Nigéria pôs os hermanos na decisão.

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Michael Laudrup recebendo da monarquia saudita a taça de 1995, sua única pela Dinamarca

Ausente da Euro 1992 e da Artemio Franchi, Michael Laudrup só ficou 26 minutos em campo, tempo suficiente para “corrigir” a injustiça histórica: antes do dez minutos de jogo, marcou de pênalti após armar jogada para Høgh, derrubado por Bassedas na grande área. A quinze minutos do fim, a Dinamarca matou o jogo. Brian Laudrup venceu a corrida com Fabbri pela lateral-esquerda e passou para Rasmussen anotar os 2-0 naquele 10 de janeiro. Chamot ainda seria expulso no fim – o árbitro, o emiratense Bujsaim, era o mesmo que mostraria o cartão vermelho a um Caniggia no banco de reservas na Copa 2002. Já Michael Laudrup enfim pôde ser campeão pela única vez por seu país.

Laudrup e a Argentina poderiam ter se cruzado em duas semifinais de Copas: em 1986, Maradona & cia passaram pela Bélgica, que eliminaram nas quartas a Espanha, que por sua vez havia tirado a Dinamáquina nas oitavas. Já em 1998, se enfrentariam nessa fase caso não fossem eliminados por Holanda e Brasil nas quartas. Abaixo, fichas e vídeos das finais de 1993 e 1995:

ARG: Sergio Goycochea, Néstor Craviotto (Julio Saldaña), José Borelli, Sergio Vázquez e Ricardo Altamirano, Diego Simeone, Alejandro Mancuso, Leo Rodríguez (Darío Franco) e Diego Maradona, Claudio Caniggia e Gabriel Batistuta. T: Alfio Basile. DIN: Peter Schmeichel, Lars Olsen, Marc Rieper, Jakob Kjeldberg, Torben Piechnik (Brian Steen Nielsen), Johnny Mølby, Bjarne Goldbæk, Kim Vilfort, Henrik Larsen (Michael Larsen), Brian Laudrup e Lars Elstrup. T: Richard Møller Nielsen. Árbitro: Sándor Puhl (HUN). Gols: Craviotto (contra, 12/1º) e Caniggia (30/1º). Pênaltis: Elstrup, Maradona, Mølby, Batistuta, Brian Nielsen e Simeone acertaram. Goycochea pegou o de Vilfort, Mancuso e Brian Laudrup acertaram e Schmeichel pegou o de Caniggia. Nas alternadas, Goycochea pegou o de Goldbæk e Saldaña acertou.

ARG: Carlos Bossio, Roberto Ayala, José Chamot, Néstor Fabbri e Javier Zanetti, Alejandro Escudero, Rubén Jiménez (Gustavo López 20/2º), Christian Bassedas e Ariel Ortega, Sebastián Rambert (Marcelo Espina 30/2º) e Gabriel Batistuta. T: Daniel Passarella. DIN: Mogens Krogh, Jacob Friis-Hansen, Marc Rieper, Jes Høgh e Michael Schjønberg, Brian Steen Nielsen, Jacob Laursen (Jens Risager 16/2º), Jesper Kristensen e Michael Laudrup (Morten Wieghorst 26/1º), Brian Laudrup e Peter Rasmussen. T: Richard Møller Nielsen. Árbitro: Ali Bujsaim (EAU). Gols: Michael Laudrup (8/1º) e Rasmussen (30/2º).

httpv://www.youtube.com/watch?v=NUPCwX8UxGY#t=232

httpv://www.youtube.com/watch?v=6620r3jrn9s

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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