Especiais

Antecessores dos 5 gols de Messi em uma partida pela Argentina jogaram juntos pela seleção

Era a Estônia a seleção surrada por 5-0, é verdade, mas cinco gols de Messi em um só jogo somente se viu uma outra vez (até agora), no 7-1 do seu Barcelona sobre o Bayer Leverkusen em março de 2012, pela Liga dos Campeões. Pela seleção, é preciso voltar oitenta anos no tempo para os dois antecedentes de um novo recorde de La Pulga. Apenas em outras duas vezes a Argentina viu um jogador, ao menos em jogos oficiais da Albiceleste, marcar cinco vezes em uma só partida.

A vítima dos dois foi a mesma, um Equador ainda incipiente, que levou de 6-1 na Copa América de 1941 e de 12-0 na Copa América de 1942, precisamente os dois primeiros duelos entre os dois países. Os 6-1 inclusive viram lado a lado precisamente os dois antecessores de Messi: Juan Marvezy anotou ali seus cinco gols, em placar fechado por José Manuel Moreno, que faria seus cinco nos 12-0 – que, por sua vez, ainda são a maior goleada aplicada pelos argentinos e na época foi tratada como demonstração de respeito ao adversário e não tanto de humilhação, que para os padrões daquele tempo estaria configurada se os hermanos se poupassem.

Em 2016, o Futebol Portenho publicou Especiais alusivos à dupla, pelos 75 anos da marca então inédita de Marvezy e depois pelos 100 anos que Moreno completaria se ainda vivesse. Eles também foram relembrados graças a Messi em 2021, quando a artilharia de Lionel na Copa América nos fez listar os outros argentinos constantes na lista de goleadores do torneio: Marvezy, curiosamente, só anotou gols na edição de 1941 naquela partida contra os equatorianos, que bastou para fazê-lo goleador daquele torneio.

Moreno, por sua vez, acumulou sete na edição de 1942. Também foi o artilheiro, ao lado do colega Herminio Masantonio – incrivelmente, ainda assim Argentina terminou vice, com o Uruguai conseguindo fazer valer o fator casa. Na imagem que abre a matéria, Marvezy é o da esquerda e Moreno, o da direita – abaixo, a fotografia completa, registrando a Argentina campeã da Copa América de 1941. Na legenda, pode-se clicar em Especiais do Futebol Portenho dedicados a outros componentes daquela seleção, que tinha de treinador o artilheiro da primeira Copa do Mundo (Stábile) e um dos primeiros e maiores ídolos do São Paulo (Sastre).

O técnico Guillermo Stábile, José Salomón, Sebastián Gualco, José Minella, um delegado, Bartolomé Colombo, Jorge Alberti, Roberto Sbarra e o massagista Chichilo Sosa; Adolfo Pedernera, Antonio Sastre, Marvezy, Moreno e Enrique García

A seguir, os links para acessar os Especiais dedicados precisamente a Marvezy e Moreno:

75 anos do recorde individual de gols em uma só partida pela Argentina: os 5 de Marvezy

Marvezy não foi craque de um jogo só. Pela Argentina, somou oficialmente nove gols em nove jogos e conseguia ser convocado mesmo brigando contra o rebaixamento: é até hoje o maior artilheiro da história do modesto Tigre, onde computou 116 gols em 173 partidas. Mas entrou rapidamente em declínio ao ver sua mulher abandona-lo para viver com um ex-colega de clube – Mauro Icardi e Maxi López não inventaram a roda, brutal para a cabeça de Marvezy em tempos muito mais machistas e patriarcais (e menos lucrativos) do futebol. Ele terminou seus dias como um gari entregue ao alcoolismo. Sua memória segue intacta no Tigre: em abril desse 2022, torcedores tigrenses se uniram para adquirir no eBay a medalha de artilheiro da Copa América de 1941 com a qual ele fora premiado: clique aqui.

100 anos de Moreno, maior jogador argentino da 1ª metade do século XX

Ainda nos anos 90, muitos hermanos mais antigos seguiam lúcidos para jurarem que Moreno teria sido ainda melhor que Di Stéfano e Maradona, normalmente os argentinos que rivalizavam pelo posto de máximo craque do país. Artilheiro e malabarista, El Charro foi exatamente até os anos 90 o único jogador campeão em quatro países diferentes, em tempos muito menos globalizados do futebol – e sem torneios internacionais oficiais, fazendo dos certames nacionais a glória clubística máxima. Tinha bola para jogar as Copas de 1938 (para a qual foi convocado), 1942, 1946 e 1950, mas fatores extracampo (seja da federação em 1938 e em 1950, seja da Segunda Guerra Mundial nas outras duas) impediram que os outros continentes assistissem o craque.

Presente na primeira conquista chilena da Universidad Católica e na primeira taça colombiana do Independiente Medellín, tais feitos se ofuscam pelo Moreno que produziu no River… mesmo sendo torcedor assumido do Boca. Era um dos ícones de La Máquina, o célebre timaço riverplatense dos anos 40. Não deixou de defender o time do coração (já no fim da carreira) e foi precisamente o único jogador entre os anos 10 e os anos 70 a conseguir jogar pela seleção vindo da dupla. Por ela, marcou três gols em um 5-1 em São Januário sobre o Brasil em 1939, pior derrota brasileira em casa até os 7-1. Ele também ainda é o único a trabalhar como jogador e como treinador no Boca, no River e na seleção argentina. As três principais camisas do país.

Lance de um dos cinco gols de Moreno nos 12-0 sobre o Equador em 1942

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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