Arquivo

Blog FP: River na Promoción – uma ironia da história

É inquestionável que ao jogar a Promoción o River Plate vive o momento mais delicado de sua história. Mas também é um momento que pode ser descrito como uma espécie de vingança histórica. Afinal, o sistema de promédios parece ter sido o caso típico da criatura que se voltou contra o criador.

O esdrúxulo sistema de promédios só tem um sentido: ajudar os grandes. Afinal, uma temporada ruim pode ser compensada com outras duas melhores. Parte do princípio de que é improvável que um gigante do futebol argentino possa realizar várias campanhas ruins em seguida. No entanto, quis o destino que o River Plate, de boa campanha na atual temporada, se veja na Promoción, exatamente como já ocorreu com vários outros times pequenos.

Com 57 pontos na temporada 2010/2011, o River só ficou atrás de quatro equipes no cômputo geral: Vélez Sarsfield (82), Estudiantes (69), Lanus e Godoy Cruz (ambos com 63). Jamais estaria na Promoción se não fosse o sistema de promédios. Sem ele, estariam rebaixados Huracán (30) e Gimnasia (33), enquanto Quilmes (39) e Newell’s (42) estariam na Promo.

Esses números indicam duas coisas. Em primeiro lugar, deve-se evitar jogar a culpa pelo momento do clube nas costas dos que lá estão atualmente.  Dirigentes, treinadores e jogadores da atual temporada não foram os maiores responsáveis por colocar a equipe na situação que está. Muito pelo contrário. Fizeram uma campanha que, em um regulamento digno, levaria o clube à Libertadores, e não à Promoción.

Mas há a questão da justiça histórica. O sistema de promédios foi criado em 1983 para salvar o River, que vítima de uma greve de jogadores, terminou o Metropolitano daquele ano na penúltima posição, e se encaminhava para o rebaixamento. Com esse sistema, a AFA livrou o River e pensava ter assegurado que nenhum grande jamais passaria pelo dissabor de visitar a B Nacional.

Mas as coisas não foram bem assim. Ao final daquele mesmo ano o Racing cairia, se transformando no segundo grande a descender na era profissional (o outro foi o San Lorenzo, em 1981). Mas a AFA seguiu com o sistema, e agora a história faz justiça. O mesmo clube que gerou a criação desse sistema indefensável agora sofre com ele.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

3 thoughts on “Blog FP: River na Promoción – uma ironia da história

  • Caio Brandão Costa

    Cara, tenho uma El Gráfico do ano passado (maio, capa com Tévez) que sustenta que os promedios não foram feitos especificamente para o River naquele ano. Até a usei como fonte no verbete de Enzo Francescoli, que reformulei para destaque na wiki. Vou colocar na íntegra:

    “Tampoco hay que confundir lo que ocurrió con el revival de los promedios en 1983. El sistema no se utilizó para salvar a River, como se comenta socarronamente. La sucesión de hechos marca que el primer grande (San Lorenzo) se fue a la B a mediados de 1981 y, por ese motivo, el Comité Ejecutivo propuso el 22 de diciembre de ese año la creación de los promedios. De este modo, se minimizaba el riesgo de una mala campaña. En la Asamblea del 15 de abril de 1982 se oficializó la idea y se propuso que el sistema entrara en vigor a partir del Metro 83. River terminó anteúltimo, superó en los promedios a Platense, Racing y Chicago, pero en ningún momento penó por la permanencia, ya que faltando 10 fechas navegaba por la mitad de la tabla y se desbarrancó el cierre, cuando no pudo ganar en las 7 jornadas finales, com 5 caídas y 2 empates.”

    A AFA, de fato, quis evitar que ocorressem novos descensos de grandes, mas, repetindo, não teria agido com vistas específicas à campanha de 1983 do River, pois o próprio time teve uma campanha que, embora bem ruim (para um grande), foi tranquila (lógico que por causa do promedio). A situação de que o time vinha em péssima situação a ponto de a entidade intervir e implantar o sistema apenas para salvá-lo, de acordo com a matéria, seria meio que uma lenda urbana.

    O tiro de AFA, já acertado previamente àquele torneio de 1983, sairia, é verdade, pela culatra, com a queda do igualmente grande Racing. Mesmo assim, de acordo com a matéria, o único a levantar uma discussão séria naquele ano para desfazer os rebaixamentos foi um deputado federal ligado… ao Nueva Chicago mesmo. “No fue acompañado pese a que, junto a Chicago, descendía Racing”.

  • Tiago Melo

    Gracias pela atenção, Caio. Olha só, eu já ouvi essa historia tambem, mas de toda forma, mesmo que seja assim o fato é que o River nao caiu naquela ocasiao por causa do Promedio. E agora pode cair por causa dele. Me parece bastante lógico que na verdade o sistema tenha sido pensado a partir do descenso do San Lorenzo, inclusive.

  • Caio Brandão da Costa

    Correto, mas, por outro lado, tem de se levar em conta que o promedio já estava previamente agendado, de forma que o time não viu lá tanto perigo em relaxar na reta final. Se não houvesse promedios naquele ano, creio que o time teria, com toda a certeza, mais motivação para fazer uma campanha menos desleixada… isso pode valer também para aquele Apertura em que o time terminou em último logo após ter sido campeão.

    Mas, enfim, de fato virada de mesa que um dia se volta contra os beneficiados é uma coisa bem justa. Hehe. Só queria ressaltar que não foi apenas pelo River que criaram esse sistema…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

17 + 6 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.